Cercamento da Paróquia São Benedito não foi pensado como exclusão social, diz padre Walas
Folha1 21/01/2021 10:54 - Atualizado em 22/01/2021 22:28
Cercamento da Paróquia São Benedito
Cercamento da Paróquia São Benedito / Genilson Pessanha
O padre Walas Maciel da Silva, pároco da Paróquia São Benedito, em Campos, emitiu uma nota oficial em relação ao cercamento dos jardins da igreja, que foi iniciado no dia 4 de janeiro para evitar transtornos relacionados às pessoas em situação de rua que ocupavam as laterais da praça São Benedito. Segundo o padre, a instalação das grades veio como resposta há desejo expressado pela comunidade há anos, mas em nenhum momento foi pensado como forma de exclusão social.

"A Igreja, no seguimento a voz e ao querer de Deus, sob o conduzir de nosso Papa Francisco, sempre se fez obediente e atenciosa aos cuidados dos menos favorecidos e aos que estão à margem da sociedade, por meio das obras sociais a Igreja busca amenizar o sofrimento destes irmãos desamparados. Destacamos que o intuito sempre foi, por meio das obras de caridade, o resgate não somente físico, mas também social e espiritual destes irmãos mais sofredores", diz a nota emitida pelo sacerdote.

Padre Walas também ressaltou as obras sociais desenvolvidas pela Paróquia São Benedito, como as ações da Ordem Franciscana Secular (OFS), Amigos de São Francisco – Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos, Dispensário São Benedito e Obra do Berço São Benedito.  Ele destacou também que há uma distribuição mensal de alimentos e materiais de higiene pessoal para as famílias mais carentes inscritas nos programas, que somam 120 famílias, enxovais e fraldas para bebês e mães carentes, bem como o auxílio de medicamentos para os enfermos desamparados (mediante apresentação de receitas), doações de roupas e calçados, passagens para o retorno de transeuntes a suas famílias e terra natal, entre outros.

"Infelizmente, devido à triste realidade da pandemia (Covid-19), com o fechamento das igrejas e a não-participação dos fiéis junto as comunidades paroquiais, o trabalho voluntário e as doações financeiras para as obras sociais ficaram em muito impossibilitados de continuidade, no entanto, com as poucas doações aqui entregues conseguimos compartilhar e amenizar o sofrimento dos nossos irmãos desamparados, por mais que não seja o suficiente para a realidade que vivemos; nos restando somente neste momento a oração como um grito de socorro a Deus e amparo ao sofrimento humano-espiritual dos filhos de Deus", complementou a nota.

O padre também achou injusta as insatisfações manifestadas em rede social sobre o cercamento da igreja. "Atualmente percebemos a insatisfação de muitos com o cercamento de nossos jardins, expressados nas redes sociais; não achamos justa tal postura, uma vez que muitos destes desconhecem os verdadeiros motivos para chegarmos à decisão do cercamento. Assim, queremos nesta nota esclarecer a toda comunidade de fé, bem como a sociedade aqui implantada, a motivação para fazê-lo: desde minha chegada a Paróquia São Benedito, já encontrei instalados os moradores em situação de rua, entregues ao vício do álcool e entorpecentes, e estes por muitas vezes sob efeito destas substâncias se mostravam desrespeitosos e agressivos com os fiéis e com o templo, chegando muitas vezes a ofender verbalmente e até fisicamente os fiéis; intimidando, por exemplo, aqueles que não lhes pagavam por 'vigiar' seus veículos", pontuou ao acrescentar que: "As paredes e portas da Igreja tinham forte odor devido a urina e fezes, sem mencionar que mesmo a luz do dia, já fomos surpreendidos várias vezes com moradores em situação de rua fazendo sexo junto das portas da igreja e entre as árvores dos jardins. Os funcionários, assim como os sacerdotes, que se negaram a ceder as suas vontades, por muitas vezes foram alvos de ameaças".
A nota explicou, ainda, que a igreja buscou apoio com o poder público, por meio de órgãos responsáveis como secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, Procuradoria-Geral do Município, Guarda Civil Municipal e 8° Batalhão de Polícia Militar. "Assistentes sociais encaminhados pelos órgãos compareceram nos jardins da Igreja, mas não obtiveram pleno sucesso em resgatá-los (assim como nossos grupos de apoio da igreja), apenas alguns moradores em situação de rua se interessaram em se reestruturar à sociedade. Hoje o poder público dispõe de ampla rede de atendimento socioassistencial, como por exemplo o Centro Pop (com oferta de alimentação, higiene e atendimento social) e outros locais de acolhimento, abordagem social e tratamento contra dependências de entorpecentes e álcool; no entanto, os que rejeitaram esse resgate pelos órgãos competentes e pela igreja, hoje vivem em situação de rua ao redor da Paróquia São Benedito", destacou a nota.

O padre Walas ainda reiterou que o motivo para o cercamento dos jardins da Paróquia São Benedito foram baseados em questões de segurança, patrimônio, restauração e revitalização dos jardins, e serviço pastoral. "Uma vez aqui justificadas as motivações para o cercamento dos jardins da Igreja, pedimos o entendimento e a compreensão de todos. Rogamos a Deus que esta obra realizada pelas mãos humanas, manifeste a vontade e o cuidado de Deus e que possa trazer graças e bênçãos dos Céus sobre a nossa Paróquia de São Benedito e toda sociedade Campista", concluiu.
Abaixo-assinado - Para tentar coibir o cercamento da igreja, um abaixo-assinado virtual chegou a ser iniciado. Até esta quinta (21), 462 pessoas haviam assinado a proposta. 

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