Texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica é questionado
Mario Sergio Junior - Atualizado em 20/02/2021 08:16
A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) deste ano defende como tema central “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, para convidar os cristãos e pessoas de boa vontade a buscarem caminhos para a superação das polarizações e das violências do mundo atual. No entanto, o assunto proposto descortinou uma divergência ideológica, principalmente por parte da ala mais conservadora da Igreja Católica. Para o bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, Dom Fernando Rifan, o problema da campanha se estabelece em seu texto-base, que apresenta conteúdo de ideologia de gênero. Já o bispo da Diocese de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, observou que essa crítica relacionada à CFE se deve a dois fatores: aos que não entendem a campanha e aos antiecumênicos.
Neste ano, o texto-base da CFE foi feito pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic) e diz que “é importante salientar que as relações sociais de classe, de gênero, de raça, de etnia estão historicamente interligadas”. Em seguida, afirma que um “grupo social que sofre as consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos, é a população LGBTQI+”, e cita dados do Grupo Gay da Bahia apresentadas no Atlas da Violência 2020.
Dom Fernando Rifan defendeu a campanha, mas destacou que o texto-base é uma sugestão e não uma obrigação a ser seguida. “Infelizmente, a atual Campanha da Fraternidade trouxe divisão. Por ser ecumênica, confiaram a redação do texto base ao Conic. A autora principal do texto foi uma pastora protestante. Na comissão de redação, só havia um representante da Igreja Católica, que, certamente, foi voto vencido. Mas é um texto base de sugestão, para discussão. Um texto ruim, com insinuações errôneas e tendenciosas. Não é doutrinário nem obrigatório. A CNBB já declarou que não abre mão da doutrina católica do Magistério. E todo católico sabe disso”, declarou o bispo em seu artigo publicado na Folha da última quarta.
Já o bispo diocesano argumentou que vê a CFE baseada nas palavras do Papa Francisco, que prega união e esperança: “Estamos vivendo momentos muito duros para toda a humanidade e mais do que nunca o mundo precisa de unidade.A igreja tem que defender a vida de todos”.
Em relação ao texto-base, Dom Roberto disse o seguinte: “O objetivo geral é superar a violência e a polarização. O texto-base usa como referência o Atlas da Violência, que mostra os altos índices de criminalidade contra a população LGBT, contra os negros, indígenas, mulheres, ativistas sociais, entre outros. O tema da campanha não é o LGBT, mas sim pregar a união para superarmos as dificuldades vivenciadas por toda a humanidade”, opinou.

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