O Hospital Psiquiátrico Doutor João Viana comunicou nesta segunda-feira (10) que não recebe mais pacientes e até o final deste mês fecha as portas. Com uma dívida acumulada de R$ 4 milhões, metade desse valor em débito trabalhista, os 64 pacientes assistidos na instituição estão sendo transferidos para seus municípios de origem para que sigam com o tratamento junto a seus familiares, em Centros de Atenção Psicossocial (Caps) ou residências terapêuticas. Na tarde desta segunda, o clima na unidade era de despedida entre funcionários e pacientes; quatro deles deixaram a unidade e seguiram para encontrar com familiares em São Fidélis. Por outro lado, dentro da cozinha o cronograma continuou seguido à risca com um outro tanto de acolhidos tomando seus lugares no refeitório para o lanche da tarde.

— Hoje é realmente um dia triste. Mas continuamos fazendo nosso serviço normalmente, enquanto nossos assistidos estiverem aqui — disse uma das duas cozinheiras da instituição, que estavam responsáveis pelo lanche desta tarde, uma das seis refeições que são servidas diariamente e há oito anos preparadas com alimentos doados pela comunidade e sociedade civil organizada. O hospital tem 70 funcionários em atuação.

— Na realidade, a gente fez o que pôde. Temos uma dívida, hoje, em torno de R$ 4 milhões, sendo que R$ 2 milhões em dívidas trabalhistas. A instituição recebe uma diária de R$ 82 por paciente, do Sistema Único de Saúde (SUS). Só o município de Campos, por meio da contratualização, dobra esse valor. Quando recebo R$ 180 mil por mês, para pagar uma folha de R$ 150 mil, e esse dinheiro está bloqueado pela Justiça do Trabalho, é impossível continuar”, disse Edmar Teixeira, presidente da Liga Espírita de Campos, mantenedora do hospital.

O colunista Saulo Pessanha foi o primeiro a noticiar a carta aberta da instituição, em seu blog na Folha 1. Nela, a direção da unidade explica: “A política antimanicomial adotada por governos nas esferas federal, estadual e municipal sufocou financeiramente a instituição, que tem como única fonte de renda o repasse do Sistema Único de Saúde (SUS) via Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) – uma diária paga ao final do mês de acordo com o número de pacientes internados. Ocorre que o valor da AIH (paciente/dia) jamais cobriu nem a metade das despesas, que incluem o pagamento dos salários dos funcionários, serviços de hotelaria, alimentação, limpeza, vestuário e manutenção. Graças ao apoio da comunidade campista e sociedade civil organizada, que sempre se fizeram presentes nos momentos mais difíceis, há mais de cinco anos a alimentação dos pacientes é mantida por doações”.

Ainda ressalta que a situação piorou na gestão municipal passada. “A situação financeira se agravou na gestão municipal 2017/2020, quando foram envidados todos os esforços possíveis para fechar o hospital, evitando a internação de pacientes por meio do PU Psiquiátrico Saldanha Marinho (atualmente Salo Brand)”, diz trecho da nota.

“Há 75 anos um grupo de espíritas tirou os ‘loucos’ do presídio Carlos Tinoco e trazia numa salinha do grupo espírita para cuidar desses pacientes. São 75 anos de dever cumprido. A gente fica profundamente triste, mas entende que mudou a metodologia, mudou tudo. E a gente não pode fechar os olhos para isso. A gente sente muito, mas, infelizmente, estamos devolvendo essa responsabilidade para o poder público, porque o próprio poder público não nos dá condição de continuar. É lamentável”, ressalta Edmar.