A Câmara de Campos voltou com tudo, e se o ritmo da última quarta-feira (15) seguir o mesmo fica difícil de imaginar que o clima de pacificação pregado pelos grupos dos Garotinho e Bacellar vai resistir por muito tempo. O que se viu no plenário da Câmara, com oposição e situação em conflitos bem semelhantes aos de 2022, pode desencadear em um biênio lamentável como foi o anterior, com mais confusão do que resultados à população. Antes da eleição de vereadores de oposição para a Mesa Diretora, com Marquinho Bacellar na presidência e a promessa de pacificação, o Legislativo vinha marcado por discussões acaloradas, pautas trancadas e ameaça de perda de mandato de vereadores.
Se o que o público pôde acompanhar na última quarta já é desanimador, o que tem rolado nos bastidores coloca ainda mais em xeque a tal governabilidade pelo bem dos campistas prometida no acordo feito entre o prefeito Wladimir Garotinho (sem partido) e o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (PL), costurado pelo governador Cláudio Castro (PL). Tanto Wladimir, quanto Rodrigo, ao marcarem presença na posse da nova Mesa Diretora, garantiram que se “entenderam em prol de Campos”. Também naquela ocasião, Marquinho já tinha adiantado o recado: “Wladimir, a gente não precisa morrer de amor, mas precisa se respeitar. Ainda temos dois tempos para reconstruir a história da nossa cidade. O momento de briga passou”.
Mas não foi o que rolou na sessão de quarta, que começou com atraso após vereadores da situação decidirem tentar convencer Marquinho a pautar um projeto para a Saúde enviado pelo prefeito Wladimir, em regime de urgência, alegando que pode até voltar medicamento no Carnaval, como mostra matéria na página 2 desta edição. Marquinho não gostou de ser responsabilizado pelos vereadores pelo problema. “Estamos atropelados aqui durante dois anos por movimentos iguais, de projetos chegarem em cima da hora que disseram ser bom para a população e acabou sendo ruim. Um projeto para chegar aqui terá um prazo mínimo de 15 dias para ser avaliado e bem discutido antes de chegar à pauta”.
O discurso de que o projeto com cerca de 100 páginas não dava para ser avaliado em tão pouco tempo foi ampliado por outros vereadores da oposição. No entanto, o prefeito e sua base afirmam que o projeto não teria sido tão surpresa assim, pelo menos para o presidente da Casa, que, segundo eles, sabia da urgência solicitada pelo prefeito e o teor do projeto. Marquinho, por outro lado, teria informado ao prefeito sobre a necessidade da publicação de uma resolução do Legislativo, no Diário Oficial do município, o quanto antes, autorizando a suplementação de R$ 1,2 milhão à Câmara na Lei Orçamentária Anual (LOA). O projeto de resolução foi aprovado na quarta e, com a insatisfação de Wladimir, a dúvida era quando a publicação aconteceria.
Ainda na noite de quarta, o prefeito não escondeu o seu descontentamento com o presidente da Câmara e os demais opositores, não poupando nem seus aliados. Se referindo à recusa do seu projeto na pauta, ele disparou que para a Câmara “era mais importante aprovar um projeto de resolução para direcionar verba de R$ 25 mil para cada gabinete de vereador, do que votar, em caráter de urgência, um projeto para não faltar medicamento para a população”. Wladimir não especificou se a resolução do Legislativo a qual se referiu é a mencionada acima em referência à LOA, mas, na ocasião, não garantiu se publicaria a aprovação dela. Como um sinal que o clima pode estar um pouco melhor, saiu na quinta um Diário Oficial suplementar com a resolução, já que, com o recesso de Carnaval, poderia ficar só para a próxima quinta-feira (23).
A publicação aconteceu instantes depois de o prefeito fazer uma reunião de emergência com os vereadores que compõem a sua base para avaliar tudo o que rolou na Câmara e decidir, em conjunto, os próximos passos. Na sua sustentação, oficialmente, Wladimir conta com 11 vereadores e apenas Edson Batista não esteve no encontro. O teor da conversa está sendo guardado a sete chaves, mas uma fonte disse que os ânimos ficaram mais calmos. Nos bastidores, já se fala que na base do prefeito há 13 nomes dos 25 vereadores. No entanto, na sessão de quarta foi entregue um documento assinado por 13 vereadores informando que Anderson de Matos é o líder da oposição e independentes. Abdu Neme (Avante) e Nildo Cardoso (União), que já são dados como certo na base assinaram esse documento para a liderança de Matos.
Saiu de Nildo a indicação ao comando da Empresa Municipal de Habitação (Emhab) no governo de Wladimir Garotinho, o que desagradou quem já estava na base do prefeito e não aceita que se dê mais espaço a quem não se defina como situação. Nos bastidores, a informação é que a recusa ao projeto do prefeito na quarta é também uma pressão dos aliados do Bacellar por cargos no governo que ainda não chegaram. Os políticos de oposição ainda lutam para ficar com o comando das pastas de Trabalho e Renda, Meio Ambiente e a Fundação Municipal de Esportes. Um namoro, como já mostrado nesta coluna, que já foi ensaiado no início do governo Wladimir, vinculado ao apoio no segundo turno da eleição de prefeito, mas que não deu certo e resultou em todo o racha na base.