ABL busca alternativas para restauração do Solar da Baronesa e planeja uso com fins literários
Matheus Berriel e Edmundo Siqueira 09/07/2022 05:00 - Atualizado em 09/07/2022 10:25
Solar da Baronesa de Muriaé
Solar da Baronesa de Muriaé / Foto: Rodrigo Silveira
Após avanços de bastidores relacionados às reformas dos solares dos Airizes e do Colégio, que ainda não foram iniciadas por diferentes motivos, mais um casarão histórico de Campos voltou à pauta. Trata-se do Solar da Baronesa de Muriaé, situado no trecho da BR 356 que liga a planície goitacá a Cardoso Moreira, à margem esquerda do rio Muriaé. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) desde 1974 e reformado pela última vez há 45 anos, o prédio foi visitado na última quarta-feira (6) pela gestora administrativa da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ana Paula Castro, que não descarta a liberação do prédio para ser usado com fins literários após a necessária restauração. Entre as sugestões, há a do presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos, para que seja instalada por lá a Biblioteca Municipal, possibilitando passeios turísticos e até visitas de imortais da ABL, além de liberar espaço para outras atividades no recém-reformado Palácio da Cultura. A proposta tende a ser bem recebida pela ABL, que já possui um projeto de restauração e estaria pré-disposta a enviar parte do seu acervo num segundo momento. Antes, porém, é preciso viabilizar parcerias que possibilitem a recuperação estrutural.
Construído em 1844, o Solar da Baronesa sediava uma fazenda com grande fabricação de açúcar e aguardente, tendo como proprietários o Barão de Muriaé, Manuel Pinto Neto da Cruz, e sua esposa, Raquel Francisca de Castro Neto. Foi nele que o então imperador Dom Pedro II se hospedou, em 1847, durante visita a Campos. Com amplos salões, o prédio costumava ser palco de saraus de gala da aristocracia rural.
Mesmo após a morte do Barão de Muriaé, a Baronesa viveu por considerável tempo no solar, época em que este passou a ser conhecido com a nomenclatura atual. Em 1879, já idosa, Raquel Francisca foi elevada ao título de Viscondessa. Depois da sua morte, o solar chegou a pertencer ao senador João Cleófas, inclusive fazendo parte do acervo da Usina Sapucaia. Já em estado de abandono, foi utilizado como abrigo por mendigos, enquanto o seu salão mais conservado funcionou como escola primária. Só em 1975 foi doado à ABL, que realizou uma reforma de 1977 a 1978. Consta que, nesta reforma, o interior da construção e o seu entorno foram modificados.
Então presidente da ABL, o jornalista Austregésilo de Athayde era frequentador do Solar da Baronesa. A partir da sua morte, em 1993, o casarão entrou em nova fase de declínio. Foi abandonado o seu plano de instalar no local a sede do Instituto Internacional de Cultura da ABL, bem como o de construir, em prédio anexo, a Biblioteca Varnhagen, que teria mais de 200 mil volumes e serviria para realização de ações educacionais.
Com a deterioração do prédio, causada pelo tempo, chegou a haver uma determinação judicial para que fosse ocorresse uma restauração. Em 2017, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro costurou um acordo em que a ABL garantiu a implementação da reforma, firmando um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que estendeu o prazo de cumprimento da sentença judicial, dados o vulto financeiro e a extensão das obras necessárias. Participaram da assinatura do termo o procurador da República Stanley Valeriano da Silva e o presidente da ABL àquela altura, o professor Domício Proença Filho.
Entre os imortais presentes no ato de assinatura do TAC estava o escritor Marco Lucchesi, que no ano seguinte viria a assumir a presidência da ABL. Em maio de 2018, ele veio a Campos para visitar o Solar da Baronesa, acompanhado pelo então prefeito, Rafael Diniz, e pelo reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF), Jefferson Manhães, entre outras autoridades.
— O Solar da Baronesa é da Academia, que vai restaurá-lo. A intenção da minha visita, enquanto presidente desta entidade, foi ouvir instituições de Campos, porque é com elas que a gente vem fazendo contato há algum tempo, antes mesmo de eu presidir (a ABL). A ideia, com isso, é que órgãos representativos de Campos definam sobre qual será a utilização deste espaço, pois ninguém melhor do que pessoas da cidade para entender a melhor utilidade para o solar — disse Marco Lucchesi na ocasião.
Em agosto do ano passado, antes de terminar a sua gestão, Lucchesi voltou a Campos, desta vez para reunião com o prefeito Wladimir Garotinho, visando “catalisar todas as potências e encontrar meios de restauração do solar”. Também participaram do encontro a primeira-dama de Campos, Tassiana Oliveira; a gestora administrativa da ABL, Ana Paula Castro, e um representante da Sociedade Brasileira Artística (Sabra), que, no mesmo mês, firmou com a Prefeitura um termo de cooperação com foco na recuperação de bens históricos do município.
Quase um ano depois, na visita da última quarta, a representante da ABL Ana Paula Castro apresentou algumas possibilidades. Embora tenha alegado não poder dar entrevistas sobre o tema em nome da Academia, informou que é estudada a possibilidade de liberação para uso do prédio, mas que este deve ser restaurado e utilizado dentro do seu objetivo-fim: a literatura. Ana Paula ficou de enviar à reportagem no dia seguinte uma declaração do atual presidente da ABL, o jornalista e escritor Merval Pereira, mas o posicionamento não foi emitido até o fechamento desta edição. Para o presidente da CDL de Campos, alternativas devem ser buscadas.
— É preciso pensar o patrimônio histórico como algo nosso, de todos; criarmos pertencimento. O Solar da Baronesa é um caso emblemático de construção muito significativa para nossa história, belíssima, que pode ser usada para diversos fins educacionais e culturais. A visita da Ana Paula foi ótima e mostrou que a ABL está de portas abertas. Precisamos criar alternativas para restaurar e dar uso a mais esse solar — afirma Edvar Júnior.
Quem também acompanhou a visita de Ana Paula Castro foi a coordenadora do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard, convidada por Edvar junto a outros nomes atuantes no setor histórico-cultural campista.
— A população deveria cobrar providências acerca da preservação do Solar da Baronesa e de tantos outros prédio históricos da nossa região abandonados. No entanto, como amar e preservar aquilo que não conhecemos? Falta em nossa população a consciência sobre preservação, identidade e memória. É preciso criar ações voltadas para a educação patrimonial, para que se possa gerar um sentimento de pertencimento com o patrimônio regional. Enquanto esse trabalho não for amplamente difundindo, iremos carecer na preservação do que ainda existe de pé — enfatiza Graziela.
Em nota, a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Auxiliadora Freitas, informou que a entidade ainda não foi contactada pela ABL. “Sempre haverá, por parte da FCJOL, interesse em dar uso aos prédios históricos do município, bem como o incentivo para que os mesmos sejam revitalizados, como vem acontecendo com os equipamentos que estão sob a guarda desta fundação. Entretanto, para isto, temos que ter recursos. No momento, estamos empenhados na busca de recursos para restaurar e reformar os equipamentos da fundação. De qualquer forma, estamos abertos ao diálogo”, diz a nota.
  • Solar da Baronesa do Muriaé

    Solar da Baronesa do Muriaé

  • Interior do Solar da Baronesa do Muriaé

    Interior do Solar da Baronesa do Muriaé

  • Solar da Baronesa do Muriaé

    Solar da Baronesa do Muriaé

  • Interior do Solar da Baronesa do Muriaé

    Interior do Solar da Baronesa do Muriaé

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    Interior do Solar da Baronesa do Muriaé

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