O ex-prefeito de Campos Rockfeller de Lima morreu no final da madrugada desta segunda-feira (21), aos 90 anos. A causa da morte não foi divulgada. O corpo foi velado no cemitério Campo da Paz e o sepultamento aconteceu à tarde, em Travessão, localidade onde nasceu. Rockfeller estava internado havia 20 dias no Hospital da Unimed, onde morreu às 5h desta segunda. Ele não tinha filhos e deixa a esposa, Ely. O atual prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, decretou luto oficial de três dias. Outros políticos e amigos lamentaram a perda.
Comoção e o reconhecimento a uma história de vida pública marcaram o adeus ao ex-prefeito de Campos. Antes, o cortejo fúnebre, que saiu do cemitério do Campo da Paz, percorreu alguns pontos da cidade, incluindo o Palácio da Cultura, obra marcante da gestão dele. Casada com Rockfeller há 62 anos, Ely se uniu aos demais amigos e familiares do seu marido até as últimas orações antes do sepultamento. Muito emocionada, falou da despedida ao companheiro de uma vida inteira. “Foi uma vida (de casados) tranquila. Ele era muito educado, um companheiro”.
Rockfeller Felisberto de Lima começou sua trajetória política como membro da Federação dos Estudantes de Campos. Cursou Direito na Faculdade de Direito de Vitória (ES), onde foi diretor do Centro Acadêmico Clóvis Bevilácqua e se destacou como orador.
Ingressando na política, elegeu-se vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1958, com 23 anos. Foi presidente da Câmara Municipal em 1962, ano em que sua notoriedade como orador e articulador político rendeu-lhe a vaga de vice-prefeito, elegendo-se juntamente com o prefeito João Barcelos Martins, do Partido Social Progressista (PSP), que exerceria seu segundo mandato. Com a morte de Barcelos Martins, em 11 de abril de 1964, Rockfeller de Lima assumiu o cargo como titular.
Em 1966, Rockfeller ingressou na Arena, partido que defendia o governo militar. Deixou o cargo de prefeito, se candidatou e se elegeu deputado federal. Na Câmara dos Deputados, Rockfeller foi membro da Comissão de Justiça e Economia.
Em 1970, a Ditadura Militar mudou a lei com o objetivo da não coincidência dos mandatos, criando o que foi denominado “mandato tampão”, de apenas dois anos, para as prefeituras. Rockfeller de Lima candidatou-se novamente a prefeito e venceu a eleição pelo MDB. Nesse mandato de dois anos, construiu o Palácio da Cultura.
Em 1974, candidatou-se a deputado estadual e se elegeu. Concorreu novamente a prefeito em 1976 e perdeu a eleição para Raul David Linhares Corrêa, também da Arena. Reelegeu-se deputado estadual em 1978. Em 1982, após a abertura política e a criação de novos partidos, com o fim da Arena e MDB, candidatou-se pelo PDS e se elegeu mais uma vez deputado estadual. Naquela oportunidade, presidiu a Comissão de Agricultura e foi eleito primeiro vice-presidente da Comissão Executiva da ALERJ.
Em 1988 tentou mais uma vez chegar à Prefeitura pelo PFL, mas perdeu novamente, desta vez, para Anthony Garotinho, do PDT. Rockefeller ainda exerceria o cargo de Secretário de Planejamento do INSS, tendo, em sua gestão, duplicado o número de agências no Brasil. Nas décadas de 1970 e 1980 foi Procurador Geral do INSS, aposentando-se no cargo.
A Câmara de Vereadores de Campos concedeu-lhe, em 1995, a Ordem do Mérito Benta Pereira, proposta do vereador Edson Coelho dos Santos.
No ano de 2006, exerceu o cargo de secretário municipal de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia.
Políticos e amigos lamentam morte de Rockfeller
A morte de Rockfeller foi lamentada por amigos e políticos da cidade. O atual prefeito de Campos, Wladimir Garotinho, decretou luto oficial. "Faleceu hoje (segunda) o ex-prefeito de Campos, Rockfeller de Lima. A toda sua família e amigos desejo muita força e paz. A Prefeitura irá decretar luto oficial, em justa homenagem por seus serviços prestados à nossa cidade", declarou Wladimir, em postagem feita nas redes sociais.
A diretora-presidente do Grupo Folha de Comunicação, Diva Abreu Barbosa, destacou a construção do Palácio da Cultura, como um dos marcos da gestão de Rockfeller enquanto prefeito de Campos. "Ele foi uma pessoa elegante, na arte da política. Uma pessoa do bem. Aparentemente não tinha inimigos, talvez pelo modo de ser cordial. Foi um grande gestor. E um dos grandes feitos foi a construção do Palácio da Cultura, trabalho feito ao lado do arquiteto genial Francisco Leal. Apostar em cultura naquela época não era muito uma aptidão política, como não é até hoje, mas ele apostou e deixou esse presente muito importante para Campos, cujo espaço abriga o Pantheon dos Heróis Campistas que guarda os restos mortais de José do Patrocínio e outras figuras de destaque da história local. Morreu um político que era um lord inglês, no trato pessoal e político", comentou.
O jornalista e diretor de redação da Folha da Manhã, Aluysio Abreu Barbosa, lembrou das contribuições de Rockfeller para Campos: "Conheci Rockfeller Felizberto de Lima pessoal e profissionalmente. Guardarei a lembrança do homem público afável, simpático e atencioso no contato social, de fala e riso fácil. Não recordo dele como prefeito de Campos, mas cresci e me desenvolvi em meio a uma das suas maiores contribuições à cidade: o Palácio da Cultura, construído em 1973, em um tempo sem a fartura dos royalties do petróleo. Que deu vida ao projeto inovador e ainda vanguardista do hoje também falecido arquiteto Francisco Leal. Valesse a instituição do segundo turno no ano da sua aprovação na Constituição de 1988, que só vigoraria a partir das eleições de 1989, teria sido eleito no ano anterior prefeito de Campos, no lugar de Anthony Garotinho, quando este conquistou seu primeiro mandato no comando da cidade. O que teria reescrito a história goitacá, talvez radicalmente, até nossos dias. Mas é como escreveu Álvaro de Campos, heterônimo do mestre luso Fernando Pessoa: 'Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?/ Será essa, se alguém a escrever,/ A verdadeira história da humanidade'. Ainda assim, pelo que de fato fez, é um credor do município que governou duas vezes. Vá em paz, Rock!".
O presidente da Câmara de Campos, Fábio Ribeiro, falou sobre o ex-prefeito: "Rock o lutador. Homem público exemplar que demonstrou o seu viés pela Coisa Pública, principalmente, como prefeito e presidente da Câmara de Vereadores. Cumpriu com dignidade o seu papel".
O deputado estadual Rodrigo Bacellar disse que Rockfeller deixou marcas em vários sentidos: "Um político que deixou marcas em vários sentidos. Tanto com obras, como o Palácio da Cultura, e também a marca do diálogo e da serenidade. Governou Campos em um tempo sem royalties e se mostrou um grande realizador, unindo a sociedade em torno da sua gestão".
O ex-deputado Geraldo Pudim também falou sobre Rockfeller: "Rockfeller sempre foi um político reconhecidamente gentil. De todas as suas obras, a mais importante para mim era sua grande capacidade de ouvir as pessoas, uma grande referência política, pessoal e familiar. Deus conforte o coração dos familiares e amigos".
Ex-prefeito de Campos, Rafael Diniz também prestou condolências: "Um político elegante, grande orador. Foi durante muitos anos adversário, mas nunca inimigo do meu avô (o ex-prefeito Zezé Barbosa, falecido em 2011). Eles sempre se respeitaram e levei comigo esse respeito e admiração pelo nosso querido Rock. Ficam os exemplos, lembranças e legado desse grande ser humano e gestor público".
Outro ex-prefeito, Sérgio Mendes destacou a contribuição de Rockfeller para o amadurecimento político de Campos. "É uma perda muito grande para Campos. Foi um homem público que realizou muitas obras para o município, que deu a sua contribuição para a democracia e para o processo de amadurecimento político da cidade. Cidadão de bem, uma pessoa tranquila, amiga, do diálogo. É uma grande perda para Campos", afirmou.
O ex-prefeito Roberto Henriques falou da lição deixada por Rockfeller. "Rockfeller foi fruto de uma das mais importantes Escolas de Formação de Lideranças, que era em tempos passado, a FEC (Federação dos Estudantes de Campos). Eu e Rockfeller nunca fomos correligionários, sempre em lados opostos, mas somos de um tempo no qual tínhamos adversários, não inimigos políticos, prática que faz muita falta nos dias de hoje. Veja bem: mesmo não pertencendo ao mesmo grupo político, frequentei seu apartamento no Salete e sua sala de sinuca em Grussaí. Rock nos deixa uma lição de urbanidade política e respeito ao contraditório... Rock fez política sem ódio. Impossibilitado de estar presente nas últimas homenagens, envio um abraço de solidariedade a Dona Ely, familiares e amigos", disse.
Ex-prefeito e ex-presidente da Câmara de Campos, Nelson Nahim lembrou com carinho do amigo. "Nos deixa hoje uma pessoa que fez muito por nossa cidade ao longo de muitos anos, não só como prefeito, deputado federal, estadual, vereador, presidente da Câmara, mas também conhecedor dos problemas de nossa cidade. Um amigo que carinhosamente me chamava de Pedro Malan, quando nos encontrávamos na rua ou cortando cabelo no salão do Geraldo. Fala mansa, sempre sereno, um exemplo de pessoa e homem público. Com certeza, amigo, você já está nos braços de Jesus e Nossa Senhora", declarou.
Arnaldo Vianna, também ex-prefeito de Campos, lamentou: "Muito triste e lamentável. Era uma pessoa muito especial e foi, além de grande amigo, meu padrinho".
O vereador Thiago Rangel também falou sobre a perda para o município. "Lamento muito a morte do ex-prefeito Rockfeller de Lima, tendo em vista que teve dois mandatos aqui no município de Campos dos Goytacazes. Foi uma perda muito grande para todos nós campistas. Lamentável a perda do ex-prefeito Rockfeller, que é uma figura simbólica na política da nossa cidade. Foi um líder também no município, então lamento muito".