Dom Rifan: Unidade na diversidade da liturgia
20/07/2021 15:44 - Atualizado em 20/07/2021 17:22
Dom Rifan  Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Dom Rifan Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Na Carta Apostólica Traditionis Custodes, de 16 de julho último, o Papa Francisco trata do uso da Liturgia Romana antes da reforma de 1970, e relembra que “para promover a concórdia e a unidade da Igreja, com paternal solicitude para com aqueles que em qualquer região aderem às formas litúrgicas anteriores à reforma pretendida pelo Concílio Vaticano II, os meus Veneráveis Predecessores São João Paulo II e Bento XVI, concederam e regulamentaram a faculdade de usar o Missal Romano editado por São João XXIII em 1962. Desta forma, pretendiam ‘facilitar a comunhão eclesial daqueles católicos que se sentem apegados a algumas formas litúrgicas anteriores’ e não a outras”.
Mas, como foram necessários reajustes nesta regulamentação, ele o faz, neste Motu Proprio, entregando ao Bispo de cada Diocese, a competência de, “como moderador, promotor e guardião de toda a vida litúrgica da Igreja particular que lhe foi confiada, ...autorizar o uso do Missal Romano de 1962 na sua diocese, segundo as orientações da Sé Apostólica”. Nem é preciso dizer que, como católicos, acatamos essa orientação do Papa Francisco.
Infelizmente, essa intervenção do Papa atual foi provocada pelos abusos de muitos chamados tradicionalistas, que, não observando o que desejava Bento XVI, instrumentalizaram a Missa na forma tradicional para atacar o Papa e o Concílio Vaticano II. Mas esses não são a maioria nem os mais importantes, mas são os que mais gritam e aparecem nas redes sociais. É incomparavelmente maior o número daqueles fiéis que aderem à forma antiga do Rito Romano por razões corretas, nem a instrumentalizam, nem negam a ortodoxia e o valor do Concílio Vaticano II nem a reforma litúrgica dele oriunda, a chamada Missa de Paulo VI, ou a forma normal do Rito Romano. Os justos não poderiam pagar pelos pecadores (cf. Gn18,23-25).
Nós, da Administração Apostólica, e muitíssimos outros fiéis do mundo inteiro, conservamos a Missa na sua forma antiga, não por motivos heterodoxos, mas por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, como bem explicou o Papa São João Paulo II: “Todos os pastores e os outros fiéis devem também ter uma nova consciência não somente da legitimidade, mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta diversidade constitui assim a beleza da unidade na variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja faz subir ao Céu” (M. P. Ecclesia Dei, 1º de julho de 1988). E pela riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das suas cerimônias, pelo seu sentido de mistério, pela sua maior precisão e rigor nas rubricas, segurança contra os abusos, ela se torna um enriquecimento da liturgia católica, una na essência e múltipla nos seus ritos. E cito o grande teólogo e liturgista Cardeal Joseph Ratzinger (depois Bento XVI): “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos, Santiago 13/7/1988).

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