Santo Amaro: Uma tradição de 290 anos na Baixada Campista
Matheus Berriel - Atualizado em 14/01/2023 08:51
Imagem de Santo Amaro, o padroeiro da Baixada Campista
Imagem de Santo Amaro, o padroeiro da Baixada Campista / Foto: Divulgação/Diocese de Campos
Mais de mil peregrinos são esperados a partir da madrugada deste domingo (15) no distrito de Santo Amaro, em Campos. Eles farão parte da Caminhada de Santo Amaro, demonstração de fé e devoção ao padroeiro da Baixada Campista, celebrado em 15 de janeiro. Dez missas vão fechar a programação, além de desfile de bandeiras, da tradicional Cavalhada e de uma procissão.
Integrante do calendário de turismo religioso do estado do Rio de Janeiro, a Festa de Santo Amaro é uma tradição de 290 anos em Campos, iniciada com a construção da primeira capela dedicada ao santo, em 1733. Trata-se de uma devoção trazida pelos monges beneditinos, presentes na região desde 1648.
— É uma alegria poder colher estes frutos depois de 290 anos de espiritualidade beneditina, com Santo Amaro conhecido como santo da obediência. Os primeiros monges que trabalharam na evangelização nessas terras campistas trouxeram esse santo precioso, que nos ensina que, para sermos cristãos de verdade, é preciso ter a virtude da obediência à Palavra de Deus, dentro de uma comunhão e dentro da hierarquia da Igreja — destaca Dom Inácio Maria da Veiga, que assumiu em dezembro a gestão do Mosteiro de São Bento, em Mussurepe. — Para nós, é gratificante colher estes frutos produzidos nas famílias, nas pessoas, nos cristãos e na vida religiosa dessa região, como frutos de santidade e de evangelização enraizada nestas terras — complementa.
Pela tradição católica, Santo Amaro, juntamente com São Plácido, foi um dos primeiros discípulos de São Bento, na Itália, país onde nasceu. Entregue a São Bento pelo pai. Etiquio, um nobre romano, para ser educado na fé, se destacou pela obediência. A ele é atribuído o milagre de andar a pé, enxuto, sobre as águas, para salvar o garoto Plácido, que havia se afogado em um lago. Obedecendo a São Bento, Santo Amaro só percebeu que havia caminhado sobre as águas após retornar.
Nascido no distrito campista de Santo Amaro, o fiel Jorge Bento Neves Pereira agradece ao Padroeiro da Baixada pela intercessão à sua vida e à saúde da sua família. Mesmo no período em que morou em Niterói, ele nunca deixou de estar presente na festa em honra ao santo, para participar das celebrações e rever amigos e familiares. Outro membro assíduo é o diácono Adelino Bacelos Filho, batizado na Igreja de Santo Amaro com um ano de idade, em 1960. Segundo ele, a conclusão de um curso técnico na Escola Técnica Federal de Campos (atualmente, Instituto Federal Fluminense) é uma das conquistas atribuídas à intercessão do santo.
— Quando estava como aluno da Escola Técnica Federal, apesar dos esforços meus e dos meus pais, com aulas particulares, as dificuldades eram muitas na disciplina de matemática. Recorri, portanto, à intercessão de Santo Amaro e prometi fazer, como voto, a caminhada da Escola Técnica até a igreja dedicada a ele, a pé (com mais de 48 quilômetros de distância). Cumpri o voto, pois, ao término do curso técnico, em 1977, eu estava no grupo dos melhores alunos. Além disso, ao longo da minha caminhada vocacional, pude contribuir com inúmeros jovens e adultos com dificuldade em matemática nas suas respectivas escolas e para concursos — conta Adelino.
Ativa na igreja local, a fiel Maria Carla Cordeiro Rangel Neves destaca que o santo sempre se fez presente na intercessão pelo seu casamento com o marido, José Luciano Neves do Nascimento.
— Nossa história com a intercessão de Santo Amaro começa pelos nossos bisavós, avós e pais. Fomos batizados, fizemos a Primeira Eucaristia, nos casamos em 1984, também sobre as bênçãos de Santo Amaro. É um santo presente em nossas vidas. Nos momentos de alegria, de tristeza, de angústia e desespero, ele sempre nos ampara, intercedendo a Deus. Uma história linda, com muita devoção e gratidão. Meu neto João Miguel se tornou coroinha da igreja aos seis anos de idade, por vontade própria, num chamado direto de Santo Amaro à sua vida — afirma Carla.
Na última segunda-feira (9), foi lançada na Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos o Caminho da Fé, em cerimônia com presença de autoridades do município. Na caminhada, centenas de romeiros percorrem cerca de 40 quilômetros, saindo da Catedral do Santíssimo Salvador, no Centro, em direção ao distrito. A abertura oficial da festa, porém, aconteceu com uma carreata no último dia 3, de Mussurepe a Santo Amaro, seguida por uma missa. Desde o dia 6, ladainhas, missas e terços foram promovidos todas as noites.
— Estamos nos preparativos para receber os devotos que virão ao santuário em sinal de fé e milagres. Conforme a tradição, tivemos a carreata, em que os monges vieram do Mosteiro de São Bento trazendo a imagem de Santo Amaro. Estaremos recebendo muito bem a todos os peregrinos — comentou o reitor do Santuário de Santo Amaro, padre Liomar Santos.
O ponto alto dos festejos sempre acontece no dia 15 de janeiro por ter sido esta a data da morte de Santo Amaro, no ano de 584, aos 72 anos, em um mosteiro que ele mesmo fundou na França. No distrito de Campos que leva o seu nome religioso, neste sábado, há missas marcadas para as 19h, 21h e 23h. No domingo, haverá missas em fez horários: 1h, 3h, 5h, 7h, 9h, 11h, 13h, 15h, 17h e 19h, sendo a das 11h celebrada pelo bispo titular da Diocese de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz. Às 15h, será mantida a tradição da Cavalhada, que representa os embates entre mouros e cristãos e passa uma mensagem sobre a importância do diálogo inter-religioso e cultural. O desfile das bandeiras ocorrerá a partir das 14h, enquanto a procissão tem início previsto para as 18h.
Tradição da Cavalhada será mantida às 15h
Tradição da Cavalhada será mantida às 15h / Foto: Divulgação/Diocese de Campos

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