De acordo com Zenilson, o Comitê tem como meta principal em nossa gestão, o Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Por isso, o Comitê de Bacia é chamado por muitos de Parlamento das Águas, dadas as suas atribuições normativas, consultivas e deliberativas.
— O uso indevido do solo, desmatamento, poluição da água, destruição das várzeas e perda da cobertura vegetal das nascentes, prejudica e afeta diretamente a quantidade e a qualidade das águas. As diversas transposições ao longo do Rio Paraíba, está causando sérios transtornos na Região do Baixo Paraíba (Foz) — explicou.
O Dia Mundial da Água foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), através da resolução A/RES/47/193 de 21 de fevereiro de 1993, determinando que o dia 22 de março seria a data oficial para comemorar e realizar atividades de reflexão sobre o significado da água para a vida na Terra.
Segundo o presidente do comitê, uma das metas da gestão atual é a realização do IV Simpósio de recursos hídricos da bacia do Rio Paraíba do Sul.
— Nós, do Comitê, que temos nossa sede em Campos dos Goytacazes, recebemos com honra este desafio de dar continuidade a um evento como este de suma importância no âmbito da gestão de recursos hídricos e em toda comunidade acadêmica, especialmente, em toda região por onde o Rio Paraíba do Sul transcorre. Ao longo das tratativas de organização, fomos ganhando parceiros importantes que estão tornando esse sonho possível — contou.
De acordo com dados passados pelo comitê, hoje, aproximadamente 14 milhões de pessoas, incluindo os 8,7 milhões de habitantes da região metropolitana do Rio de Janeiro, se abastecem das águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul.
Esta Bacia Hidrográfica se destaca pelos inúmeros e frequentes conflitos (principalmente em nossa Região) sobre o uso de suas águas e pelos diversos desvios, para a Bacia do rio Guandu, com a finalidade de gerar energia e abastecer a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Além disso ainda está em tratativa a possibilidade de novas transposições.
— Precisamos, todos nós que integramos o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estar alinhados e buscar juntos as melhores formas de mediar os conflitos e evitar problemas relacionados à disponibilidade de água — disse.
Historiador ambiental fala sobre a escassez de água doce
O historiador ambiental Arthur Soffiati falou que a água doce está se tornando escassa. O consumo humano aumentou porque a população cresceu e hoje alcança 8 bilhões de habitantes. Além disso, o historiador destaca que os sistemas que conservavam água nos continentes estão sendo destruídos progressivamente.
— As grandes cidades e o agronegócio são os maiores consumidores. A destruição da vegetação nativa das bacias fluviais também produz erosão e assoreamento dos rios. As cidades lançam esgoto neles. A agricultura lança fertilizantes e agrotóxicos. Os rios também transportam lixo, sobretudo plástico, que invadem os mares. Grande parte dessa água é evaporada e volta na forma de chuvas torrenciais e destruidoras, sobretudo de comunidades periféricas às grandes cidades, causando perdas de bens materiais e de vidas. Os sistemas que conservavam água nos continentes estão sendo destruídos progressivamente. Atualmente, assistimos a dois fenômenos extremos: enchentes e estiagens severas, que podem acarretar incêndios de grandes proporções — disse.
De acordo com Arthur Soffiati, no norte-noroeste fluminense, os rios tinham, até meados do século XX, um regime hídrico regular: cheias na estação chuvosa e estiagens na estação seca. O primeiro impacto à essa regularidade foi causado pelo desmatamento nas zonas de tabuleiros e serrana da região.
— A grande Mata Atlântica foi derrubada para ceder lugar à agricultura e à pecuária. Outro impacto foi causado pelas represas ao longo do rio principal e afluentes. Na estiagem, essas represas retêm água. No período chuvoso, elas liberam água. Como as florestas foram removidas e os rios assoreados, as secas e os transbordamentos se tornaram mais frequentes. Hoje, os ruralistas reclamam tanto da falta quanto do excesso de água — explicou.
Segundo o historiador, mais um fator contribuiu significativamente para provocar a crise do rio Paraíba do Sul: a transposição de 2/3 do rio para o sistema Guandu, a fim de abastecer nove milhões de habitantes da cidade do Rio de Janeiro e municípios vizinhos.
— Agora, anuncia-se nova transposição para atender Niterói e arredores. Devemos considerar também as captações que são feitas em cada núcleo urbano que se ergueu junto à bacia (rio principal e afluentes) do Paraíba do Sul. Os usos das águas superaram a capacidade dos rios em atendê-los. Levem-se em conta ainda o lançamento de esgoto e de lixo, sobretudo o plástico, o que torna mais caro o tratamento. O rio Paraíba do Sul desembocava por cinco braços. Na estação das cheias, as águas chegavam ao mar pelos braços de Atafona e Gargaú, ativando-se também os braços de Gruçaí, Iquipari e Açu. Hoje, apenas o braço de Gargaú continua permanentemente aberto — contou.
Soffiati finalizou dizendo que nada há para comemorar, em nível mundial, brasileiro e regional. “ Só se pode esperar que os governos elaborem planos de recuperação de rios e lagoas, contando com a colaboração de empresas e da sociedade civil. Do contrário, tudo leva a crer que a escassez de água no mundo vai se tornar um grande problema a afetar toda a humanidade e os ecossistemas”, finalizou.