Olimpíadas começam com protocolos rígidos e medo da pandemia
21/07/2021 21:43 - Atualizado em 21/07/2021 21:47
Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
Não é a primeira vez que Tóquio teve que lidar com incertezas quanto à realização da Olimpíada. A edição que deveria ser realizada no país em 1940 foi transferida para Helsinque, na Finlândia, por conta de guerra e instabilidade política. Oitenta anos depois, em 2020, a pandemia de covid-19 trouxe um novo clima de insegurança e medo, com a doença tomando conta do mundo e ameaçando a realização da competição.
Após muita pressão, em março de 2020, logo após a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) elevando o estado de contaminação pelo novo coronavírus como pandemia, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou o adiamento da 32ª edição do evento para 2021.
Depois de mais de um ano, a covid-19 continua a matar milhares de pessoas por dia, as vacinas são escassas - principalmente nos países mais pobres – e a maioria dos japoneses é contra a realização enquanto a pandemia perdurar, mas os Jogos Olímpicos foram confirmados e vão ocorrer com protocolos e medidas duras de segurança a partir desta quarta-feira (21), com a cerimônia de abertura na sexta (23). A chama olímpica, que chegou ao país no dia 20 de março de 2020, permaneceu no Japão durante todo o ano. O revezamento da tocha foi adaptado às exigências sanitárias e retomado em 25 de março de 2021, culminando no acendimento da pira durante a abertura oficial.
Apesar de ser em 2021, o nome oficial dos Jogos continuou como Tóquio 2020, já que cada ciclo olímpico, que são as Olimpíadas, dura quatro anos. Mesmo suspenso pela pandemia, a competição representa o fim do ciclo olímpico que resultou no 32º Jogos Olímpicos de verão, subsequente ao Rio 2016. Também pesa o lado comercial, uma vez que não seria viável lançar outra marca, que já era licenciada para venda de produtos e afins.
De acordo com o presidente do COI, Thomas Bach, há simbolismo na manutenção do nome, como uma “celebração da humanidade, que superou esse desafio sem precedentes do coronavírus”: “Com essa decisão, estamos demonstrando nosso compromisso com os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e com o sucesso do evento, e também nossa gratidão ao povo japonês, ao Comitê Organizador, às autoridades governamentais e a todos que prepararam esses Jogos Olímpicos tão bem”, afirmou, em entrevista.
A medida mais rígida é a ausência do público. Apenas atletas, comissão técnica e equipe organizadora estarão nas arenas e instalações de competição. A organização ainda planejou que os atletas sejam submetidos a testagem constante, restrição de deslocamento pela cidade, necessidade de distanciamento social e utilização obrigatória de máscaras – com exceção durante as competições.
O técnico da seleção masculina de vôlei, Renan Dal Zotto, em coletiva no Japão, disse que “os protocolos estão bastante rígidos, o que impediu até a realização de jogos amistosos para preparação”. Renan ficou internado no Brasil durante 40 dias em consequência da covid-19, mas conseguiu se recuperar a tempo dos Jogos de Tóquio.
Até o pódio será diferente. Não haverá mais a tradicional entrega de medalhas aos vencedores. Os próprios atletas terão que pegar as medalhas e colocar no peito. Se alguém tiver um teste confirmado para a covid-19, será isolado e não poderá competir. O não cumprimento dos protocolos poderá levar à exclusão dos Jogos Olímpicos e até a deportação do Japão.
Nem mesmo a iminência da cerimônia de abertura e as primeiras partidas disputadas no beisebol/softbol e futebol afastam totalmente o risco de um cancelamento de última hora. É o que assegurou o chefe do comitê organizador dos Jogos, Toshiro Muto. Em entrevista coletiva concedida nesta terça (20), ele afirmou que a organização está atenta ao número de infecções pelo novo coronavírus e segue mantendo discussões. O governo japonês ainda ampliou a fase de emergência da pandemia até o dia 22 de agosto para evitar a proliferação da covid-19, com ampliação das proibições de circulação e funcionamento de atividades comerciais na capital.
No site oficial dos Jogos, os organizadores disponibilizam uma relação diariamente atualizada de casos confirmados de covid-19 entre credenciados (atletas, membros de delegações e entidades esportivas, imprensa, funcionários, prestadores de serviços e voluntários). A contagem foi inaugurada no dia 1º de julho e, até o dia 21, somavam-se 75 positivos – sendo seis atletas.
Mesmo com a cidade passando por uma onda de contaminações pela covid-19, Bach afirmou que “o risco para outros moradores da Vila Olímpica e o risco para o povo japonês é zero".
O médico Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que a maior preocupação é com a variante delta do novo coronavírus, que surgiu na Índia e já está presente no Brasil. “A Olimpíada é importante, mas não houve um consenso mundial de que ela poderia ter sido realizada, porque a pandemia ainda está ativa. Nós temos várias variantes - inclusive a Delta, que é altamente transmissível, sobretudo em aglomerações”, disse. O infectologista espera que as medidas adotadas pelo governo japonês sejam eficazes, mas que não existe 100% de garantia que as pessoas não serão contaminadas.
Tóquio viveu um clima parecido com o da década de 1930: em setembro de 1940, a cidade receberia a Olimpíada. Mas, em 1938, o Comitê Olímpico Japonês renunciou à organização dos Jogos. A invasão à China, no que ficou conhecida como Segunda Guerra Sino-Japonesa, e as ameaças de boicote inviabilizaram os Jogos em solo japonês e fizeram com que o COI levasse a competição para a Finlândia – em edição que não aconteceu, desta vez em decorrência da Segunda Guerra Mundial.
Durante a guerra mundial, o Japão compunha o Eixo, com Alemanha e Itália, que seria derrotado pelos aliados em 1945. A tragédia da guerra deixou ao império japonês as consequências da explosão de duas bombas atômicas em seu território, lançadas pelos Estados Unidos. No seu processo de reconstrução em um novo cenário mundial, a capital japonesa recebeu a 18ª Olimpíada em 1964. Foi então a primeira vez que a competição ocorreu em um país asiático.
Em 1964, a seleção masculina de basquete conquistou sua terceira medalha olímpica de bronze (já tinha ficado em terceiro lugar em Londres 1948 e Roma 1960). Foi a única medalha que a delegação brasileira faturou naquela edição. Mas há feitos que entraram para a história mesmo sem a condecoração: Aída dos Santos, única mulher entre os 68 brasileiros que competiram, conquistou, praticamente sem apoio, o quarto lugar no salto em altura.
Neste ano, nenhuma mulher brasileira conseguiu vaga para o salto em altura. Mas o Brasil vai contar com Eliane Martins, no salto em distância, e Núbia Soares, no salto triplo, para as provas do atletismo, que serão disputadas no Estádio Olímpico. Já as equipes de basquete masculino e feminino brasileiro ficaram de fora dos Jogos de 2020.

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