Show de fim de ano da Folha é marcado por homenagem de Leoni a Gal Costa
Matheus Berriel - Atualizado em 12/11/2022 09:31
Muito premiado durante a extensa carreira, o cineasta Noilton Nunes viveu na última quarta-feira (9) uma noite sublime em Campos, sua terra natal. Ele foi homenageado pela Folha da Manhã com o Troféu Folha Seca, que desde 2000 premia campistas de destaque nacional e/ou internacional em suas áreas de atuação. Estampada em um permanente sorriso no rosto, a felicidade ficou ainda mais nítida quando Noilton subiu novamente no palco do Teatro Municipal Trianon, dançando “Garotos II - O Outro Lado” diante da plateia e do cantor e compositor Leoni, que homenageou Gal Costa e emendou vários sucessos no 22º show de fim de ano da Folha.
— Receber esta homenagem mexeu muito comigo. Desde quando vi a foto do Troféu Folha Seca no jornal, comecei a fazer comparações dos meus filmes com os chutes do Didi. que ficaram famosos. Meus filmes são como a Folha Seca, porque eu dou chutes para o alto; depois, eles vão caindo e viram gols dentro das telinhas e telonas — afirmou Noilton Nunes, lembrando o ex-jogador de futebol Didi, bicampeão mundial pela Seleção Brasileira e primeiro homenageado com o Troféu Folha Seca, que leva o nome de um estilo de chute por ele criado.
Ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas, Noilton possui uma obra que mescla o lúdico com a crítica social. Aos 75 anos, leva no currículo a direção de filmes como “Neblina”, de 1968, premiado no Festival de Cinema Amador do “Jornal do Brasil”; “Leucemia - O filme da anistia”, eleito o melhor curta-metragem de 1978 pela Federação Nacional de Cineclubes e pela Jornada Internacional de Cinema da Bahia; e “O Rei da Vela”, representante do Brasil no Festival de Berlim em 1982 e triplamente premiado no Festival de Gramado do ano seguinte. Também dirigiu o clássico “Na Boca do Mundo” (1979), de Antônio Pitanga, protagonizado por Norma Bengell e pelo próprio Pitanga, com cenas gravadas na praia de Atafona, em São João da Barra. Na visão de Noilton, homenagens como o Troféu Folha Seca servem como estímulo para impulsionar o cinema brasileiro após a falta de incentivo enfrentada nos últimos anos.
— Eu sou um sobrevivente. Realmente, os últimos tempos foram de estrangulamento. A maior parte dos meus amigos está em crise total, eles estão totalmente desamparados. Os últimos anos causaram um trauma profundo na cultura, especialmente no cinema. Mas, em 2023 nós vamos dar o troco — prometeu Noilton. — Pretendo fazer vários filmes e também uma série (“O que era a vida?”), que vai ter oito capítulos. Considero que já não tenho mais condições de colocar tudo o que penso dentro de um longa-metragem só. Então, vou fazer uma série. Aliás, quero convidar pelo menos uma atriz daqui de Campos para fazer uma participação especial nesta série. Ainda não tenho o nome, não tive nenhum contato, mas vou dedicar uma especial atenção para uma atriz campista — revelou.
A noite também marcou um reencontro do carioca Leoni com o público de Campos. Fundador das bandas Kid Abelha e Heróis da Resistência, e em carreira solo desde 1993, ele já fez diversos shows na cidade, inclusive na Bienal do Livro de 2018, no Instituto Federal Fluminense, e em um bar na Pelinca, entre outros palcos.
— É a primeira vez que me apresento no Trianon. É um lindo teatro, eu não tinha ideia de que havia esse teatro aqui, super bacana, com um som legal. Estou feliz. Tenho tradição em Campos, também toquei muito no Rancho da Ilha, sempre lotado. Ficava imaginando de onde saía tanta gente, já que o rancho é um pouco afastado do Centro da cidade. Eu adoro, sempre gostei muito de me apresentar aqui em Campos — disse Leoni.
No palco, o artista interpretou sucessos próprio, como “A fórmula do amor”, “Como eu quero”, “Fixação”, “Garotos II”, “Lágrimas e chuva”, “Pintura íntima”, “Por que não eu?”, “Só pro meu prazer”, “Exagerado”, e também músicas de amigos como Cazuza, Hebert Vianna e Frejat. Cantou, inclusive, “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, dividindo a interpretação com o filho Antônio, integrante da sua banda. A faixa foi dedicada à cantora e compositora Gal Costa, que morreu na quarta-feira, aos 77 anos.
— Foi um susto muito grande. Há artistas que a gente até sabe que não estão muito bem de saúde, que a gente já espera que possa vir a acontecer alguma coisa. A Gal tinha feito uma cirurgia, mas não se esperava essa notícia. Admiro muito a Gal. Mais do que ser uma cantora, ela foi uma artista muito importante. Fez parte da Tropicália. Quando o (Gilberto) Gil e o Caetano (Veloso) foram para o exílio, ela teve uma atitude muito política no Brasil; fez aquele show “Fa-Tal”, que tinha uma coisa rebelde — destacou Leoni.
Verdadeiro fã de Gal Costa, ele guarda na memória algumas referências da artista, a quem tinha como um ídolo.
— Me lembro de quando era criança, eu morava em Ipanema. Tinha as dunas do píer, que viraram as dunas do Barato e depois foram apelidadas de dunas da Gal, porque ali tudo podia. Lá, em cima das dunas, não tinha polícia. Era uma coisa totalmente rebelde e, em termos comportamentais, muito moderna — recordou Leoni. — Durante a carreira, toquei duas vezes com ela, em shows com o holograma do Cazuza: um em São Paulo e um no Rio. Até postei no Instagram uma foto com ela, em que eu estou na guitarra. Pessoalmente, não a conheci muito bem, mas uma vez a encontrei na Bahia, meio que de raspão. A gente se falou muito rápido. Eu gostava muito dela. Infelizmente, ela se foi. Mas, a obra ficou aí, para nos deixar muito felizes. O show desta noite é em homenagem à Gal, e homenageá-la com “Alegria, Alegria” é especial. É uma música que fará parte do meu novo show, “Vem Alegria”, que vou estrear em abril. E é bacana porque, embora não tenha gravado essa música, a Gal gravou muitas músicas do Caetano, era muito amiga dele, do Gil. Alegria é o que ela passava para mim — finalizou.
Esta alegria esteve presente quando, ao cantar “Pintura Íntima”, Leoni desceu do palco e passeou no meio do público. Alegria também sentida pela diretora-presidente do Grupo Folha de Comunicação, Diva Abreu Barbosa, celebrando a retomada do Troféu Folha Seca e do show de fim de ano como mais um momento de valorização da cultura.
— É um renascer. Passamos por um período de pandemia, com dois anos, quase três anos de fechamento de tudo, as pessoas sem se falarem, usando máscaras. Acho que isso afetou muito a alma das pessoas. Poder voltar é como um renascimento. Que venham muitos novos anos e, mesmo depois que eu me for, que a Folha continue a fazer essa obra — desejou Diva.
O show de fim de ano da Folha e a entrega do Troféu Folha Seca tiveram patrocínio do Grupo MPE, cujo presidente, Renato Abreu, recebeu uma placa como agradecimento pela histórica parceria. Apoiaram o evento: Unimed Campos, Empresa Brasil, Palace Hotel, Chicre Cheme, Laboratório Plínio Bacelar e Restaurante Ponto e Vinho. Apoio cultural: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima.
Fotos: Rodrigo Silveira

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