Estudo aponta que Campos aparece com maior quantidade de mercúrio no ar devido às queimadas
Dora Paula Paes 20/09/2024 16:38 - Atualizado em 23/09/2024 17:56
 
Estudo é da PUC
Estudo é da PUC / Foto: Folha da Manhã
Campos aparece com a maior concentração de mercúrio em material particulado (PM2.5) no ar, no Estado do Rio de Janeiro, decorrente de queimadas. No caso do município, o problema afeta a área urbana pela queima da cana-de-açúcar, é o que aponta o estudo conduzido pelo Laboratório de Química Atmosférica, do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, financiado pela Faperj. Os outros locais avaliados foram: uma área urbana (Gávea) e área de reserva de proteção (Parque Nacional da Serra dos Órgãos - Parnaso). Os resultados revelaram que 63% das amostras apresentavam concentrações diárias de PM2.5 superiores aos padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, podendo causar potenciais problemas à saúde e bem-estar, especialmente no trato respiratório. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que ainda não teve acesso ao estudo. O médico pneumologista, Luiz Carlos Sell, em Campos, comentou sobre o levantamento.
O trabalho, que acaba de ser publicado na revista científica Royal Society of Chemistry, foi resultado de uma coleta durante 2022–2023. A concentração média de mercúrio no PM2.5 foi maior em Campos (169 ± 139 pg m?³), região de cultivo de cana, onde queimadas são uma prática recorrente e pode ser a principal fonte.
Embora PARNASO seja uma área de preservação, as concentrações médias de mercúrio no PM2.5(110 ± 71 pg m?³) foram maiores que na Gávea (81 ± 116 pg m?³). A provável explicação para essa diferença é a proximidade do ponto de amostragem com a rodovia, além do transporte de longa distância.
“A novidade dos nossos resultados está na quantificação das concentrações de mercúrio no material particulado no Rio de Janeiro, na identificação das variações sazonais e nas possíveis fontes de emissão. O Rio de Janeiro, como um dos maiores centros urbanos e industriais do Brasil, apresenta características únicas que tornam a investigação desses níveis de poluição relevante, principalmente devido à combinação de urbanização intensa e atividades industriais na região”, comenta Luis Fernando Mendonça da Silva, doutorando do CTC/PUC-Rio, que desenvolveu o trabalho.
Para o médico pneumologista, Luiz Carlos Sell, em Campos, o trabalho está muito sujeito a críticas do ponto de vista científico, segundo ele, precisando de análise mais criteriosa com metodologia rigorosa pode trazer mais qualidade nas informações. "Aumentar a quantidade das amostras, diversificar os locais da coleta pelo país, comparar resultados com pesquisas semelhantes podem ser uma boa ideia. Que tal medir valores sobre a qualidade do ar e seus principais poluentes danosos à saúde frente às grandes queimadas que assolam o país? Do ponto de vista de danos à via respiratória pelas partículas de Hg não disponho de qualquer informação", completa.

Questionado se tem ciência do estudo, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) respondeu que ainda não teve acesso, portanto, não pode comentar diretamente sobre seus resultados. "A pasta ambiental monitora o material particulado (MP2.5) e outros poluentes atmosféricos por meio de sua rede de monitoramento, que inclui estações automáticas e semiautomáticas espalhadas pelo estado. Esses dados são auditados diariamente e disponibilizados em tempo real ao público no Portal de Qualidade do Ar do INEA (https://portalsigqar.inea.rj.gov.br)", ainda informou.
As quatro estações do ano - A variação sazonal também foi recorte de avaliação dos pesquisadores. Os números revelaram que as maiores porcentagens de mercúrio no PM2.5 foram encontradas no outono: em 37%; seguido por 28%, na primavera; 24 % no inverno e 11 % no verão. A diferença entre mercúrio nas amostras foi considerada muito mais significativa na primavera, outono e inverno do que no verão. A hipótese é de que as temperaturas elevadas e maior radiação solar no verão podem facilitar a transformação de gás em partículas.
De acordo com os pesquisadores, estudos complementares devem ser realizados no futuro para entender o ciclo desse poluente no Estado do Rio de Janeiro.
"Além dos pesquisadores do CTC/PUC-Rio, o trabalho contou com a parceria de profissionais da UENF, UFRJ e UFBA. Os estudos visam trazer luz à área de Química Atmosférica, um campo complexo que exige esforços conjuntos. Os trabalhos científicos precisam ser cuidadosamente divulgados para a sociedade com a contribuição de autores, universidades e profissionais envolvidos. Ressaltamos ainda que levantamentos complementares devem ser realizados no futuro para maior compreensão do ciclo desse poluente no Estado do Rio de Janeiro", disse, em nota, o Laboratório de Química Atmosférica, do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. 

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