Marcus Pinheiro
22/01/2017 01:14 - Atualizado em 23/01/2017 16:20
“Au-au! Onde é que a gente está? Que lugar é este? O que está acontecendo? Por que você fechou a porta e eu fiquei do lado de fora? Abra, eu quero entrar! Por que você está me olhando assim? Ei, onde é que você está indo? Au-au! Não! Não me deixe aqui sozinho! Volte! Estou ficando com muito medo! Au-au! Não! Não me abandone! Não me deixe para trás!”. Caso pudessem expressar verbalmente seus sentimentos, talvez fosse este o relato de um dos cerca de 30 milhões de animais domésticos em situação de abandono efetivo ou afetivo no Brasil, como revela estimativa recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta, ainda, um crescimento acentuado do abandono no período das férias.
Na expectativa de absolvição do ato de crueldade, o animalzinho ainda poderia justificar a sua permanência no seio familiar da seguinte forma: “Sei que, vez ou outra, eu apronto alguma bagunça. Mas tudo o que faço é apenas para chamar a sua atenção. Vivo em função de ti! Peço que perdoe meus excessos e não se preocupe com o espaço que diminuiu. Eu posso viver bem em um kitnet. Acredite! Prometo não mais mordiscar paredes (aquelas que você põe pimenta na tentativa de me repelir), a única roseira do jardim, minhas casinhas novas e muito menos o seu carro. Também me comprometo a não ser agressivo com os outros animais, em nossos passeios matinais. Está certo, você me conhece bem e sabe que, talvez, eu não consiga cumprir todas estas promessas. Mas uma coisa lhe peço e, outras duas, lhe garanto: Não desista de mim! Vou lhe amar incondicionalmente por toda a minha vida e nunca vou lhe abandonar! Au-au!”. No entanto, muitas vezes em virtude da falta de sensibilidade de “papais” e “mamães”, o apelo intuitivo e subliminar do pet em permanecer junto à família não é levado em consideração, e o animal acaba nas ruas ou em lares desconhecidos.
De acordo com o médico veterinário Saulo Quina, os principais motivos do abandono de animais domésticos são: tutores que viajam ou mudam de residência, deixando o pet para trás; falta de conhecimento adequado a respeito da personalidade, comportamento e necessidades do animal; rejeição à fêmea com filhotes ou ainda aos de idade elevada ou doentes. Segundo o especialista, o abandono, seja ele efetivo (em locais públicos) ou afetivo (doação de cães adultos entre famílias diferentes), pode resultar em danos físicos, emocionais e até a morte do pet. “Esta ruptura de convívio afetivo expõe o pet a diversos malefícios. Os riscos vão desde a possibilidade de maus-tratos e ataques de outros animais até a geração de um quadro depressivo no pet. Em casos mais agressivos de depressão, o animal deixa de comer e pode vir a óbito”, disse o médico veterinário.
Guarda responsável
Para a coordenadora do Protetores Amigos de Todos os Animais (Pata), Marcelle Almeida, é relevante conscientizar a população quanto à importância da “guarda responsável”. Segundo ela, ao adquirir um animal de estimação, o indivíduo deve se preparar, tomando alguns cuidados necessários para a preservação da saúde e felicidade do seu pet. “Vale lembrar, que além de ser um ato de crueldade, abandonar animais em espaços públicos é crime, conforme as leis vigentes. Infelizmente, milhares de animais se encontram nesta situação, que se agrava ainda mais no período de férias. Nestes meses, as estimativas de abandono animal registram aumento de 50% em relação a outros meses do ano. Por isso, é muito importante ter consciência da responsabilidade. Respeito e amor pelo seu filhinho de quatro patas”, declarou Marcelle.
Distante do triste mundo onde os pets sofrem maus-tratos e abandono, está a médica Dayana Baptista, de 31 anos. “Mãe” dos jovens Lion, de três anos, e Tigor, de dois, ela não admite a ideia de deixá-los para trás. Segundo Dayana, “pets são como filhos” e devem ser acolhidos, cuidados e amados: “Eles são meus filhos! Jamais, em hipótese alguma, os abandonaria. Lá em casa, é tudo planejado pensando neles. O espaço, as viagens, os passeios, tudo mesmo. Eles são pura emoção em minha vida! Me oferecem amor gratuito em tempo integral e, de quebra, ainda são excelentes guarda-costas. Ame seu pet, e, assim, ele te dará o seu coração e o amor mais puro dessa vida!”