Ciro Gomes anunciou em seu perfil no Twitter, nesta quinta-feira (04), que deixará sua pré-candidatura à Presidência da República suspensa até que a bancada do PDT reverta apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que trata da renegociação do pagamento de precatórios. Para o sociólogo Roberto Dutra, a decisão de Ciro é uma postura de defender maior coerência ideológica dentro do PDT, que, segundo ele, carece dessa coerência há bastante tempo.
Na rede social, Ciro escreveu que o partido não pode “compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas”. “Justiça social e defesa dos mais pobres não podem ser confundidas com corrupção, clientelismo grosseiro, erros administrativos graves, desvios de verbas, calotes, quebra de contratos e com abalos ao arcabouço constitucional”, comentou.
A PEC prevê a limitação anual de gastos com precatórios, que são dívidas do governo com condenação judicial definitiva, além de promover a correção das quantias com base na taxa Selic, permitindo que se altere o formato de cálculo do teto de gastos. Na madrugada desta quinta, o texto foi aprovado pela Câmera dos Deputados, com 312 votos a favor e 144 contra.
O sociólogo Roberto Dutra deu sua opinião sobre a postura de Ciro Gomes e criticou a falta de coerência idelogócica do PDT. "O modo como o PDT é dirigido, por Carlos Lupi, explica em grande parte isso (a falta de coerência ideológica). Esses deputados federais que votam contra essas questões ideológicas centrais do partido, um partido de centro-esquerda, eles são eleitos dentro de um padrão. O Lupi tem a mania de construir diretórios fisiológicos nos municípios, com candidaturas e lideranças que não têm afinidade com as políticas do PDT, que não se empenham por exemplo nas campanhas presidenciais do PDT. Aqui em Campos, por exemplo, Caio Vianna não se empenhou na campanha de 2018 de Ciro e até agora parece que não assumiu firmemente sua postura de apoio a Ciro. Então o PDT tem problemas internos, como muitos partidos têm, é um partido pouco coeso", disse.
Para Dutra, o pré-canditado foi corajoso em sua posição e conseguirá reverter a situação. "Ciro, ao meu ver, teve uma postura muito corajosa porque ele cobra muito a autocrítica dos outros partidos, como o PT, e quando chegou um momento decisivo, como esse, eu acho que ele se colocou a altura de quem cobra autocrítica porque está fazendo uma autocrítica, inclusive pública. Expôs uma contradição do partido publicamente e colocou o capital político dele em jogo para isso. É claro que é uma forma de pressionar o partido, para que na votação em segundo turno mude de posição, mas o Ciro é uma pessoa muito sincera. O Ciro tem linhas claras pelas quais ele não vai. Então, é uma situação delicada, mas acho que o Ciro ganha essa batalha", afirmou ao acrescentar que essa situação poderia ter que ser enfrentada no futuro. "E é uma contradição para a candidtatura dele, que mais cedo ou mais tarde ia ter que ser enfrentada. De certo modo para ele é melhor enfrentar isso agora, do que na época da campanha. É muito provável que deputados que votaram a favor dessa PEC vão apoiar Bolsonaro", concluiu.