Arthur Soffiati - Lugares excluídos
* Arthur Soffiati 08/02/2025 11:18 - Atualizado em 08/02/2025 11:18
Arthur Soffiati
Arthur Soffiati / Divulgação
Em minha viagem épica à Península Ibérica, em junho de 2024, não pude chegar a lugares pretendidos por falta de transporte e de tempo. Eu já havia reservado pousadas, mas tive de desistir. Em outros, porém, e exclusão foi feita antes da minha partida. Era pouco tempo para muita viagem, além dos custos.
O primeiro desses lugares excluídos previamente foi Odemira. Existem lendas sobre a origem do nome, mas, na verdade, ele deriva do árabe uad, que significa rio. Mira também significaria água em língua pré-céltica. Assim, Odemira corresponderia a curso de água. Mira é o nome de um rio do sul de Portugal. Rio pequeno, regulando com o rio Macaé. Sua extensão é de 130 km, mas é excessivamente barrado e colocado a serviço da agropecuária principalmente. Odemira fica em suas margens. As origens da cidade são muito antigas, com vestígios que remontam a tempo anterior à ocupação romana da península.
Quem viaja ao norte de Lisboa, conta com trens que chegam a várias partes da Europa. Ao sul do Tejo, os transportes são mais escassos e irregulares. Para chegar a Odemira partindo de Évora, eu teria de voltar a Lisboa e tomar um ônibus numa longa viagem. No Brasil, é comum a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes, que se mistura a entidades de cultos africanos. No sul de Portugal, o culto se volta para Nossa Senhora do Mar. Existe uma linda capela em Odemira consagrada a N.S. do Mar.
Tive também de excluir previamente uma rápida visita a Vila Nova de Milfontes. Trata-se de lugar na foz do rio Mira também muito antigo e muito bonito. É interessante como os estuários dos rios do sul de Portugal são belos, por mais que, em seus cursos, sejam barrados e sofram com a escassez de água. Vila Nova é um dos melhores portos naturais da costa meridional de Portugal. Fenícios, gregos e romanos fixaram-se nesse ponto no tempo em que instalações portuárias não necessitavam de grandes dimensões. Para chegar a Vila Nova de Milfontes partindo de Odemira, eu teria de tomar um táxi. Considerei o meio de transporte um tanto incerto e temerário.
Eu pretendia também conhecer Odeceixe, logo ao sul de Vila Nova de Milfontes. O meio de transporte era igualmente o táxi. A palavra também deriva do árabe: uad Seixe, ou seja, rio Seixe. Trata-se de uma linda praia onde desemboca, no mar, a pequenina ribeira do Seixe, que conta com história antiga, assim como em outros lugares.
A ribeira de Alzejur desemboca pouco mais ao sul de Odeceixe. Conta com apenas 18 km de extensão, menor ainda que o pequenino rio Una, na Região dos Lagos, que corre por 23 km. Tem, porém, um belo estuário na praia da Amoreira. Está teoricamente protegido pelo Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. A biodiversidade dentro dele é grande e variada. A comunicação da ribeira com o mar é intermitente, seja por incapacidade do pequeno rio em manter a foz aberta, seja por força do mar. Nós conhecemos bem esse fenômeno no Brasil, até mesmo com grandes rios, como o Doce e o Paraíba do Sul.
De Alzejur, eu teria de chegar a Sagres de táxi. Excluídos todos esses lugares que minha curiosidade desejava tanto conhecer, alcancei Sagres por outro caminho, saindo de Portimão de ônibus. Passei a tarde em Sagres e ainda cheguei a Faro à noite. O plano era ficar dois dias nesta cidade, capital do Algarves, e seguir de trem para Vila Real de Santo Antônio, na fronteira com a Espanha e na foz do rio Guadiana. De lá, alcançar a famosa cidade de Sevilha, no sul da Espanha e às margens do rio Guadalquivir, o quinto maior em extensão da Península Ibérica. Com seus 657 quilômetros de extensão, ele é menor do que o rio Doce, mas tem muita história social. Fenícios, gregos, romanos, visigodos, mouros e finalmente cristãos o dominaram. Não apenas núcleos urbanos têm história, mas também solos, rios, vegetação nativa, fauna silvestre, ar, chuva contam com duas histórias: a natural e a humana. O Guadalquivir não banha Sevilha. Esta é que se ergue às suas margens. O rio chegou primeiro.
Cortei a cidade do meu roteiro por dois motivos: falta de tempo e plano de evitar os grandes centros. Todas as informações mostram Sevilha como uma cidade muito adensada, quente e seca.
Ao norte do rio Tejo, tive de excluir a vila de Penacova, que integra o distrito de Coimbra. O lugar ergueu-se às margens do alto rio Mondego. Está quase na fronteira de Portugal com Espanha. Conta com quase 3 mil habitantes e tem como padroeira Nossa Senhora de Assunção. Na gastronomia, a vila é conhecida por pratos feitos com lampreia. O nome da vila tem origem controversa que não se relaciona a morte ou cemitério.
Por duas vezes, na rodoviária de Coimbra, cogitei de comprar uma passagem para Penacova. A viagem é curta, mas os horários de ônibus são impróprios para quem deseja chegar e voltar no mesmo dia.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    BLOGS - MAIS LIDAS

    Mais lidas
    Morre Marcos Antônio Leonardo de Freitas

    O corpo de Marcos foi sepultado no Cemitério Campo da Paz nesta manhã de sexta-feira; ele realizava tratamento para leucemia

    Proprietária de clínica veterinária é presa em flagrante em Campos

    Mulher foi detida na Pelinca por manter medicamentos vencidos em sua clínica; prisão ocorreu após denúncias anônimas

    Quiosque do Nelson encerra as atividades em Atafona

    Foram mais de 20 anos de história na praia sanjoanense

    Morre a professora Ely Silveira Felisberto, viúva do ex-prefeito Rockfeller de Lima

    Velório acontece nesta quarta , às 19h30, no Campo da Paz, e sepultamento será nesta quinta, às 10h, em Travessão

    Carro a serviço do IMTT estacionado em vaga para pessoa com deficiência em supermercado

    As imagens mostram o motorista próximo do carro e andando normalmente; em nota, o IMTT informou que o carro pertence a uma empresa prestadora de serviço