Etevaldo Pessanha: O "novo" idoso
01/05/2020 06:15 - Atualizado em 08/05/2020 21:50
Etevaldo Pessanha, professor da Faetec e Isecensa
Etevaldo Pessanha, professor da Faetec e Isecensa / Folha da Manhã
O país do futuro está envelhecendo. No Brasil e no mundo, a taxa de natalidade vem caindo, enquanto a longevidade humana cresce, por conta dos avanços da medicina e de hábitos mais saudáveis. Entre 1940 e 2018, a expectativa de vida ao nascer aumentou 30,8 anos. No Brasil, segundo o IBGE, a expectativa de vida, em 2019, era de 80 anos para as mulheres e 73 anos para os homens.
De acordo ainda com dados do IBGE, a parcela de nossa população com mais de 65 anos era de 10,5% em 2018, segundo dados da Pnad Contínua, divulgada em maio de 2019. Pelas projeções do instituto, esse percentual atingirá 15% em 2034 e alcançará 25,5% em 2060. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera um país envelhecido quando 14% da sua população possuem mais de 65 anos. Na França, esse processo levou 115 anos, na Suécia, 85. No Brasil, levará pouco mais de duas décadas, quando, em 2032, 32,5 milhões de brasileiros terão 65 anos ou mais. Isso sem contar que daqui a 11 anos a nossa população terá mais pessoas com 60 anos do que crianças menores de cinco anos.
Na Itália, o conceito de velhice aos 65 anos está definitivamente superado. A Sociedade italiana de Gerontologia e Geriatria decidiu adiar a velhice em 10 anos. Um italiano agora só é oficialmente idoso depois dos 75 anos de idade, porque uma pessoa de 70 anos, hoje, possui as condições físicas de uma de 40 ou 45 anos, trinta anos atrás, com mais experiência e capacidade intelectual.
Segundo a pesquisadora do IPEA, Ana Amélia Camarano, “a definição de idoso ficou velha”. O que é ser idoso, então, nos dias de hoje? É estar fisicamente saudável, e bem, do ponto de vista mental e psicológico. É ter disposição para trabalhar, praticar atividades físicas, interagir socialmente, namorar, curtir a vida. É ter pensamento positivo e viver essa fase com alegria e prazer. É ser ativo, produtivo e conectado.
Há uma estreita ligação entre longevidade e produtividade no trabalho, é o que indica um estudo feito em 35 países, de acordo com dados do Think with Google, revelando que uma pessoa madura, que já viveu vários estágios, gasta menos tempo e tem menos atividades que demandam dedicação (ex: criar filhos, adquirir uma formação profissional). Assim, o trabalhador sênior pode dedicar seu tempo ao trabalho e se torna mais comprometido com a empresa, sendo mais rápido e seguro na tomada de decisões. Contudo, o mercado ainda prefere apostar na contratação de jovens, em grande parte por preconceito.
O Brasil precisa investir em ações públicas e oferecer à sua população, que envelhece rapidamente, a oportunidade de viver melhor e de transformar a sua própria realidade, refletindo uma imagem positiva da velhice. Estamos vivenciando um período de mudanças de comportamento, diante da pandemia do novo coronavírus, que certamente modificará o nosso modo de ver o mundo. É necessária uma mudança de paradigma para o enfrentamento do desafio do envelhecimento da população brasileira e mundial.

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