Cinema - Filme B e filme trash
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 12/04/2023 10:33
Desde que frequento cinemas, procuro assistir a bons filmes. Durante anos, torci o nariz para filmes de baixo orçamento e de baixa qualidade. Veio, então, a pandemia. Não podendo frequentar cinemas, recorri à minha grande coleção de DVD’s, além de adquirir outros, num tempo em que essa mídia se tornou obsoleta. Decidi encarar de frente o desafio de assistir a filmes de uma linha de produção que atende a um público pouco exigente ou a aficionados. Segui o conselho do filósofo Slavoj Zizek.
O filme B esteve bastante em voga na década de 1950, entrando pelos primeiros anos da década seguinte. Hoje, ele não tem mais cabimento nas salas de exibição. Geralmente, era um filme de média duração exibido juntamente com o filme A, o filme principal. Contava com baixo orçamento, o que não permitia contratar diretores, roteiristas, músicos, técnicos e artistas caros. Contudo, alguns nomes se tornaram célebres na direção de filmes B, como Roger Corman, Nathan Juran e Jack Arnold. Cabe lembrar que vários autores famosos começaram suas carreiras em filmes de baixo orçamento. Clint Eastwood começou sua trajetória no cinema em “A vingança da criatura”, filme de Arnold. Jack Nicholson fez uma ponta em “A pequena loja de horrores”, de Corman. E assim, vários outros.
O filme B não é um gênero, como entendem vários críticos e apreciadores de cinema. Podemos encontrar da comédia ao terror em filmes B. Quantos comediantes, dramaturgos, vampiros, lobisomens, monstros, ETs apareceram em filmes de baixo orçamento... O que caracteriza um filme B é que, apesar de rudimentar, ele tenta ser convincente. Em outras palavras, ele não debocha de si mesmo e dos temas que aborda. Depois que o filme B saiu das salas de cinema, ele continuou a ser produzido para ser apresentado como filme principal. John Carpenter, Wes Craven e Tobe Hooper são excelentes diretores de filmes com baixo orçamento. George Lucas, Steve Spielberg e Quantin Tarintino flertam com o filme B. Eles sabem que aqueles filmes horrorosos e fantásticos dos anos de 1950 expressam muito bem o espírito norte-americano, principalmente do interior do país.
Já o filme trash debocha do assunto que aborda. Ele até pode contar com orçamento considerável. Trash significa lixo. Os diretores desse tipo de filme, que também não é um gênero, fazem gracejo com o filme. Carregam nas tintas para arrancar risadas. Fazem chacota. Se tudo pode ser assassino, por que não um pneu, como em “Rubber: O pneu assassino”? Por que não uma geladeira, como em “A geladeira diabólica”?
Filmes como os da franquia “O ataque dos vermes malditos”, “O ataque dos tomates assassinos” e “Sharknado” (tubarão+tornado), são tipicamente filmes trash. Em 2017, foi produzido “Jimmy, o pênis assassino”, assim como, anos antes, “A vagina dentada”, até que contou com bom orçamento e ganhou status de bom filme.
Geralmente, contudo, eles primam pelo mau gosto e pelo escárnio de forma proposital. Filmes B também continuam a ser produzidos e até premiados. “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, ganhador do Oscar de 2023, contém elementos de filme B e de trash numa espécie de leitura crítica. No geral, o frequentador de cinemas e de plataformas em televisão busca filmes com boa fotografia, bom roteiro e bom desempenho dos atores, sem se preocupar com toques de arte. Já o apreciador da sétima arte deve fazer a distinção entre filme e cinema. Ele deve ficar mais com o cinema, procurando entender o filme como representante de uma nova arte. Assim como existe diferença entre pintura e quadro. Sendo assim, porque não voltar a atenção, pelo menos por curiosidade, para um filme B ou um filme trash?
No Rio de Janeiro, a Estação Net Botafogo exibe um filme B ou trash toda segunda-feira à meia-noite. Tem sido um sucesso, embora os frequentadores não saibam bem distinguir um tipo de filme do outro. Antigamente, o chique era frequentar a sessão da meia-noite no cinema Paissandu, que só exibia filme de arte. E se Campos criasse um cineclube para exibir filmes B ou trash?

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