Cantora Rita Lee, rainha do rock brasileiro, morre aos 75 anos
09/05/2023 11:16 - Atualizado em 09/05/2023 19:34
Rita Lee
Rita Lee / Divulgação


“Ela nunca foi um exemplo, mas era gente boa”. Assim se definiu Rita Lee num auto-epitafio em sua primeira autobiografia, publicada pela Globo Livros em 2016. Na verdade, exemplo foi o que Rita Lee nunca deixou de ser, tendo influenciado inúmeras (e inúmeros) artistas com sua personalidade revolucionária e libertária, sua natural liderança e a grande capacidade de criação, durante os 60 anos de carreira. Diagnosticada com um câncer de pulmão em 2021 e em tratamento desde então, a cantora e compositora morreu na noite de segunda-feira (8), aos 75, na própria casa, em São Paulo. Segundo comunicado de familiares na manhã desta terça (9), ela estava “cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”.
O velório de Rita será aberto ao público no Planetário do Parque Ibirapuera, nesta quarta-feira (10), das 10h às 17h. “De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimônia será particular. Neste momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos”, diz a família.
— Como fã ávida, que bebeu de toda arte produzida por Rita Lee, é devastador perder uma referência tão singular como essa, que inspirou tantas mulheres a serem quem elas quisessem e mostrou da melhor maneira a nossa competência — afirma a cantora Natália Kurtz, única mulher a se apresentar no Dia do Rock Goitacá, ocorrido no último fim de semana, no Jardim do Liceu, em Campos. — Meu trabalho tem referência soberana dela. Não só de suas músicas, que, com muito humor, exibiam escrachadamente o cinismo, a hipocrisia e uma ode ao amor sob todas as formas, mas também por seus livros, que são magníficos, e sua escrita muito peculiar. Não é só uma perda irreparável para as mulheres, como para o rock. A Rainha do Rock se foi, mas é dever de artistas como nós manter seu legado vivo — complementa a vocalista das bandas Kurtz e Kevin, Madame Bardot, Wild Turkey Band e Retrovisor.
Valores da trajetória de Rita Lee também foram destacados por Ivih Cabral, integrante do Duo Vox, dueto de MPB, rock, blues e jazz.
— Que triste notícia para a música brasileira. Além de admiradora do trabalho da Rita Lee, sempre admirei a personalidade, a garra e a determinação dela como mulher representante do rock nacional. Sua essência sempre estará viva dentro do coração dos admiradores da música boa — destaca Ivih.
Outra representante do cenário musical campista a lamentar o ocorrido foi a cantora Renata Monteiro, integrante das bandas Crossroad, Riot e Atroz Rock Band.
— A partida de Rita é, sem dúvidas, uma tristeza tremenda, irreparável. O que traz algum alento ao coração é saber que sua arte, sua ferocidade, seu humor ácido, sua irreverência e suas letras certeiras irão reverberar pela eternidade. Rita foi grandiosa na representação do papel da mulher no rock n’ roll. Certamente, uma grande inspiração para todas nós que continuamos resistindo nesse espaço — destaca Renata. — Nos resta tentar reproduzir, em alguma medida, o que ela nos ensinou. Junto com Elis Regina, sua amiga, Rita escancarou exatamente o que a arte deve representar dentro de nós, seus receptores: despertar o melhor lado de quem somos. Que ela permaneça eterna através de sua obra. Aqui, seremos responsáveis por reproduzi-la, mantendo acesa a luz da rainha do rock nacional — enfatiza.
Trajetória — Nascida em São Paulo em 31 de dezembro de 1947, Rita foi criada no bairro Vila Mariana. Filha do dentista Charles Jones, imigrante dos Estados Unidos, e da pianista italiana Romilda Padula, ela foi influenciada pela mãe a estudar o instrumento e a cantar com as irmãs. Iniciou o contato com a música na adolescência, quando já compunha e começou a fazer parte do Tulio’s Trio, pelo qual se apresentou em clubes paulistas. Aos 16 anos, criou o trio Teenage Singers junto a duas amigas, para apresentações em festas escolares. Nesta época, as meninas foram convidadas pelo cantor e produtor Tony Campello para serem backing vocals em gravações.
Fruto da junção do Teenage Singers com o grupo The Wooden Faces, surgiu o Six Sided Rockers, posteriormente chamado de O Conjunto e, enfim, rebatizado como O’Seis. Com Rita Lee (voz), Arnaldo Baptista (baixo), Sérgio Dias Baptista (guitarra), Raphael Villardi (guitarra), Luiz Pastura (bateria) e Mogguy, o grupo lançou um compacto em 1966. No ano seguinte, após a saída dos outros músicos, Rita, Arnaldo e Sérgio formaram o trio Os Bruxos, que, por sugestão do cantor, compositor e apresentador Ronnie Von, depois passou a se chamar Os Mutantes. Assim surgiu a banda de rock brasileira mais reconhecida e respeitada internacionalmente, tendo Rita como band-leader.
Em 1967, Os Mutantes acompanharam Gilberto Gil na execução de “Domingo no parque” durante o 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. No ano seguinte, tocaram “É proibido proibir” para interpretação de Caetano Veloso, no 3º Festival Internacional da Canção da TV Globo. Os dois momentos foram marcantes no tropicalismo, do qual Os Mutantes fizeram parte unindo a psicodelia aos ritmos locais. Ainda em 1968, a banda participou do célebre álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”.
Rita foi uma “mutante” até 1972, período em que gravou os álbuns “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970), “Jardim Elétrico” (1971) e “Mutantes e seus cometas no País dos Bauretz” (1971). Sua saída ocorreu após o fim do relacionamento que manteve com Arnaldo Baptista, embora em 1970 já tivesse lançado o primeiro álbum solo, “Build up”. Ainda com o grupo, em 1972, lançou “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida”. Já na carreira pós-Mutantes, formou a dupla Cilibrinas do Éden, com Lúcia Turnbull. Este dueto veio a ser o embrião da banda Tutti Frutti, pelo qual Rita gravou cinco discos.. Um deles, “Fruto proibido”, tinha no repertório o sucesso “Agora só falta você”.
De 1979 em diante, Rita Lee firmou uma parceria musical com o marido, Roberto de Carvalho. Foi nesta fase que se consolidou na carreira solo. Já em 1979 fez sucesso com o álbum “Rita Lee”, incluindo as faixas “Mania de você”, “Chega mais” e “Doce vampiro”. No ano seguinte, veio um trabalho homônimo, que já indicava sua guinada para o pop, trazendo músicas como “Lança perfume” e “Baila comigo”. Entre outros trabalhos, lançou “Rita e Roberto”, de 1985, que levou Rita Lee e o marido ao palco do primeiro Rock in Rio.
Separados de 1991 a 1995, Rita e Roberto reataram o relacionamento e também a parceria profissional com uma turnê de sucesso, “A marca da Zorra”. Foi nesta época que ela abriu shows dos Rolling Stones no Brasil. No ano seguinte, houve o casamento com Roberto de Carvalho no civil. Entre muitos prêmios, recebeu o Grammy Latino com “3001”, eleito melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa de 2001. A grande homenagem veio no ano passado, com mais um Grammy Latino, desta vez pela excelência musical (conjunto da obra).
Fora dos palcos, Rita também teve atuação como escritora. Em cima deles, cantou até 2012, quando anunciou a aposentadoria por conta de problemas de saúde. Aposentou-se dos shows, mas nunca da música, como disse a própria na época.

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