Promessa de Paulo Henrique entra para a história
Matheus Berriel 20/09/2017 18:47 - Atualizado em 23/09/2017 13:04
Tarde de 17 de março de 2017. Entre um passeio calmo pelas instalações do estádio Ary de Oliveira e Souza e uma entrevista emocionada à Folha da Manhã, o experiente Paulo Henrique Oliveira, aos 74 anos, era apresentado como novo técnico do Goytacaz. Nem tão novo assim para os torcedores mais antigos, que o viram praticamente começando como treinador ali, do lado de fora das quatro linhas do Aryzão, nos longínquos anos 1970. Quatro décadas depois, Paulo Henrique estava de volta. Ainda abalado por uma perda familiar, mas ciente de sua missão: cumprir a promessa de recolocar o alvianil na primeira divisão do Campeonato Estadual, feito que não acontecia há 25 anos. E cumpriu.
— O retorno representa muita coisa para mim. Eu praticamente comecei aqui, em 1976. Quando o Goytacaz disputou o Campeonato Brasileiro, eu era o treinador. E quando saí, em 1978, prometi que um dia voltaria. Recentemente, tive uma perda muito grande. Meu filho faleceu aos 52 anos e foi para mais perto do Pai Maior, que agora me deu esse presente. Ele levou o meu filho e me colocou para treinar novamente o Goytacaz — disse um emocionado Paulo Henrique na ocasião, lembrando de Paulo Henrique Filho, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Paulo Henrique Oliveira
Paulo Henrique Oliveira / Antônio Leudo
Com sete vitórias, uma delas sobre o rival Americano, na semifinal, e quatro empates, o Goyta foi campeão invicto do primeiro turno da Série B1. Na decisão do dia 08 de julho, contra o Audax Rio, em Moça Bonita, sobrou emoção. Depois de 0 a 0 no tempo normal, o triunfo por 5 a 4, nos pênaltis, representou não apenas o título da Taça Santos Dumont, mas metade do caminho andado para sair da fila de duas décadas e meia. Festa em dobro para Paulo Henrique, que adiou seu retorno a Campos para ver o neto Henrique ser campeão da Taça Guanabara sub-17 pelo Flamengo, no dia seguinte, também nos pênaltis, sobre o Botafogo. Era seu lado familiar falando alto outra vez. Na ausência do filho, foi um pai para o neto.
— Fiquei para dar um apoio. Graças a Deus, ele se deu bem. O Flamengo, que tinha perdido o primeiro jogo, venceu o Botafogo por 2 a 1 e depois foi campeão nos pênaltis, por 9 a 8. Quer dizer, foi mais difícil que o nosso título (risos) — brincou.
Mesmo já estando classificado para as semifinais do Segundona, o Goyta chegou também à semifinal do segundo turno, mas acabou sendo eliminado pelo Itaboraí. O resultado deu ao time a obrigação de vencer a semi geral, pois o adversário, novamente o Americano, chegava com campanha melhor e, além da vantagem do empate, tinha também o direito de indicar o estádio para o clássico. Em meio a muita polêmica, escolheu o Eduardo Guinle, em Nova Friburgo, gerando revolta em diretores, jogadores e na torcida do Goytacaz. Não em Paulo Henrique, que encontrou num fato histórico um motivo para acreditar ainda mais no acesso.
— Eu já estava preparado, sabia que o jogo não seria em Campos. Seria em Macaé ou Friburgo. Acaba que Macaé não pôde receber e sobrou Friburgo. Sem problema. Foi muita coincidência. Em 1992, quando o Goytacaz havia subido pela última vez, subiu jogando em Friburgo, e o ônibus que levou o time tinha sido da Esperança. Nesse jogo, a mesma coisa. Nosso ônibus foi Esperança e nós subimos em Friburgo -— afirmou o treinador, lembrando novamente do filho e do que havia prometido à torcida alvianil há cerca de quatro anos.
PH retornou à rua do Gás e se imortalizou como ídolo
PH retornou à rua do Gás e se imortalizou como ídolo / Rodrigo Silveira
— O torcedor não me deve nada, eu é que estava devendo. Falei que, se o Goytacaz quisesse subir, era só contratar o Paulo Henrique. E eu saio de 2017 mais forte. A morte do meu filho me deu força. Acredito que teve o dedo dele na alegria que eu queria ter, que era de voltar e colocar o Goyta na primeira divisão. Ele estava sempre perto de mim, vendo a angústia, a aflição. Conversei bastante com os jogadores. Falei: “vai ter catimba, vão cuspir no rosto de vocês. Vão fazer miséria com vocês. Não tem problema. Temos que manter a calma, como vocês sempre mantiveram”. E foi o que aconteceu. O gol não saía, mas meu time se mantinha tranquilo, nunca se apavorou dentro de campo, até sair o gol da misericórdia, aos 44 do segundo tempo. O Goytacaz mereceu subir, por tudo o que passou — completou.
A promessa já foi cumprida, mas os objetivos ainda não acabaram. Na próxima terça-feira (26), às 20h30, começará a ser decidido o título da Série B1, contra o America, no estádio Edson Passos, no Rio. Autor do gol do acesso, o atacante Luquinha ficará de fora cumprindo suspensão. O retorno do novo ídolo alvianil ocorrerá na segunda partida da final, sábado (30), às 15h, no Aryzão. Acostumado a levantar troféus pelo Flamengo nos tempos de jogador, Paulo Henrique quer festejar mais um. Desta vez, o recado ao grupo é simples: “Só é lembrado quem vence, só quem é campeão”.

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