Leitores do blog constataram que nos últimos dias o ritmo de atualizações foi menos intenso. Tem alguns motivos, sobretudo, como todos os anos desde que este espaço foi criado, o período de pausa para a festa da padroeira de Atafona, Nossa Senhora da Penha (neste ano entre 21 e 29 de abril). Como a semana contou com um feriado no meio, a retomada do blog começa nesta segunda-feira (6). E como repórter, mesmo quando de folga, está em constante observação, a volta é com uma matéria de observação, da própria festa em Atafona, publicada na edição deste domingo (5), na Folha da Manhã.
Encontros da fé com a política
A palavra religião tem origem no latim e para alguns vem de religio, que significa “respeito pelo sagrado”. Outra etimologia discutida é a da palavra religare, também do latim, que significa “atar” ou “ligar com firmeza”. Nas festas religiosas, e não só de agora, as duas correntes etimológicas talvez estejam corretas. Sobretudo ao falar da romaria dos políticos aos templos religiosos — especialmente os católicos, mas não só — em dias festivos. Exemplo mais recente aconteceu na última semana, na praia de Atafona, durante as homenagens à padroeira Nossa Senhora da Penha.
Pré-candidato que se preze tem que bater ponto, seja na missa, na procissão ou, melhor ainda, nos dois eventos. E se engana quem pensa que essa “função” seja apenas do político sanjoanense. Campistas, são franciscanos e macaenses também têm de estar presentes. E não quebraram a tradição, seja pelo religio, o respeito ao sagrado, ou pelo religare, para atar, ligar com firmeza, inclusive, as relações com seus eleitores. Por que não, em alguns casos, pelos dois motivos?
Ainda é ano pré-eleitoral a romaria de políticos deve se multiplicar em 2020 quando, de fato, o tabuleiro estará mais definido, com o quadro partidário totalmente arrumado. Há também de se destacar que muitos políticos, antes mesmo de entrarem na carreira, já participavam dessas romarias como devotos. O que diferencia é que, agora, eles são mais visados, e normalmente acompanhados de cabos eleitorais e outros políticos.
De Campos, marcaram presença nomes como o deputado federal Wladimir Garotinho (PSD), o vereador licenciado e atual secretário de Saúde Abdu Neme (PR) e também a vereadora Joilza Rangel (PSD). Apesar dos inúmeros visitantes campistas na festa, não se via atuação política desses representantes. No máximo, desempenhavam papel de apoio, como foi o caso de Wladimir, ao lado de aliados que figuram como possíveis prefeitáveis sanjoanenses.
Ela não se lançou, ainda, candidata à reeleição, mas sempre é apontada como nome forte, inclusive por outros prefeitos regionais. Tem apenas uma pendência judicial, originada da operação Machadada, que poderia deixá-la fora do pleito, caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirme as sanções das instâncias inferiores. Na última quinta-feira (2), a prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco (Podemos), concedeu entrevista ao programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3, e saiu em defesa de Carla, como forte candidata à reeleição e confiante que ela conseguirá reverter a condenação em última instância.
O resultado das articulações sob as bênçãos da Penha em 2019 pode refletir nas alianças do ano que vem. Contudo, por mais devotos que os políticos possam, sinceramente, ser, não serão todos eles “agraciados” com a vitória.
Tradição com reflexos ainda no antigo sertão
Devoção antiga dos são franciscanos, a festa da Penha atraia muita gente do município, principalmente de Gargaú. “Lá fica uma cidade deserta nos dias de festa, praticamente todo mundo está aqui (em Atafona)”, diz um devoto. Os políticos sabem disso e, portanto, também marcam presença. Com domicílio eleitoral em Campos, mas com origens no antigo sertão de São João da Barra, o deputado estadual João Peixoto (DC) esteve na missa. E talvez seja uma foto com ele tenha repercutido em São Francisco de Itabapoana. Na imagem aparecem dois pré-candidatos da cidade.
Um deles é o ex-prefeito Pedrinho Cherene (MDB), que mantém o nome no tabuleiro, apesar da inelegibilidade pela reprovação pela Câmara, seguindo parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE), da prestação de contas de 2016. Cherene tenta reverter a situação na Justiça. E quem está na outra foto é outro pré-candidato, Marcelo Garcia (PSDB), que ficou em terceiro lugar na disputa a prefeito do último pleito municipal e já tem posta uma pré-candidatura.
Como foram aliados outrora — Garcia foi líder de Cherene na Câmara —, o fato de estarem juntos na festa da Penha gera especulação, mas Marcelo segue na postura de pré-candidato, inclusive se colocando como alternativa ao dualismo das famílias do ex-prefeito e dos Barbosa Lemos, sobrenome de casada da atual prefeita, Francimara (PSB), que não esteve em Atafona neste ano, mas deve ser mais uma figura certa em 2020.