Crítica de Cinema - Tempestade - planeta em fúria
Edgar Vianna de Andrade 23/10/2017 18:29 - Atualizado em 27/10/2017 18:23
Entre o século XVI e a primeira metade do século XX, proliferaram as utopias, ou seja, concepções que vislumbravam um mundo melhor. Depois da Segunda Guerra Mundial, as distopias, isto é, as visões de um futuro sombrio, começaram a dominar a literatura e o cinema. Entendo essa predominância como expressão da dificuldade de imaginar utopias. O presente se fechado para elas.
Há utopias e distopias boas e ruins. “Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick, é uma boa distopia. Ela deu origem aos dois filmes “Blade Runner”. Uma distopia ruim é a mostrada no filme “Tempestade — planeta em fúria”, com roteiro original de Dean Devlin e direção do próprio. Na linha de Roland Emmerich, o representante atual do cinema catástrofe, Devlin não apresenta nenhuma originalidade. Ele está lidando com um dos mais candentes dramas humanos — as mudanças climáticas extremas — para tratá-lo de forma tão infantil.
Devlin ligou os computadores e deixou que eles produzissem o filme. Num só dia, a Terra é assolada por chuvas torrenciais, secas severas, tufões inclementes, nevadas mortais e outros fenômenos do clima. Um indivíduo aparece para salvar o planeta. Ele concebe, na liderança de uma equipe internacional, uma rede de satélites artificias coordenada por um grande satélite central que controla o clima. O salvador da Terra é individualista e temperamental. Ele briga com o irmão mais novo, que assume seu lugar. Jake Lawson (Gerard Butler), esse o nome do salvador, torna-se um homem comum. Bem-sucedido como cientista, ele fracassa no casamento e vai morar no campo até ser reabilitado e novamente nomeado para o comando central.
Cada satélite da rede cuida de uma cidade ou de um país. Problemas começam a surgir no Afeganistão, em Hong-Kong, no Japão, no Rio de Janeiro e em Orlando. Falha do sistema ou sabotagem? Um gênio dos Estados Unidos nunca erra. Só pode ser sabotagem. O arqui-criminoso quer controlar o clima da Terra de forma seletiva para eliminar seus inimigos. Trata-se de um roteiro torpe. Nem Emmerich poderia conceber uma brincadeira tão torpe como essa.
De catástrofe ambiental, o filme passa a ser uma operação de combate ao crime. Então, entram em cena os bons e os maus, perseguições desatinadas, tiroteios ao estilo dos Estados Unidos. O satélite central explode. Salva-se o herói e uma cientista alemã. O responsável pelo ato heroico é um mexicano. Tudo se resolve. O novo recomeço é anunciado pela filha adolescente do herói. Afinal, o futuro é dos jovens.
Há algo por trás do filme? É preciso esforço para descobrir. O sabotador não era o presidente dos Estados Unidos, como supunham os defensores da Terra. Era seu assessor principal. Pode-se pensar numa alusão velada a Trump? Se se pode, é confuso. Quem salva o casal de cientistas, que certamente viverão um romance, é um mexicano. Pode-se pensar no desentendimento entre Trump e o México? Creio que sim, mas sem nenhum charme.
O filme se vale da projeção de Ed Harris de Andy Garcia para não se tornar um fracasso maior. No entanto, o filme e a Terra dentro do filme padecem de um grande desastre. Acho que o filme é o principal. Não é bom nem como advertência.

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