Professor da charge de Bolsonaro comunicado por telefone a ficar em casa
Camilla Silva 22/03/2019 15:08 - Atualizado em 25/03/2019 17:08
Charge de Vitor Teixeira publicada em 19 de outubro de 2017 no site
Charge de Vitor Teixeira publicada em 19 de outubro de 2017 no site "Humor Político"
Dois dias após a secretaria de Estado de Educação (Seeduc-RJ) decidir afastar o professor que apresentou uma atividade com uma charge dos presidentes Jair Bolsonaro (PSL) e Donald Trump, o docente não trabalhou nesta sexta-feira (22). Ele informou que recebeu uma ligação da diretora da escola, por volta das 7h, solicitando que ele não comparecesse ao trabalho. O professor disse, ainda, que procurou a Coordenadoria Regional de Educação, assistido por uma advogada, e foi orientado a aguardar uma decisão sobre a situação, que não teria previsão para acontecer. Segundo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe-RJ), não houve afastamento oficial, mas professor foi convidado a não dar aula para “acalmar os ânimos”. Desde quinta, a Folha tenta contato com a Seeduc, que não se manifestou mais sobre o assunto após informar a decisão. O docente e representantes do Sepe serão recebidos, nesta tarde, pelo presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Flávio Serafini (Psol).
Após o pronunciamento de que o docente seria afastado, a Folha tentou contato com a Seeduc para informações sobre quando a medida iria ser tomada e por que o órgão considerou que o afastamento era a melhor opção neste caso específico, sem sucesso. Nessa quarta, uma página do Facebook divulgou o print de uma mensagem atribuída ao secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, informando o afastamento do professor antes mesmo de a secretaria se manifestar oficialmente sobre o caso. A assessoria também não comentou o assunto.
A atividade, apresentada, na última quarta-feira (20), pedia que os estudantes do 3ª ano do ensino comentassem uma charge na qual aparecem o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), e o dos Estados Unidos, Donald Trump, na cama, embaixo de cobertores, com a bandeira estadunidense ao fundo. O trabalho foi fotografado por um aluno e divulgado nas redes sociais por grupos que defenderam a punição do docente por considerarem que apresentava conteúdo impróprio. As mensagens afirmavam que a ação faria parte de uma tentativa de doutrinação por parte de um movimento político de esquerda. Alguns comentários contestam, inclusive, se a imagem poderia ser apresentada a alunos adolescentes. Outros consideram que a atividade deveria gerar, inclusive, um processo ao professor. Também teve quem defendesse o direito do professor, salientando que charges políticas sempre foram usadas em atividades acadêmicas.
Nesta quinta, o professor, que pediu para não ser identificado, falou à Folha que, desde que o trabalho proposto em sala de aula foi divulgado nas redes sociais, uma série de agressões e ameaças começaram a chegar até ele: “Eu já estou sendo assistido por alguns órgãos de representação e nós vamos acionar juridicamente que compartilhou essas imagens fora de contexto, atribuindo crimes a mim”, informou.
— O trabalho foi apresentado dentro de um contexto. Os alunos foram instruídos a identificar o humor, a ironia, que são figuras de linguagem muito comuns de texto. A charge é prevista na grade curricular desde a 8ª série. A charge trata de um contexto político amplamente divulgado na mídia do mundo inteiro. Assim, sua análise (contra ou favorável) ficou a critério única e exclusivamente dos alunos, usando para isso, seus próprios argumentos, não havendo assim, doutrinação — explicou o professor.
 
 
 
 

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