De forma pacífica, cerca de 50 pessoas, entre familiares e amigos de Layron da Silva Costa, de 24 anos — morto após ser baleado em uma ação da polícia na Praça do Repolhinho, em Atafona —, realizaram, entre a tarde e noite desta quarta-feira (29), um protesto no km 169 da BR 356, na altura de Degredo, em São João da Barra. Três faixas foram usadas durante o ato, sobre saudades e pedidos de justiça. Uma cruz com capacetes foi feita no meio da via. A maior parte dos manifestantes vestia camisas com o rosto de Layron. Onze policiais militares acompanharam o ato, em cinco viaturas, além de dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que organizaram o trânsito e controlaram o protesto. Durante uma hora e meia, os manifestantes ficaram apenas às margens da pista, enquanto dois deles distribuíram panfletos aos motoristas dos veículos que passavam. Quando já anoitecia, o grupo sentou no meio da pista, deixando apenas os acostamentos liberados. A 6ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPMJ), órgão da Corregedoria Interna da PMERJ, abriu procedimento interno para investigar a ação dos militares envolvidos no caso. O delegado titular da 145ª Delegacia de polícia de São João da Barra, Carlos Augusto Guimarães, disse que aguarda o laudo da perícia técnica. A noite, uma reunião do Conselho Comunitário de Segurança, que não contou com a presença do comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), Fabiano Souza, em viagem de trabalho, tratou apenas da importância do registro de ocorrência e de assuntos pertinentes às localidades de Cajueiro e Degredo.
— Fizeram uma covardia com ele. Além dessa covardia, o colocaram no Hospital Ferreira Machado como indigente. Os documentos estavam com o policial. Eu fui pegar na delegacia — afirmou Moacyr Mecias Coutinho da Costa, do jovem de 24 anos que deixou um filho de três.
O pai negou a versão dos policiais da 5ª Companhia (Cia) em depoimentos. Os agentes disseram que, por volta de meia-noite, um foragido do sistema prisional estava em atitude suspeita, acompanhado por outros três, em duas motos. O suspeito seria chefe do tráfico local. Ele estaria na garupa da moto pilotada por Layron e teria atirado contra a guarnição, que revidou. Layron foi baleado, na cabeça, e caiu da moto. Os demais fugiram. Layron foi socorrido para a Santa Casa de Misericórdia de SJB e, transferido para o HFM, onde não resistiu aos ferimentos e morreu. Os policiais apreenderam uma Honda Titan Preta, um revólver calibre 32 com quatro munições picotadas e um celular.
— Não procede que havia um criminoso. Era tudo gente de bem. O Layron estava com um rapaz na garupa, mas todos os garotos eram trabalhadores. Falaram que meu filho era um criminoso, mas a ficha dele é limpa, nunca foi envolvido com polícia, com nada. Pretendemos dar um depoimento. A pessoa que estava na garupa também vai. Não sabemos quando, tenho que conversar com ele, mas ele vai. Eram amigos, não tinham nada a ver com o crime. Eu quero que seja feita a justiça, para não cometerem o mesmo com o filho de outro. Não quero que ninguém sinta a dor que estou sentindo. E saiu na mídia que o amigo dele estaria com um casaco verde. Não era, estava com um casaco marrom — afirmou.
Única irmã de Layron, a jovem Karolayne da Silva Costa disse que as roupas que ele vestia não foram devolvidas à família. “Todas as roupas sumiram. A gente não acha pertence nenhum, a não ser o celular. A arma que acharam não era dele, ele nunca teve arma”, falou.
A família disse também que Layron não era usuário de drogas. Os policiais afirmaram no mesmo depoimento que, ainda na Santa Casa, foi encontrado maconha no bolso dele. De acordo com o Instituto de Identificação Félix Pacheco (IFP), Layron não possuía antecedentes criminais.
O caso está sendo investigado pela 145ª DP. Nesta quarta-feira, o delegado Carlos Augusto Guimarães disse que segue aguardando o laudo do Instituto Médico Legal (IML) sobre a perícia feita no corpo de Layron e nas armas dos policiais. “O laudo pericial será de suma importância para a gente avançar nas investigações. Por exemplo, se o laudo apontar que o tiro foi à queima roupa e não a distância? Cai a versão dos policiais. Por outro lado, o jovem não tinha antecedentes, mas o que tinha no celular apreendido? Vamos pedir autorização judicial para acessar esse celular. Temos outras provas técnicas como a moto. Então, tudo passa por uma análise profunda. Não dá para fazer julgamentos antecipados”, disse.
O delegado disse que compreende a dor da família, mas ponderou que tem que ser técnico na análise. “Se manifestar é um direito da família e dos amigos. Entendo a dor, mas eu não posso ser passional. É um caso complexo, onde as provas técnicas ajudarão a elucidar. Não posso culpar o policial, não posso culpar vítima. Tenho que ser técnico, não passional”, disse o delegado que esteve na reunião do Conselho de Segurança onde foram tratados assuntos das localidades de Degredo e Cajueiro, somente.
O comandante do 8º BPM não participou do encontro e foi representado pelo subtenente Campinho.
A assessoria de imprensa da Corregedoria da PM emitiu nota confirmando estar ciente do caso e que vai investigar a ação dos militares envolvidos: “Foi aberto um Registro Policial Militar pela 6ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) para apurar as circunstâncias do fato”.
Além do dinheiro, outros pertences foram roubados da casa do empresário, que é do ramo da construção civil, como joias, celulares e até pássaro; suspeitos ainda não foram identificados pela Polícia