Dentro do inquérito que investiga a execução da gestante Letycia Peixoto Fonseca, no dia 2 de março, a titular da 134ª Delegacia de Polícia (Centro), Natália Patrão, nesta semana, ouviu novamente algumas testemunhas e novas pessoas ligadas à vítima e ao companheiro dela e suposto pai do seu filho, o professor e empresário Diogo Viola de Nadai, preso desde o dia 7 sob suspeita de ser o mandante do crime. Em novo depoimento, a esposa de Diogo admitiu que não estava separada, situação confirmada, ainda, por um amigo antigo do suspeito.
— Ouvimos novamente a esposa do suspeito/mandante, que estava totalmente abalada emocionalmente e disse que nunca soube da existência da Letycia. Ela relatou estar arrasada, como todos, e disse que no dia posterior ao crime o suspeito/mandante lhe contou que a havia traído há apenas oito meses, e que a Letycia engravidou assim que eles começaram a se encontrar, confirmando, ainda, que o filho realmente era dele. Ela acrescentou que todas as vezes que ele dormia fora de casa, lhe dizia que estava dormindo na clínica de tratamento psiquiátrico, e finalizou dizendo que não teve mais contato com o suspeito/mandante, nem quer ter, desejando se separar — informou Natália.
Outra pessoa ouvida na delegacia esta semana foi um amigo de Diogo há mais de 10 anos, que, segundo a delegada, relatou que o conhecia como um homem “casado com sua esposa” e que eles mantinham um relacionamento normal de casal. O amigo disse, ainda, que “sabia muito pouco da existência da Letycia, mas pensava se tratar de uma ‘ficante’, com encontros fugazes e passageiros. O suspeito/mandante nunca conversou com ele sobre Letycia, não sabia da gravidez e acredita que nenhum outro amigo soubesse. No dia do crime, o suspeito/mandante lhe confessou que o filho era dele”, destacou a delegada.
A Polícia Civil também ouviu a obstetra de Letycia, que alegou que já tinha atendido a jovem em 2018, quando sua gestação evoluiu para um aborto. Ela disse, ainda, que consultou Letycia de cinco a seis vezes, mas não se recordava se ela estava acompanhada de Diogo. A médica, contou, por fim, que Letycia estava muito feliz com a gravidez, compartilhando várias descobertas, conversando sobre coisas que tinha comprado, e que era sempre muito tranquila e agradável.
Ainda nesta semana, prestaram depoimento na 134ª DP um motorista de aplicativo, como testemunha, que não forneceu informações relevantes à investigação, e a corretora de imóveis que alugou o apartamento que o suspeito estava montando para morar com Letycia. De acordo com Natália, ela contou que a gestante, em todas as vezes, estava sozinha e se mostrava uma mulher muito tranquila, sem preocupação, e que nas conversas se referia a Diogo como companheiro e marido.
A corretora informou, ainda, que a entrega das chaves do apartamento ocorreu no sábado de Carnaval, dia 18 de fevereiro, 12 dias antes do crime, ocasião em que o suspeito estava presente, fazendo o estilo “protetor”, tratando tudo com muito cuidado, comentando até sobre tela de proteção para os gatos ficarem seguros. “Ela finalizou dizendo que Letycia era uma menina muito serena, aparentou ser justa e honesta, pois tratou com muita tranquilidade a negociação, o envio de documentos e até mesmo no pagamento da caução, no valor de R$ 6.600”.
— Também ouvimos a chefia imediata do Diogo na universidade em que ele lecionava. Requisitamos as licenças médicas. Os laudos já vieram, confirmando os afastamentos em praticamente todo o ano de 2022, após findarem as aulas virtuais em razão da Covid. Em janeiro de 2022, ele tirou férias; em fevereiro, março e abril, trabalhou remotamente em razão da Covid; em maio, foi o início do ano letivo de 2022, presencialmente, porém, ainda não tinha ponto biométrico. No dia 18 de maio, ele entrou de licença até o dia 20 de junho.
Em julho, deveria dar aula sete dias, mas faltou três, e nos quatro em que ele foi, saiu mais cedo não justificadamente. Em agosto, ele não deu nenhuma aula e entrou com licença até 20 de dezembro. No dia 21 de dezembro, não houve aula. No dia 22 de dezembro, ele foi até o campus, não registrou o ponto, mas comunicou que estava se reapresentando ao trabalho. A coordenação informou a ele que as suas aulas retornariam no dia 30 de janeiro de 2023, pois o Instituto entraria em férias coletivas de professores. De acordo com a grade, sua aula seria no dia 31 de janeiro, das 16h10 às 21h20, no entanto, ele chegou às 19h41 e saiu às 21h26. Em fevereiro, ele deveria dar 10 dias de aula, mas só deu dois dias completos, em quatro ele não cumpriu horário injustificadamente e em três ele faltou. No dia 28 de fevereiro, terça-feira da semana do crime, ele entrou às 11h52 e saiu às 21h31. De acordo com a grade, era pra ele ter entrado às 16h10 e saído às 21h20, mas esse tempo excedente não foi justificado por ele, ficando dentro da escola um período de nove horas.
No dia 1º de março, quarta-feira, véspera do crime, de acordo com a folha de ponto, ele entrou às 15h57 e saiu às 19h06, mas, pela grade, não era dia de ele dar aula e, apesar disso, ele não justificou o que fez no interior da universidade nesse período. No dia do crime, de acordo com a máscara de horários, sua aula começaria às 16h10, com término às 22h40, mas ele entrou às 17h29 e foi embora às 21h32. Ficou comprovado que exatamente na semana do crime o suspeito/mandante frequentou a universidade de forma atípica — completou a delegada Natália Patrão.
O crime
Letycia, grávida de sete meses, estava no carro da empresa em que trabalhava conversando com sua mãe, que estava do lado de fora do veículo, na rua Simeão Scheremeth, quando, por volta das 21h, as duas foram surpreendidas por dois homens em uma moto, que pararam ao lado do automóvel. O carona disparou diversos tiros na direção da gestante, que foi atingida na face, no ombro, na mão esquerda e no tórax. A mãe de Letycia, por instinto, correu em direção aos criminosos, momento em que foi atingida na perna esquerda.
Na hora do crime, Letycia deixava a tia-avó Simone Peixoto, de 50 anos, em casa, após um passeio de carro que fazia sempre com ela para acalmá-la. No banco do carona, Simone, que tem Síndrome de Down, ficou coberta de sangue, e agora está em estado de choque.
Mãe e filha foram socorridas pelo tio da gestante e levadas para o HFM, onde Letycia morreu logo após dar entrada. Uma cesariana de emergência foi realizada e o bebê transferido para a UTI neonatal da Beneficência Portuguesa, mas ele não resistiu e morreu horas depois. Os corpos de Letycia e do filho foram sepultados no dia 3, no Cemitério Campo da Paz, onde Diogo chegou a carregar o caixão do bebê. Nessa quinta-feira (9), foi realizada missa de 7º dia.