Dia Mundial da Água alerta sobre a urgência da economia do recurso natural
Catarine Barreto - Atualizado em 22/03/2023 10:15
  • Dia Mundial da Água (Fotos: Rodrigo Silveira)

    Dia Mundial da Água (Fotos: Rodrigo Silveira)

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O Dia Mundial da Água é comemorado nesta quarta-feira (22). A data foi criada com o objetivo de alertar a população sobre a importância da preservação da água para a sobrevivência de todos os ecossistmas do planeta. A conscientização sobre a urgência da economia deste recurso natural é uma das principais metas desse dia. A administração Municipal tem agenda, que inclui plantio de mudas. Para ambientalistas não há nada a se comemorar. Fica é o alerta para fenômenos como enchentes e estiagens severas. No município, o rio Paraíba do Sul é a única fonte de abastecimento de água potável.
O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana, Zenilson do Amaral Coutinho falou sobre a importância do rio para a cidade.
Presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica, Zenilson do Amaral
Presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica, Zenilson do Amaral / Divulgação/Arquivo pessoal
— O rio Paraíba do Sul é fundamental para nossa região (FOZ). Ele nasce na serra da Bocaina, a 1.800 metros de altitude no município de Areias no estado de São Paulo, encontra o Rio Paraitinga, e recebe a denominação Rio Paraíba do Sul, na confluência com o Rio Paraibuna, localizado na represa da cidade de Paraibuna. Com seus 1.150 quilômetros de extensão, ele percorre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses 3 estados, o rio passa por 168 municípios abastecendo uma população estimada de 13,5 milhões de pessoas, irriga mais de 60 mil hectares de plantações e é utilizado para produção de energia elétrica — informou.

De acordo com Zenilson, o Comitê tem como meta principal em nossa gestão, o Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Por isso, o Comitê de Bacia é chamado por muitos de Parlamento das Águas, dadas as suas atribuições normativas, consultivas e deliberativas.

— O uso indevido do solo, desmatamento, poluição da água, destruição das várzeas e perda da cobertura vegetal das nascentes, prejudica e afeta diretamente a quantidade e a qualidade das águas. As diversas transposições ao longo do Rio Paraíba, está causando sérios transtornos na Região do Baixo Paraíba (Foz) — explicou.

O Dia Mundial da Água foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), através da resolução A/RES/47/193 de 21 de fevereiro de 1993, determinando que o dia 22 de março seria a data oficial para comemorar e realizar atividades de reflexão sobre o significado da água para a vida na Terra.
Em Campos, haverá uma programação em comemoração à data. Por meio de nota, a Prefeitura informou que, no Centro de Educação Ambiental (CEA) Prata Tavares, um ciclo de palestras voltadas ao meio ambiente será realizado.
"A iniciativa, que contará com doação de mudas frutíferas e nativas, além da exposição dos projetos do Programa Municipal de Educação Ambiental, acontecerá das 9h às 12h, na sede do CEA, localizado na Avenida José Carlos Pereira Pinto, 300, próximo ao Hospital Geral de Guarus", informou o município.
A abertura do evento acontecerá às 9h e será realizada pelo secretário municipal de Planejamento Urbano, Mobilidade e Meio Ambiente, Cláudio Valadares, e pelo subsecretário de Meio Ambiente, René Justen. Às 11h30, um plantio simbólico de mudas marcará o encerramento das comemorações.
IV Simpósio de recursos hídricos da bacia do Rio Paraíba do Sul

Segundo o presidente do comitê, uma das metas da gestão atual é a realização do IV Simpósio de recursos hídricos da bacia do Rio Paraíba do Sul.

— Nós, do Comitê, que temos nossa sede em Campos dos Goytacazes, recebemos com honra este desafio de dar continuidade a um evento como este de suma importância no âmbito da gestão de recursos hídricos e em toda comunidade acadêmica, especialmente, em toda região por onde o Rio Paraíba do Sul transcorre. Ao longo das tratativas de organização, fomos ganhando parceiros importantes que estão tornando esse sonho possível — contou.

De acordo com dados passados pelo comitê, hoje, aproximadamente 14 milhões de pessoas, incluindo os 8,7 milhões de habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro, se abastecem das águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul.

Esta Bacia Hidrográfica se destaca pelos inúmeros e frequentes conflitos (principalmente em nossa Região) sobre o uso de suas águas e pelos diversos desvios, para a Bacia do rio Guandu, com a finalidade de gerar energia e abastecer a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Além disso ainda está em tratativa a possibilidade de novas transposições.

— Precisamos, todos nós que integramos o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estar alinhados e buscar juntos as melhores formas de mediar os conflitos e evitar problemas relacionados à disponibilidade de água — disse.

Historiador ambiental fala sobre a escassez de água doce

O historiador ambiental Arthur Soffiati falou que a água doce está se tornando escassa. O consumo humano aumentou porque a população cresceu e hoje alcança 8 bilhões de habitantes. Além disso, o historiador destaca que os sistemas que conservavam água nos continentes estão sendo destruídos progressivamente.

— As grandes cidades e o agronegócio são os maiores consumidores. A destruição da vegetação nativa das bacias fluviais também produz erosão e assoreamento dos rios. As cidades lançam esgoto neles. A agricultura lança fertilizantes e agrotóxicos. Os rios também transportam lixo, sobretudo plástico, que invadem os mares. Grande parte dessa água é evaporada e volta na forma de chuvas torrenciais e destruidoras, sobretudo de comunidades periféricas às grandes cidades, causando perdas de bens materiais e de vidas. Os sistemas que conservavam água nos continentes estão sendo destruídos progressivamente. Atualmente, assistimos a dois fenômenos extremos: enchentes e estiagens severas, que podem acarretar incêndios de grandes proporções — disse.

De acordo com Arthur Soffiati, no norte-noroeste fluminense, os rios tinham, até meados do século XX, um regime hídrico regular: cheias na estação chuvosa e estiagens na estação seca. O primeiro impacto à essa regularidade foi causado pelo desmatamento nas zonas de tabuleiros e serrana da região.

— A grande Mata Atlântica foi derrubada para ceder lugar à agricultura e à pecuária. Outro impacto foi causado pelas represas ao longo do rio principal e afluentes. Na estiagem, essas represas retêm água. No período chuvoso, elas liberam água. Como as florestas foram removidas e os rios assoreados, as secas e os transbordamentos se tornaram mais frequentes. Hoje, os ruralistas reclamam tanto da falta quanto do excesso de água — explicou.

Segundo o historiador, mais um fator contribuiu significativamente para provocar a crise do rio Paraíba do Sul: a transposição de 2/3 do rio para o sistema Guandu, a fim de abastecer nove milhões de habitantes da cidade do Rio de Janeiro e municípios vizinhos.

— Agora, anuncia-se nova transposição para atender Niterói e arredores. Devemos considerar também as captações que são feitas em cada núcleo urbano que se ergueu junto à bacia (rio principal e afluentes) do Paraíba do Sul. Os usos das águas superaram a capacidade dos rios em atendê-los. Levem-se em conta ainda o lançamento de esgoto e de lixo, sobretudo o plástico, o que torna mais caro o tratamento. O rio Paraíba do Sul desembocava por cinco braços. Na estação das cheias, as águas chegavam ao mar pelos braços de Atafona e Gargaú, ativando-se também os braços de Gruçaí, Iquipari e Açu. Hoje, apenas o braço de Gargaú continua permanentemente aberto — contou.

Soffiati finalizou dizendo que nada há para comemorar, em nível mundial, brasileiro e regional. “ Só se pode esperar que os governos elaborem planos de recuperação de rios e lagoas, contando com a colaboração de empresas e da sociedade civil. Do contrário, tudo leva a crer que a escassez de água no mundo vai se tornar um grande problema a afetar toda a humanidade e os ecossistemas”, finalizou.





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