Arthur Soffiati - Holocenologia (I)
Arthur Soffiati - Atualizado em 12/01/2022 16:45
Vivemos na época geológica chamada Holoceno, que deriva do grego “holos” (todo ou inteiro) e “kainos” (inteiramente recente). A palavra expressa o insustentável orgulho do ser humano consigo mesmo e com suas obras. Não vivemos num tempo inteiramente recente nem inteiramente passado. A duração do Holoceno ainda é muito curta. Estima-se que tenha apenas 11.700 anos. A Terra tem 4.500 bilhões de anos. O ser humano, na forma em que o conhecemos hoje, existe há cerca de 200 mil anos.
O Pleistoceno, época anterior à atual, foi dominada por intensas oscilações climáticas. Ora muito frio (as glaciações), ora quente (os intervalos entre as glaciações). Talvez o Holoceno seja um intervalo interglacial. Pode ser que a Terra volte a congelar num novo tempo glacial. Talvez estejamos ainda no Pleistoceno a caminho de uma nova glaciação. Vivemos um período em que a Terra está mais quente e que pode ser substituído por novo período muito frio. A tendência atual é de aquecimento progressivo como resultado das ações humanas.
No fim do Pleistoceno e início do Holoceno, espécies vegetais e animais se extinguiram pela radical mudança do clima. O mamute, o dente de sabre, o mastodonte, não se adaptaram ao aquecimento do planeta. O hemisfério norte estava coberto de gelo até a Espanha, mais ou menos, enquanto que no hemisfério sul chovia muito. As florestas tropicais eram bem maiores. Onde hoje é o deserto do Saara, estendia-se uma grande floresta.
Com a mudança do clima, alguns grupos humanos que, como todos os outros, viviam da coleta, da pesca e da caça, passaram a domesticar plantas e animais, criando a agricultura e o pastoreio. Foi uma resposta ao desafio lançado pelas mudanças climáticas. Essas novas atividades permitiram que tais grupos adotassem um modo de vida sedentário. As doenças transmissíveis se tornaram mais comuns e perigosas, pois, estabelecidos num lugar, o acúmulo de lixo e de pessoas favoreceu a transmissão de micro-organismos patogênicos. Em grupos que sempre se movimentavam, as doenças transmissíveis eram menos frequentes. Nunca a humanidade viveu de forma tão fixa e tão móvel como hoje. As grandes cidades do mundo promovem aglomerações, e os meios de transporte cada vez mais rápidos transportam organismos patogênicos, como o vírus da Covid-19, a todos os lugares da Terra.
Mas não se pense que o clima no Holoceno permaneceu estável o tempo todo. Além das oscilações anuais que marcam as quatro estações no hemisfério norte e as duas do hemisfério sul, houve períodos longos mais quentes ou mais frios que o atual. No início do Holoceno, as temperaturas eram muito baixas. O nível dos oceanos situava-se até cem metros abaixo do atual, mais ou menos. Muitas das atuais ilhas eram então ligadas, formando pontes que permitiram grupos humanos provenientes da Ásia povoarem a Austrália e a América. As temperaturas começaram a subir, derretendo geleiras nos continentes e elevando o nível dos oceanos. As terras mais baixas foram inundadas, e as terras altas se transformaram em ilhas, como a Inglaterra e o Japão.
O ponto de calor mais alto no hemisfério norte ocorreu por volta de 6.500 anos antes do presente. Outro foi registrado entre 4.500 e 4000 antes do presente. Os menores foram registrados em 3.000, 2.000, 1.000 antes do presente e, atualmente, a partir de 1850. Entre eles, houve intervalos frios, como entre 6 e 5 mil, 3.200, 2.500, 1.800 e de 1.400 a 1.700 antes do presente.
Essas oscilações climáticas foram naturais e ocorreram quando a humanidade era bem menor e vivia em grupos distanciados. Os deslocamentos eram feitos a pé, a cavalo e em embarcações rústicas se comparadas às atuais. Se, entre 10 e 7 mil anos antes do presente, alguns grupos inventaram a agricultura, o pastoreio, a cestaria, a cerâmica, o polimento da pedra, a metalurgia e a tecelagem, entre 3.200 e 3.000, alguns grupos de agricultores e pastores erigiram as duas primeiras chamadas civilizações: a mesopotâmica, no delta formado pelos rios Tigre e Eufrates, e a egípcia, ao longo do rio Nilo. Outras mais vão se erigir depois. O aquecimento médio do planeta permitiu que grupos humanos passassem a viver da agricultura e do pastoreio, que inventassem os sistemas de escrita, que se dedicassem a grandes construções, como templos, palácios e sepulturas.

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