O governador Wilson Witzel postou um vídeo nas redes sociais em que afirma "que não é ladrão". A manifestação acontece dois dias depois das primeiras notícias de que o ex-secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, teria fechado acordo de delação premiada, onde entregaria provas da participação de Witzel em um esquema de corrupção na pasta.
"Eu quero dizer ao povo do Estado do Rio de Janeiro. Fui juiz federal por 17 anos. Na minha carreira, tive uma vida ilibada. Fui considerado linha dura. Me elegi governador do Estado do Rio de Janeiro. Todas essas acusações levianas que estão sendo feitas contra mim são por parte de gente que não quer um juiz governando o estado do Rio de Janeiro. Não sou ladrão. Não deixarei que corruptos e ladrões estejam no meu governo. Eu peço ao povo que acredite, porque nós vamos vencer essa guerra contra a corrupção", disse Witzel no vídeo.
Na mesma publicação, o ex-juiz escreveu que está pronto para a "guerra" nos tribunais. "Sou preparado para guerra, seja no campo de batalha ou nos tribunais. Eu governo o RJ com ética e transparência para fazer o melhor pela população fluminense e não compactuo com qualquer desvio de conduta", escreveu.
Além das investigações do Ministério Público Federal (MPF), o governador também enfrenta um processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Com dificuldades para conseguir um líder na Casa após a recusa de Bruno Dauaire (PSC), o chefe do Executivo fluminense entrou com um mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), alegando que a Alerj praticou “ato ilegal e violador de garantia constitucionais”.
De acordo com a jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, os termos da delação de Edmar Santos já estariam fechados e que a expectativa é de que a delação seja homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no retorno do recesso, em agosto. O ex-secretário teria se comprometido a devolver cerca de R$ 8,5 milhões aos cofres públicos.
Edmar e Witzel são suspeitos de participarem de um esquema de corrupção que teria superfaturado os contratos para compra de respiradores. Além disso, a polêmica contratação da organização social Iabas para a montagem de sete hospitais de campanha no estado, incluindo um em Campos , ao preço de R$ 770 milhões continuam rendendo. A OS foi afastada e o atual titular da secretaria, Alex Bousquet, já disse que não está no planejamento da pasta a abertura das unidades de Campos e Casimiro de Abreu. Porém, a Justiça da planície goitacá determinou o bloqueio dos royalties do petróleo que cairiam nas contas do governo estadual para a conclusão do hospital na cidade.
Nas redes sociais, Witzel se defendeu: “Com relação às informações divulgadas pela imprensa sobre um possível acordo de delação do ex-secretário Edmar Santos com a PGR, reafirmo, com serenidade e firmeza, o meu compromisso com a população do RJ de governar com ética e transparência. Minha trajetória de vida fala por mim. Jamais me desviei do caminho da lei e, desde janeiro de 2019, do objetivo de reerguer o nosso Estado. Nem eu e nem ninguém pode ser acusado de qualquer irregularidade sem prova”.
O ex-secretário Edmar Santos, que é tenente-coronel da Polícia Militar, foi preso na manhã da última sexta-feira em sua casa, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio. Santos também é acusado pelo Ministério Público estadual de ser chefe de uma organização criminosa que atuava na secretaria de Saúde. Segundo as investigações, o ex-secretário e outros funcionários da pasta fraudaram contratos de venda de respiradores para paciente com Covid-19. As acusações são de que as compras foram superfaturadas. A prisão de Santos foi decretada pelo juiz Bruno Rulière, da 1ª Vara Criminal Especializada do Rio.
Witzel também é investigado pela compra dos respiradores, mas no Superior Tribunal de Justiça. Nessa segunda-feira, a PGR pediu que o STJ fique responsável por todos os processos relativos às fraudes na saúde no Rio, na Operação Mercadores do Caos.
Witzel aciona TJ e tenta barrar impeachment
Enquanto isso, na Alerj, o assunto principal continua sendo o impeachment do gover-nador. Wilson Witzel entrou com um mandado de segurança na Justiça estadual para tentar barrar o processo, com alegação de falta de provas e ‘cartas marcadas’; de que a Comissão foi criada sem votação; que a Alerj não indicou o número de membros da Co-missão de impeachment; e que o grupo não respeita proporcionalidade partidária e não delimitou escopo das denúncias.
A defesa pede que a Justiça suspenda o processo até a Alerj apresentar as provas para o prosseguimento da denúncia e depois institua uma Comissão Especial de Impeachment com votação aberta, sendo composta por 25% dos deputados da Casa e seus membros eleitos com respeito à proporcionalidade partidária. Após isso, a defesa de Witzel pede que seja elaborado um parecer inicial, contendo os fatos que serão investigados.
Presidente da Comissão Especial, o macaense Chico Machado (PSD) disse que não há nada contra a lei no procedimento. “Cada partido da casa colocou um representante na comissão, o argumento sobre a composição do grupo não faz sentido. Estamos na demo-cracia, ele procura os direitos que acha que tem. Tenho certeza que estamos fazendo tu-do certo”.
Enquanto isso, o governo corre contra o tempo para tentar encontrar um novo líder na Alerj. O cargo está vago desde abril, quando Márcio Pacheco (PSC) entregou o boné. Na última semana, Bruno Dauaire chegou a aceitar o convite de Witzel para assumir o posto, mas depois de um encontro com o ex-governador Anthony Garotinho, recuou e desistiu da ideia. Ontem, a coluna Radar, da revista Veja, publicou que a aposta agora seria no chamado “baixo clero” do Palácio Tiradentes. Luciano Ratinho (PTC) passou a ser o mais cotado.