Amostras estão sendo colhidas para apurar casos de forte odor e gosto de água, em Campos
Ingrid Silva 24/07/2024 13:05 - Atualizado em 25/07/2024 08:57
Depois do caso de água com odor e gosto forte observado por moradores de diferentes bairros de Campos, pesquisadores do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA), da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), estão colhendo amostras do Rio Paraíba do Sul durante esta quarta-feira (24) para análise. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, através da Primeira Promotoria de Investigação Penal, está acompanhando as coletas do LCA por conta de um procedimento em tramitação para apurar o distinto caso no município. Já o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que informou que enviaria equipe para a região com o intuito de realizar coletas extraordinárias, ressaltou por meio de nota, também nesta quarta, que assim que recebeu os relatos dos moradores, enviou uma equipe para monitoramento. O prazo é de que os resultados fiquem prontos em 10 dias. 
"Ressaltamos que o instituto iniciou a averiguação das informações junto às concessionárias locais e o Estado de Minas Gerais para verificar a possibilidade de vazamentos acidentais de substâncias que possam causar alterações na qualidade da água, e que até o momento não foram identificadas fontes de contaminação. O prazo para que os resultados fiquem prontos é de 10 dias", diz a nota do Inea. 
A situação também foi percebida no Rio Pomba, afluente do rio Paraíba, em que a coloração da água estava mais esverdeada e com mau cheiro, além de peixes mortos encontrados em Santo Antônio de Pádua, no Noroeste Fluminense, o que pode ter causado a situação atípica na planície goitacá. Através das redes sociais, a concessionária Águas de Pádua disse que o odor apontado pelos clientes é proveniente da proliferação de algas no Rio Pomba.
A coleta da amostra da água pelo laboratório da Uenf também está sendo feita na Estação de Tratamento e em algumas residências. A previsão é de que, até o final da tarde desta quarta, seja possível ter o resultado da análise de algumas partes, como por exemplo do pH, para saber sobre a possível alteração que tem causado a situação. 
Em uma postagem nas redes sociais, nesta quarta-feira (24), a empresa "Biovep Qualidade Ambiental", que realiza análise de água e efluentes, explicou sobre a "Geosmina", substância química que teria provocado forte cheiro e alteração no sabor da água. Na postagem, a empresa ressalta que a "Geosmina" não causa danos a saúde. A substância seria um composto orgânico produzido por bactéria presente no solo.

“O que provoca esta mudança no sabor e no cheiro da água é a presença de uma substância chamada ‘Geosmina’, produzida por alguns microrganismos. Ela está presente na água do rio em maior quantidade devido a alguns fatores como a época de estiagem, temperatura e luz ideal. A boa notícia é que a ‘Geosmina’ não causa problema em nós. Nossa empresa está trazendo a público a informação para ajudar a divulgar informações verdadeiras sobre o tema”, explicou a empresa através das redes sociais.

Um dos bairros acometidos é o Parque Santo Amaro, na área central, em que foram relatados tanto cheiro quanto gosto forte. Além deles, os bairros do Flamboyant e Turfe Clube também registraram a distinta modificação, assim como alguns locais na área de Guarus, como os parques Calabouço, Fundão e Presidente Vargas. 
"Estava fora e cheguei ontem. Após escovar os dentes, estou sentindo ardência nos rosto. Água com cheiro estranho e uma vizinha relatou agora de manhã que está com alergia que se apresentou logo após o banho", relatou Graciete Nunes, moradora do Turfe Clube. 
A veterinária e moradora do Parque Santo Amaro, Julia Fernandes, percebeu apenas o gosto diferente na água, mas que o cheiro, até o momento, está normal. A sua preocupação é com os cachorros, que precisam de água filtrada, já que não se sabe exatamente o que está acontecendo.
Julia Fernandes
Julia Fernandes / Genilson Pessanha
"Eu senti um gosto diferente desde anteontem, não sei especificar muito o que é diferente, mas um gosto mais forte. E até pensei, 'será que eu estou bebendo a água da torneira sem pensar?', mas eu fui encher de novo do filtro, que está trocada a vela. E aí, eu realmente senti esse gostinho diferente. Cheiro eu não notei (...) O ideal é comprar água para os cachorros, porque a gente não sabe o que que tem", disse.
Já Sylvia Paes, moradora do Flamboyant, percebeu o cheiro diferente que, segundo ela, parece com cheiro de “pó de broca”, mas até o momento, não notou gosto ou coloração diferente.
“Desde sexta-feira que eu comecei a notar um cheirinho diferente, mas não falei nada que eu achei que fosse da minha cabeça. Quando foi ontem, a coisa piorou. Estava com um cheiro muito forte. Aí eu perguntei aos vizinhos. Alguns vizinhos já tinham notado, outros não. É um cheiro diferente. Até o cheiro de ozônio parece com cheiro de pó de broca. Aí a gente já liga na questão do pó de broca. A cabeça da gente já dá um nó”, disse. 
A moradora do Parque Santo Amaro e dona de casa, Maria José Carvalho, estava lavando o quintal de sua casa com a água e o cheiro forte predominava na rua. Ela explicou que percebeu desde terça-feira que tinha algo de diferente, explicando que já está adquirindo água mineral para substituir. 
"Tem um gosto e um cheiro muito fortes. A gente lava até a roupa, mas só que eu fui perceber foi terça-feira de manhã, porque segunda não estava. Aí, quando eu fui fazer as coisas de manhã, meu Deus, tá muito. E a gente não sabe o que é. Na verdade, a gente já está comprando água pra tudo. Pro banho, pra beber, pra cozinhar, só não tô comprando pra lavar ainda", explica.
Parque Santo Amaro
Parque Santo Amaro / Genilson Pessanha
A Folha entrou em contato com a concessionária Águas do Paraíba. Em nota divulgada nesta quarta-feira (24), a empresa informou que toda a água fornecida para a cidade está dentro dos padrões legais. Ainda de acordo com a concessionária, o Rio Paraíba do Sul está sendo monitorado diariamente e em nenhuma das análises foi detectada presença de algas e toxinas foras dos parâmetros definidos nesta portaria, não confirmando a presença de Geosmina.

“Historicamente, nesta época do ano, devido ao baixo índice de chuvas e alterações bruscas na temperatura, ocorre o aumento da presença de algas. Mesmo nessas situações passadas, nossas unidades de tratamento sempre estiveram preparadas para tratar a água nessas condições, fornecendo sempre água dentro dos padrões de potabilidade. A concessionária acrescenta que mantém intensificado o monitoramento do Rio Paraíba do Sul, de todo o processo de tratamento da água, e do Controle da Qualidade”, disse a nota. 
Aumento na procura em depósitos de água
Um depósito de água também no Parque Santo Amaro registrou um aumento na demanda do produto devido aos problemas citados. A proprietária do estabelecimento, Patrícia da Silva Rodrigues, relatou que foram recebidos pedidos até às 22h desta terça, registrando o dobro na procura em relação aos outros dias.
Patrícia da Silva Rodrigues
Patrícia da Silva Rodrigues / Genilson Pessanha
“Devido ao problema que houve, a gente está com bastante saída. Tivemos até que acrescentar, comprar galões vazios para abastecer. Ontem nós tivemos pedido até quase 22h, de 30 a 40 pedidos, praticamente dobrou. Pessoas já pedindo para hoje, entregar logo cedo. Agora, por exemplo, uma cliente pediu um galão, já acabou, já quer outro. Só até 12h de hoje, foram 20 galões. Praticamente já vendemos a quantidade do dia todo”, ressalta Patrícia. 
Genilson Pessanha

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