* Arthur Soffiati
19/04/2025 09:49 - Atualizado em 19/04/2025 09:49
Arthur Soffiati
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Numa das minhas visitas a Nova Friburgo, procurei uma banca de jornal, como sempre faço em minhas viagens, e adquiri um jornal local. Apenas quatro páginas. Notícias da cidade, coluna social, editorial e um artigo assinado por Assuramaya. O nome me era conhecido de longa data. Procurei no final alguma referência sobre o autor. Encontrei apenas “Assuramaya é amigo de vocês”.
No Google encontro que ele foi laboratorista do Ministério da Saúde nos anos de 1950. Nesse tempo distante, ele começou a estudar por conta própria os ciclos cósmicos e biológicos. Em Sepetiba, zona rural da cidade do Rio de Janeiro, montou a “Granja Experimental de Astrologia”. Começou a escrever horóscopos a partir de 1957 em jornais assinando-se Assuramaya. Concentrou seu trabalho de astrólogo em “O Dia” a partir de 1973, escrevendo também para “A Cigarra”, em São Paulo. Ao mesmo tempo, apresentava o Show de Astrologia na Rádio Nacional. Promoveu o primeiro congresso de astrologia do Brasil e ministrou um curso sobre o tema na Universidade Estácio de Sá.
Fundou, em Copacabana, no ano de 1982, o Templo da Sublime Ordem Mística de Aquário e o Centro de Pesquisas Astrológicas. Nessa mesma década foi morar em Lumiar, onde fundou um retiro espiritual. Com a idade, tornou-se mais reservado, mas ativo. Escreveu livros. Foi artista plástico e, aos poucos, desapareceu. Nunca me sintonizei com astrologia, mas simpatizava com Assuramaya e seus longos cabelos. Perdi-o de vista e fui reencontrá-lo num modesto jornal de Nova Friburgo lá pelo ano de 2003.
Meu interesse pela imprensa do interior continua. Pena que os jornais impressos em papel estejam sendo substituídos por jornais virtuais divulgados pela internet. Não apenas jornais de papel deixam de circular nesse tempo em que os custos se tornam proibitivos, como vários já nascem virtuais. Não é difícil criar um jornal hoje. O mundo eletrônico não somente facilita a divulgação de notícias, como favorece a propagação de mentiras.
Continuo procurando pelos jornais de papel nos lugares que visito. Quando estive em Coimbra, Porto e Santiago de Compostela, em 2019, comprei os jornais que encontrei nas bancas, outra característica de um tempo que está desparecendo. Antigamente, o mundo chegava a nós pelos jornais. Os intelectuais não tinham vergonha de colaborar com os jornais.
Voltando a Portugal em 2024, tracei um roteiro para conhecer o sul e o norte do país, entrando um pouco na Espanha. Na rodoviária de Évora, comprei um exemplar de “Diário do Sul”. Apenas oito páginas. Na primeira página, a informação: “Único diário regional do sul”. De fato, os jornais de Lisboa dominavam na banca. Apenas o dedicado ao sul de Portugal me interessou. Periodicidade diária. Notícias regionais, vida religiosa, obituário, propaganda. Na última página, um artigo sobre a seca no sul de Portugal. Bom artigo.
Visitei Portimão, Sagres e passei dois dias em Faro. Estive em Vila Real de Santo Antônio e hospedei-me em Beja. Não encontrei bancas de jornais nesses lugares. Não me dei ao trabalho de procurar jornais virtuais na internet. Depois de uma rápida passagem pela Espanha, retornei a Lisboa e parti para o norte de Portugal. Meu objetivo era conhecer Miranda do Douro. Passei dois dias nessa fascinante cidade e comprei um exemplar do “Jornal do Nordeste”, que eu já conhecia de nome. Trata-se de um semanário regional editado em Bragança. Editorial, artigo assinado, notícias regionais, opinião, propaganda, desporto (sempre com grande destaque) e uma página redigida em mirandês, uma das línguas nascidas na fronteira de Portugal e Espanha. O português e o espanhol parecem condenar essas línguas à morte.
De volta a Lisboa, embarco para a ilha da Madeira. Logo no aeroporto, adquiro um exemplar do “Diário de Notícias”. Ao todo, 40 páginas. Noticiário da ilha. Como em todo o lugar, a Madeira é o centro do mundo. Propaganda. Esportes. Como Cristiano Ronaldo nasceu na ilha, o destaque para ele é muito grande. Medicina. Gastronomia. Cartas dos leitores. Crônica assinada. Palavras cruzadas. Programação de TV. Obituário. Notícias locais no tom de “o mundo curva-se à ilha da Madeira”, como em todo o lugar.
Finalmente em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, uma das nove que formam o arquipélago dos Açores, adquiro dois jornais no aeroporto: “Correio dos Açores” e “Açoriano Oriental”. O primeiro parece um periódico dedicado a todo o arquipélago, pois traz notícias de várias freguesias. Nada de novo. Entrevista com um padre longevo de personalidade forte. Propagandas. Programação de TV e cinema (estavam exibindo “Godzilla X Kong” e “O panda do Kung Fu 4”. No segundo jornal, extensa matéria sobre a Sata, empresa de aviação das ilhas, verdadeiro orgulho insular. Em todo lugar do mundo, nascem e morrem pessoas. Os necrológios são página constante em todo o lugar. No mais, os jornais regionais ou locais sempre me enchem de nostalgia e me fazem refletir sobre a vida.