Nélio Artiles: DIP 32 anos
* Por Nélio Artiles Freitas, médico e professor.
O Serviço de DIP (Doenças Infecciosas e Parasitárias) do Hospital Ferreira Machado está completando 32 anos de serviços à comunidade campista e a toda a região Norte Fluminense. Lembro bem quando chegava a Campos, nos meus jovens 26 anos, recém-casado e ainda com um mestrado por completar, em uma época que a Infectologia não era ainda especialidade regulamentada. Desbravando esta nova estrada, me deparava com uma nova e apavorante pandemia, a Aids. Passei a ser chamado para ver diversos pacientes, em meio a medos e inseguranças, até mesmo sobre as formas de contágio. Até transmissão por mosquitos se cogitava e ali estava eu, em meio a picadas em vários bairros, atendendo e vendo pacientes que ninguém queria ver, por medo ou desconhecimento.
Foi um grande desafio. Comecei uma peregrinação em busca da abertura de um serviço que pudesse internar casos de doenças infecciosas. Passando muitas vezes pela direção do hospital, entre representantes do Legislativo, diretamente com o prefeito e vice-prefeito, recebendo promessas e esperanças. Mas sozinho não poderia criar nada e, assim como um sopro divino, as pessoas foram se juntando como soldados voluntários para aqueles novos enfrentamentos. Coincidia o fato de ser um médico concursado daquele hospital que, em sua tradição, se destacou no atendimento à tuberculose em Campos, tendo inclusive sua arquitetura sido projetada com este intuito, com varandas largas e ótima ventilação.
Mas fui atropelado pela grande demanda da abertura, na época, da tão sonhada emergência na cidade de Campos, pela localização privilegiada do hospital. Porém uma nova era se punha à nossa frente, com pacientes que não tinham onde se internar. Naquela época foram frequentes, além de Aids, casos como meningites, leptospiroses, tétano, entre outros, que eram distribuídos nos leitos dos vários hospitais, sem o acompanhamento especializado.
Mas como fazer um serviço quando havia apenas eu de infectologista na cidade e nenhum outro profissional com experiência? Unindo fé, força e muita vontade consegui, após idas e vindas, conversas e conversas, políticas e políticas, conquistar a criação do nosso serviço de DIP.
Aos poucos, alguns profissionais começaram a se chegar como Alamir, Castro, Mara, Sidinho, Cláudio, Márcia, Elisa, Iris, Eleonora, Augusto, Janete, Aurinete, Eleonísia, Marcinha, Lígia, Silvia, Josete, Genaldo, Adilça, Iolanda, Terezinha, Luiza, Alcemir, Newton, Dalva entre muitos outros, que ajudaram na operacionalização e implantação do serviço. A partir de então, infectologistas ex-alunos participaram com brilhantismo e dedicação, como Telmo, Andreya e Marcus e, posteriormente, Simone e Renata Salomão.
Desde o início observava-se a importância da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade em um atendimento global, envolvendo não só o paciente, mas todo o contexto biopsicossocial, envolvendo família e sociedade. A problemática da Aids foi a grande força motriz para que tudo acontecesse. E assim conheci Fátima Castro, que enfrentava ao mesmo tempo, do lado de fora do hospital, uma guerra na criação de um espaço digno e acolhedor para pessoas discriminadas e sofridas, usando armas diferentes, como o amor, a determinação e a sua luz, que tanto admiro.
Passados tantos anos de lutas, com perdas e muitos ganhos, fazendo o melhor dentro do que é possível fazer, entre tantas crises da saúde pública, salvando e cuidando de tanta gente, só tenho gratidão a cada um que, de alguma forma, viveu e sofreu para que pudéssemos por todos esses anos sermos um serviço de referência em Infectologia na região e no Estado, ajudando a tantas pessoas. Obrigado Deus, que nos incluiu neste seu projeto e plano.

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