Matheus Berriel
20/08/2022 08:17 - Atualizado em 15/11/2022 17:08
“Os prefeitos da região precisam se organizar e cobrar da universidade a aplicação dos recursos”. Foi o que disse o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano, ao ser indagado sobre a reforma do Solar do Colégio, em Campos. Entrevistado na Feijoada da Folha, no último dia 7, o agora candidato a senador Ceciliano referiu-se aos R$ 30 milhões repassados pela Alerj à Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) para a realização de dois projetos, sendo um deles a restauração do prédio que abriga o Arquivo Público Municipal. Até o momento, não há previsão para a obra começar.
De acordo com o reitor da Uenf, Raul Palácio, o início das intervenções, orçadas em R$ 20 milhões, depende da existência de um projeto de restauração. Em matéria publicada pela Folha no dia 2 de julho, ele destacou que seria necessário haver uma licitação, até o momento não realizada pela universidade.
— Estou de férias. Estamos aguardando pelo projeto. Assim que apresentarem o projeto, a gente executa — enfatiza Raul Palácio, mencionando que está em fase mais avançada a criação de um museu e uma escola de extensão no casarão da Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, que foi o outro projeto abraçado pela verba da Alerj. — Lá, está mais avançado pelo acordo realizado entre Prefeitura, Iphan e Uenf. Como somos os responsáveis pela fazenda em Cabo Frio, a responsabilidade pela preparação do projeto é nossa, já com autorização do Iphan para realizar a obra. Em relação ao Solar do Colégio, esse direito é da Prefeitura (de Campos). Mas, pensamos em fazer a mesma solicitação, para ver se temos o mesmo resultado. Paralelamente a isso, aguardamos pela análise técnica preliminar, que a Prefeitura deve entregar, para iniciarmos a licitação — complementa o reitor da Uenf.
Em nota, a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Auxiliadora Freitas, disse que já foram enviados à Uenf todos os documentos solicitados. Por outro lado, alegou que o órgão, vinculado à Prefeitura, “não tem corpo técnico para elaboração de projeto de restauração de prédios históricos, e, por isso, procurou uma assessoria técnica de empresas com expertise e renome no mercado e que possuíssem notório saber no que tange à restauração de prédios públicos”. Há um ano, foi firmado pela Prefeitura de Campos um termo de cooperação com a Sociedade Artística Brasileira (Sabra), empresa de Betim e com atuação na região histórica de Minas Gerais, para a realização de projetos deste tipo no município. A Sabra fez um projeto emergencial para Solar do Colégio, e o entendimento da Prefeitura é de que este projeto deve ser executado a curto prazo.
— Tudo foi devidamente encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que, por sua vez, aprovou o projeto. Portanto, a parte do projeto inicial já está devidamente aprovada pelo Iphan, e seria salutar a sua execução urgente para impedir que o prédio do Solar do Colégio venha ao chão. Sobre o projeto executivo, a verba que a Alerj liberou para o restauro do Solar, diretamente à Uenf, possibilita a contratação de empresa especializada para a formatação do mesmo. Prefeitura e FCJOL seguem buscando alternativas para que o projeto emergencial das obras se efetive o mais rápido possível — complementa Auxiliadora Freitas, reforçando a afirmação do prefeito Wladimir Garotinho, em entrevista à Folha FM no dia 24 de junho, de que “depende agora da Uenf”.
Em meio ao imbróglio, a coordenadora do Arquivo Público Municipal, Rafaela Machado, torce para que a solução seja rápida, de modo que o prédio não sofra maiores danos com o passar do tempo.
— A equipe do Arquivo continua empenhada nos trabalhos de preparação do acervo para o início das obras, como já vínhamos fazendo. Além disso, o Arquivo vem acompanhando o andamento das questões burocráticas e das exigências legais necessárias que impedem o início imediato das obras, bem como atua diretamente no compartilhamento de informações técnicas necessárias ao processo. Sabedores que somos da necessidade urgente de intervenção para que Solar e Arquivo tenham condições de atuação, temos empreendido todos os esforços para que tão logo a restauração seja iniciada. No mais, entendemos que os entraves burocráticos são parte de processos dessa envergadura e que as exigências legais são necessárias à total transparência, mas temos acompanhado de perto os esforços empreendidos por todos os envolvidos nessa restauração tão importante à região — ressalta Rafaela, que na Feijoada da Folha chegou a ter uma rápida conversa com Ceciliano e o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campos, Edvar Júnior.
Construído pelos jesuítas de 1652 a 1690, o Solar do Colégio foi tombado pelo (Iphan) em 1946 e desapropriado pelo Governo do Estado em 1977, com posterior cessão à Prefeitura. Desde 2001, funciona como sede do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, onde ficam acervos de jornais e outros documentos históricos de Campos e região. Outra reivindicação de historiadores e pesquisadores é a de que o material seja digitalizado.