Pujança e decadência: uma história de 400 anos
Guilherme Belido 25/03/2017 18:40 - Atualizado em 28/03/2017 13:51
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Campos antiga/Divulgação
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Mercado Municipal/Divulgação
Às portas de completar mais um aniversário de emancipação política, o 182º, Campos reacende a chama de inaugurar um novo ciclo, capaz de interromper a curva descendente e retomar o caminho da prosperidade do qual se afastou desde a 2ª metade do século passado.
Ao fazer as contas e concluir que se está a falar de aproximadamente 60 anos, indagaria o leitor – não sem, ao menos num primeiro exame, razão – que o signatário delira ao não enxergar prosperidade numa cidade que, à luz das mudanças e crescimento, quase não se reconhece comparativamente às décadas 1960 e 70.
Assim, não discordando do raciocínio lógico dos que prestigiam esta página, cabe arguir, com todas as vênias, a sutil distinção entre prosperidade e crescimento, lembrando, ainda, tratar-se a segunda de circunstância corriqueira, consequência do decurso de tempo e que não se confunde com avanço social e desenvolvimento econômico – estes, sim, decorrentes de gestão qualificada.
Explicando...
Se nos últimos 45 anos o Brasil pulou de 90 para 206 milhões de habitantes – por óbvio, cresceu. Tinha que crescer. De igual forma que – com todo respeito aos citados – cresceram, por exemplo, Cardoso Moreira, Itaperuna e São Francisco – cujas mudanças lhes alteraram por completo a aparência.
Ainda mais visível, Macaé, proporcionalmente, cresceu muito mais que Campos – não deixando qualquer vestígio da pequena cidade dos anos 70.
Logo, na avaliação feita sobre Campos, não cabe levar em conta seu ‘crescimento físico’, natural a qualquer vilarejo do passado, mas sim a que nível de qualidade crescemos.
Perdendo posição – Mais ainda, deve ser comparada a cidades como Juiz de Fora (MG), Campinas (SP) e São José dos Campos (para dar apenas três exemplos), que há 200/300 anos, quando também ainda não tinham alcançado o status de município, estavam anos luz atrás desta planície.
História – Os anos de ouro do açúcar
Para melhor entendimento é preciso recorrer à História. A cidade que completa 182 anos nesta terça-feira, que por decreto imperial de 1835 passou de Villa à condição de município, iniciou sua trajetória bem antes, há cerca de 400 anos, lá pelos idos de 1620, quando a então Capitania de São Thomé já exibia invejável pujança econômica.
Tudo por conta da terra fértil, muito receptiva ao plantio de cana, que fez florescer os engenhos que mais tarde consolidaram a atividade desenvolvimentista que ficaria conhecida como ‘O ciclo dourado do açúcar’.
Nobreza – Como uma coisa leva à outra, não tardou para que aqui se instalasse uma aristocracia rural formada por condes e barões.
Com o dinheiro e a nobreza andando de braços dados, o resultado não poderia ser outro: projeção política e visitas cada vez mais frequentes da família real portuguesa – ainda mais intensificadas a partir de D. Pedro II.
Depois da independência administrativa e com os antigos engenhos dando lugar a instalação de unidades açucareiras, Campos assumiu posição de mais importante município do Estado do Rio de Janeiro, com notável projeção nacional.
Luz Elétrica – Primeira cidade da América Latina a inaugurar sistema de iluminação elétrica (teria sido a 1ª do mundo se 6 meses antes a distribuição de energia não chegasse a Nova York), Campos experimentou quase 100 anos ininterruptos de notável expansão.
Decadência
Entretanto, como nenhuma história de quatro séculos é escrita apenas com flores, os reveses também estiveram presentes. A excessiva aposta na monocultura e a insistência num quadro conservador, desconsiderando que o mercado transferia suas fichas para um cenário competitivo e célere, cobrou seu preço.
A indústria do açúcar demorou para assimilar a tecnologia, fatores externos aumentaram o grau de dificuldade e um dado, em particular, foi avassalador: a falta de irrigação.
Fusão – À crise que a partir dos anos 60 e 70 levou praticamente ao desmonte de uma atividade de 300 anos, seguiu-se outra, a política, na esteira da fusão GB-RJ, em 1975. A perda de representação política foi desastrosa, sofrendo mais a cidade que mais tinha a perder: Campos.
A avaliação do presidente Geisel de que o Rio de Janeiro era um estado sem cabeça e a Guanabara sem corpo, passou longe de corrigir a “discrepância”. A Guanabara pode até ter ganho um corpo, mas o Estado do Rio não ganhou cabeça alguma. Na prática, o que se viu foi anexação e esvaziamento dos municípios fluminenses.
Alívio – Depois de algumas páginas viradas, novos horizontes se abriram como alternativa: comércio, ensino superior e construção civil. Entretanto, o frescor fora insuficiente para que a planície de verdes canaviais recuperasse seu antigo lugar.
Maior explorador de petróleo do Brasil
Agora sim, voltando ao fio da meada do porquê Campos, aparências à parte, figura muito abaixo da capacidade econômica e prestígio político que marcaram o início de sua trajetória, se antes a riqueza veio da superfície dos verdes canaviais, nos dias de hoje o subsolo conduziria a terra de Nilo Peçanha ao segundo marco de sua história: maior explorador de petróleo do Brasil. E como era de se esperar, a volumosa receita dos royalties traria nova fase expansionista, em especial nos investimentos de infraestrutura.
Mas não foi assim. Frustrando a expectativa que se criou com os repasses, os investimentos passaram longe do minimamente considerado como realizável e tampouco foram extintos os bolsões de miséria nas áreas periféricas.
Simples assim: mau usados e pessimamente aproveitados, desceram ralo abaixo – melhor dizendo, córrego abaixo – e se perderam. Fizeram uma coisa aqui, outra ali – um ‘investimentozinho’ ou outro – e sumiram. Ninguém sabe, ninguém viu – para, digamos assim, não entrar no mérito.
Prefeitos ruins e novo ciclo
Afora o declínio do açúcar, o álcool que ficou na promessa e a fusão, Campos sofreu, ainda, com as péssimas administrações que passaram pela prefeitura nos últimos 50 anos.
De 1966 para cá foram 12 mandados. Excetuando, talvez, 03 ou 04 – no máximo – que, vistos com muita boa vontade, ficaram ali na faixa de razoável a bom (o que necessariamente não significa que um mesmo prefeito não possa ter desempenhado administrações piores e melhores), a grande maioria foi um desastre. Diria, uma catástrofe.
Dias atuais – Agora, quando um novo ciclo político se inicia, as expectativas se renovam de que aos royalties – momentaneamente nosso maior trunfo – se dê proveitosa destinação. Mais ainda, que se volte as atenções para a agricultura e pecuária – perfil maior do município – e que no futuro a cidade de tão ricas tradições faça as pazes com a prosperidade e ofereça à população o que é de seu direito: qualidade de vida.
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