Pedro Fernandes: "Um estado só é forte com o interior forte"
Aldir Sales e Suzy Monteiro 29/09/2018 09:58 - Atualizado em 01/10/2018 19:14
Candidato a governador pelo PDT, Pedro Fernandes vem de uma família ligada à política. A mãe, Rosa Fernandes (MDB), foi eleita vereadora pela sétima vez seguida e, em 2016, teve a maior votação na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, o dentista por formação se apresenta como uma nova opção, mesmo depois de passagens nos governos César Maia e Marcelo Crivella, na Prefeitura carioca, e de Sérgio Cabral (MDB) e Luiz Fernando Pezão (MDB). E afirma: “Fui escolhido para todos esses governos como secretário pelo meu perfil técnico”. Ex-titular da pasta estadual de Ciência e Tecnologia, o deputado estadual diz que a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) tem papel “extremamente importante” na estratégia de educação do seu plano de governo e afirmou que o interior do estado estará vivendo uma nova realidade daqui a quatro anos, caso ele seja eleito, com a educação como “dínamo do desenvolvimento”.
Folha da Manhã – Você foi secretário nos governos César Maia (DEM) e Marcelo Crivella (PRB), na Prefeitura do Rio, e de Sérgio Cabral (MDB) e Luiz Fernando Pezão (MDB), no Governo do Estado. Como convencer o eleitor de que você representa uma nova política depois de passar por governos de “figurinhas carimbadas” da política tradicional?
Pedro Fernandes – Fui escolhido para todos esses governos como secretário pelo meu perfil técnico. Porque diferentemente da maioria dos políticos, em paralelo a todas as minhas atividades como parlamentar, eu me preocupei em me qualificar como gestor. Por isso fiz diversas pós-graduações, mestrado e estou fazendo doutorado, em universidades do Brasil e do exterior. Então, tenho um diferencial, que é unir o político e o técnico. Conheço a realidade dos mais necessitados de perto - venho do subúrbio do Rio de Janeiro - e tenho a qualificação necessária para ser um bom gestor. Essa é a grande novidade. Quero ressaltar também que tanto na minha atividade parlamentar, quanto ocupando cargos de secretário, sempre mantive a minha independência e nunca fui apegado a cargos ao ponto de fazer qualquer coisa para ficar. Prova disso foram minhas denúncias na Alerj sobre desperdício de medicamentos, as más condições do metrô e a falta de policiamento no subúrbio e Baixada Fluminense, por exemplo. Como secretário não abaixei a cabeça. Entreguei o cargo ao governador Pezão quando ele não cumpriu a palavra de pagar juntos todos os profissionais que atuam no sistema educacional estadual. Ou seja, os professores da Faetec e universidades tinham que receber junto com os professores lotados na secretaria de educação. E fui o primeiro secretário de Ciência e Tecnologia a visitar a Uenf. Tudo isso também é novo.
Folha – Hoje no PDT, você já foi filiado ao PMDB (atual MDB) e sua mãe, a vereadora Rosa Fernandes, ainda pertence aos quadros do partido. Você já deu declarações de que pretende criar uma secretaria de combate à corrupção, caso seja eleito. Não é contraditório?
Pedro – Minha família está há anos na política sem nunca ter sido envolvida em um escândalo sequer, nenhuma denúncia ou suspeita. Passei por diversos cargos e nunca respondi a nenhum processo. Tenho autoridade para criar essa secretaria, sim. Que os outros respondam pelo que fizeram. Quem rouba tem que ser punido com cadeia.
Folha – O Tribunal de Contas do Estado (TCE) rejeitou as contas do governador Pezão de 2016 por unanimidade por, entre outras irregularidades, não ter repassado o mínimo constitucional de 12% do orçamento na Saúde. Você era membro da Comissão de Orçamento da Assembleia Legislativa e, filiado ao MDB na época, votou para aprovar as contas do governador, seguindo o relator Edson Albertassi (MDB) e com o mesmo voto do deputado de Paulo Mello (MDB), que estão presos por corrupção. Você votaria diferente se fosse hoje? Por que não seguir o parecer técnico do TCE?
Pedro – O ano de 2016 foi completamente atípico por causa da crise. O Governo do Estado praticamente não conseguiu gerir o seu dinheiro. Eram bloqueios e mais bloqueios nas contas para pagar isso ou aquilo. Neste cenário, como gerir e destinar os percentuais estabelecidos? Além disso, quando conseguia gerir alguma coisa, o governo optou por pagar salários, que chegaram a ficar atrasados vários meses, como todos acompanharam. Foi uma escolha de Sofia. Naquele momento, não havia mais nada a fazer.
Folha – Em entrevista à coluna Informe, do jornal O Dia, em 12 de junho, a deputada estadual Cidinha Campos, uma das mais experientes do PDT, disse que você é “mimado pela mãe” e que “não é preparado para ser governador”. Como você recebeu essas críticas de dentro do próprio partido?
Pedro – A deputada Cidinha, a quem eu respeito muito, sempre quis que o partido apoiasse outro candidato ao Governo do estado. Isso é um ponto. Além disso, ela se descontrolou quando eu tentei incluir a gasolina na lei que diminuía os impostos sobre o diesel, para diminuir o preço desse combustível e acabar com a greve dos caminhoneiros. Considerei meu pleito justo, por beneficiar também os pequenos empresários e a população. A deputada se exaltou e falou sem pensar. Todo mundo sabe que a Cidinha às vezes se descontrola. Não guardo mágoas. Pelo contrário, tenho uma ótima relação com ela.
Folha – Candidato a prefeito de Campos em 2016 pelo PDT, o filho do ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB), Caio Vianna tenta uma cadeira na Câmara dos Deputados, mas tem feito campanha para Romário (Pode) na cidade e caminhou com o seu concorrente quando o ex-jogador esteve no município. Você considera isso como uma traição?
Pedro – Se isso realmente aconteceu, não cabe a mim comentar. É uma questão para ser tratada pelo partido e seus dirigentes. Eu não sou da direção.
Folha – Em um eventual segundo turno na disputa pelo Governo do Estado, quais dos demais candidatos você deixaria subir no seu palanque e nos de quais você subiria?
Pedro – Continuo confiante de que vou para o segundo turno. Nem penso em outra hipótese.
Folha – Nas últimas pesquisas de intenção de voto, o seu nome aparece entre 1% e 2% da preferência do eleitorado, enquanto o candidato a presidente pelo PDT, Ciro Gomes, tem 10% no estado do Rio de Janeiro. Por que os números do partido onde Leonel Brizola foi governador não decolam?
Pedro – Muita gente ainda não escolheu seus candidatos. A população anda descrente e desinteressada da política. Tenho a certeza de que tanto eu quanto o Ciro seremos vitoriosos. Porque temos as melhores propostas e somos os mais preparados.
Folha – Em 2016 você deu uma declaração de que o valor da refeição nos Restaurantes Populares fosse reajustado de R$ 2 para R$ 5 para que não fossem fechados, “nem que comam de dois em dois dias”. A frase não foi considerada infeliz por você mesmo depois. Qual sua opinião sobre o programa?
Pedro – Os restaurantes populares são fundamentais e estavam fechados àquela época. Os gestores achavam isso normal, mas eu trabalhava incansavelmente para achar alternativas para reabrir. Minha frase foi mal interpretada. O que eu quis dizer foi que era melhor reabrir com o preço mais alto do que continuar fechado. Porque do jeito que estava, a realidade era não comer dia nenhum.
Folha – Sob intervenção militar do governo federal, a Segurança é hoje um dos principais problemas do Estado do Rio. O senhor já disse que a intervenção não é a solução para o problema da violência. Qual seria, então, a solução? Por quê?
Pedro – O combate à violência não é uma tarefa fácil nem com uma solução mágica. Vou trabalhar em vários frentes. A curto e médio prazos, reponto os efetivos. Vou convocar imediatamente 1.500 PMs já aprovados em concurso e 1.000 policiais civis também já aprovados. Também investirei em tecnologia, como softwares de reconhecimento facial e de câmeras de monitoramento, e em inteligência. Em longo prazo, é apostar na educação. Logo de cara, vou acabar com os postos de vistoria do Detran que custam R$200 milhões por ano e investir esse dinheiro na transformação de 500 colégios estaduais já existentes em escolas de horário integral, com atividades esportivas e lúdicas. A escola precisa ficar atraente para que o jovem não se sinta mais seduzido pelo crime.
Folha – Além da violência, o Estado do Rio vive também um quadro de insolvência financeira. O que pensa sobre o regime de recuperação fiscal firmado entre os governos Michel Temer e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB. Propõe algo diferente?
Pedro – Foi um acordo que o Governo do estado fez no desespero. Foi mais ou menos como recorrer a um agiota. Vamos rever os termos desse acordo. Já falei isso com o Ciro, que será o próximo presidente. E afirmo: jamais irei privatizar a Cedae, uma empresa que traz milhões de lucro para o estado e precisa ser gerida e guiada para atender às necessidades das áreas mais pobres, que nem sempre são as mais lucrativas.
Folha – A face mais cruel da falência financeira do Estado se dá sobre os servidores ativos e inativos. Qual o seu compromisso em honrar mensalmente esses vencimentos?
Pedro – O Regime de Recuperação Fiscal foi necessário para retomar o funcionamento do Estado, mas certamente deve ser revisto e aperfeiçoado. Da forma como foi acordado, simplesmente empurrou o problema para o próximo governo, gerando uma dívida impagável. Equiparo a uma agiotagem em desfavor do Estado do Rio, a maneira como foi firmado. Todos os servidores, ativos e inativos, e a população, sobretudo a mais pobre, aquela que mais depende dos serviços públicos foram afetados. A revisão do RRF será prioridade absoluta.
Folha – Outra face do caos financeiro se dá sobre o abandono da Uenf e do Colégio Agrícola Antônio Sarlo. No debate da Band, quando perguntados sobre a Uerj, apenas Garotinho, Paes e Tarcísio lembraram que a Uenf também existe. O senhor, que foi secretário de Ciência e Tecnologia no governo Pezão, não. Por quê?
Pedro – Os debates têm um formato por demais engessado e, por isso, muitas vezes não conseguimos falar tudo sobre um tema. A minha postura como secretário de Ciência e Tecnologia mostra o que penso. Estive ao lado dos professores e quando o governador não honrou os compromissos assumidos com eles, cumpri minha palavra e deixei a secretaria. A Uenf é extremamente importante e precisa fazer parte da estratégia de educação de qualquer governo sério. Na minha gestão ela será sempre reconhecida dessa forma.
Folha – Quais são seus planos para Porto do Açu na questão do desenvolvimento específico do Norte Fluminense?
Pedro – O Porto do Açu é estratégico como fator de desenvolvimento do Norte Fluminense. Desde sua inauguração, em 2014, ele deveria estar sendo usado em sua plenitude, pois é estratégico em qualquer plano de desenvolvimento do Norte Fluminense. E um dos grandes problemas de infraestrutura do Rio são os gargalos no escoamento da produção. Ele é vital no aumento da dinâmica distributiva das exportações e importações
Folha – Com sua foz em Atafona assoreada, o rio Paraíba do Sul sofre há bastante tempo em período de estiagem. Há registro de língua salina já no distrito de Barcelos. Há vida para Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana sem o rio que os formou? Como recuperá-lo?
Pedro – Esse é um problema antigo, que não pode ser resolvido apenas pelo município. O Estado participará ativamente nos estudos que indiquem as soluções técnicas ideais. Não podemos assistir de braços cruzados esse drama dos moradores da região. Há condições técnicas para isso. E vamos em busca dela. É um compromisso meu.
Folha – O que Campos, Norte e Noroeste Fluminense devem esperar de Pedro Fernandes governador?
Pedro – Não apenas essas regiões podem esperar muito de mim como governador. Um Estado só é forte com um interior forte também. Há enormes potencialidades a serem desenvolvidas. E há parceiros, como o Sebrae, com enorme conhecimento acumulado. Prefeituras e Governo Estadual precisam desenvolver um plano de desenvolvimento que seja um marco na mudança de atitude até hoje reinante, de encarar o interior como um fardo. Podem me cobrar. Daqui a quatro anos o interior do Estado, aí incluídos Campos e outras cidades do Norte e Noroeste Fluminense, estarão vivendo outra realidade. Dentro dessa estratégia a educação será, como disse, o dínamo do desenvolvimento das vocações locais a serem priorizadas.

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