Historiadores sugerem reflexões no bicentenário da independência do Brasil
Matheus Berriel 07/09/2022 08:16 - Atualizado em 13/09/2022 12:39
Hasteamento de bandeiras marcou abertura da Semana da Pátria em Campos na última quinta
Hasteamento de bandeiras marcou abertura da Semana da Pátria em Campos na última quinta / Foto: Matheus Berriel
Esta quarta-feira (7) será marcada por comemorações em todo o Brasil pelo bicentenário da Independência, inclusive em Campos, onde o tradicional desfile cívico acontece a partir das 8h, no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop). Porém, mais do que somente festejar a data em si, historiadores atentam para a importância de refletir sobre desafios do Brasil enquanto república independente e os próximos passos para adaptar a soberania a um formato mais enquadrado ao que se discute no mundo atual.
Um dos entrevistados desta quarta do “Folha no Ar, da Folha FM 98,3, a partir das 7h25, o historiador e ambientalista Aristides Arthur Soffiati localiza o movimento independentista do Brasil, efetivado em 1822, num contexto desenhado ao seu redor.
— A independência do Brasil se insere num movimento maior, que é o de independência de colônias europeias na América do Norte e na do Sul no final do século XVIII e no princípio do século XIX. Existe uma particularidade no caso do Brasil, pois foi o único país que fez a independência na forma de monarquia além do México. Mas, no México a monarquia só durou por dois anos, e no Brasil foram 67 anos. Outra particularidade é que foi um membro da Família Real Portuguesa (Dom Pedro I) quem fez essa independência do Brasil, embora é claro que havia forças nacionais querendo que o Brasil se tornasse independente — destaca Soffiati, que terá no Folha no Ar a companhia do também historiador e professor Eugênio Soares.
Soffiati enfatiza que a independência brasileira, bem como a de países vizinhos, serviu como exemplo para movimentos similares em nações da África e da Ásia até então igualmente colonizadas por nações europeias. Outro ponto observado pelo historiador foi que acontecimentos posteriores refletiram no formato de soberania adotado.
— Depois que a monarquia no Brasil foi substituída pela república, nós tivemos e temos uma república presidencialista e unitarista, marcada por pelo menos três grandes golpes de Estado. Toda vez que havia uma crise, a tendência era o poder central prevalecer sobre os poderes regionais, diferentemente dos Estados Unidos, onde toda crise era acompanhada por uma tendência de esfacelamento da União. O que foi entendido como soberania nacional é uma força muito grande, que entende que a autodeterminação de um país depende do seu presidente e não comporta nenhuma interferência externa. Hoje, o Estado nacional está vivendo um momento diferente. Nós estamos enfrentando os problemas transnacionais, como por exemplo a questão climática, a questão do comércio, a questão social. Então, neste sentido, a soberania absoluta não cabe mais. O que vem ao caso agora de se pensar em construir é uma soberania relativa, em que cada governo seja responsável por um projeto mundial de cuidar da sua população e do seu meio ambiente — sugere Soffiati.
O Brasil que se redesenha na proposta de Soffiati também pode encontrar soluções numa reflexão proposta pela historiadora Rafaela Machado, coordenadora do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho.
— Espero que as comemorações em torno do bicentenário da independência sirvam para nos fazer refletir sobre os múltiplos e diversos significados daquele momento político, e que nos permitam ir além de análises que tenham como fim último a repetição de feitos de antigos personagens e heróis. Localmente, espero que o momento seja propício ao desenvolvimento de pesquisas que tenham como enfoque privilegiado a história regional e em como o momento refletia uma vila, a de São Salvador, que irá negociar o seu papel na independência e que a partir de então passa a ter lugar ainda mais destacado na política imperial — comenta Rafaela Machado. — Passados 200 anos daquele 7 de setembro de 1822, aguardo que novos lugares e personagens além daqueles que comumente encontram lugar privilegiado na história passem a ser objetos de novas investigações, demonstrando os dinamismos locais daquele Brasil que nascia enquanto nação — acrescenta.
Na última segunda-feira (5), o bicentenário da independência foi tema de uma sessão solene na Câmara Municipal de Campos, fruto de parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Campos, o Museu Histórico, o Arquivo Público Municipal, a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima e a Escola Municipal de Gestão do Legislativo (Emugle).
— Em 1822, na Casa da Câmara, então localizada no Solar do Visconde de Araruama, na praça do Santíssimo Salvador, os vereadores da época fizeram uma representação que foi remetida para Dom Pedro I, se manifestando oficialmente pela adesão da Vila de São Salvador dos Campos dos Goitacazes à causa da independência. Toda essa participação do Legislativo Campista na história do país nos enche de orgulho, principalmente na passagem dos 200 anos da independência — observa o presidente da Câmara Municipal, Fábio Ribeiro, que conduziu a sessão.
Na ocasião, foram entregues placas ao próprio Fábio Ribeiro; ao vice-presidente do Instituto Histórico de Campos, Adelfran Lacerda, representando o presidente, Genilson Paes Soares; à coordenadora do Museu Histórico, Graziela Escocard; aos historiadores Eugênio Soares e Sylvia Paes; ao prefeito de Campos, Wladimir Garotinho; à presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Auxiliadora Freitas; à diretora da Emugle, Eliene Prata; ao bispo titular da Diocese de Campos, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz; e ao juiz de direito Heitor Campinho. Eugênio Soares também ministrou uma palestra sobre a relação da então Vila de São Salvador com a independência brasileira, seguida pela apresentação de um relatório de pesquisa sobre documentos do arquivo da Câmara Municipal referentes à independência, exibido pela historiadora Thalita Gomes, do Museu Histórico, e pelas pelas estagiárias da Emugle Gabriela Carneiro e Juliana Sousa.
Entre os desfiles cívicos que acontecem em Campos, o domingo (4) foi marcado pela retomada do de Guarus, reunindo na avenida Bartolomeu Lisandro alunos de 11 escolas municipais e uma escola estadual. Além do bicentenário da independência, o evento lembrou os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Nesta quarta, acontece o desfile no Cepop, e outro está marcado para domingo (11), às 9h, no Farol de São Thomé.
A Semana da Pátria está sendo celebrada em Campos desde quinta-feira (1º), quando aconteceu cerimônia de hasteamento de bandeiras na praça do Santíssimo Salvador, além da inauguração de placas no Museu Histórico, na Catedral do Santíssimo Salvador e à esquina das ruas Vigário João Carlos e Barão do Amazonas, onde em 1822 funcionava a Casa da Ópera, lembrando que naqueles locais ocorreram comemorações pela independência. Houve também apresentação da nanda da Guarda Civil Municipal. No mesmo dia, o Hino Nacional Brasileiro e o Hino da Independência foram executados no Museu Histórico pelo pianista Ivan Glória, que também participou da sessão de segunda-feira na Câmara.

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