Mulher trans, assistente social da Associação Irmãos da Solidariedade vence barreiras
Éder Souza 24/08/2024 11:05 - Atualizado em 24/08/2024 13:36
  • Renata Melila (Fotos: Arquivo pessoal)

    Renata Melila (Fotos: Arquivo pessoal)

  • Renata Melila (Fotos: Arquivo pessoal)

    Renata Melila (Fotos: Arquivo pessoal)


“Eu sou uma sobrevivente”. A pequena frase afirmativa, mas cheia de significados, é de Renata Melila, mulher transexual e assistente social da Associação Irmãos da Solidariedade, entidade campista que acolhe pessoas que vivem com o vírus HIV. Renata, que é formada em serviço social, agora celebra a sua aprovação, neste mês, na pós-graduação em Políticas Públicas, Gestão e Serviços Sociais.

No país que mais mata que mais mata pessoas transexuais no mundo, Renata, de fato, é uma sobrevivente. Em 2023 foram 55 mortes de pessoas trans em todo o Brasil, sendo 145 casos de assassinatos e dez que cometeram suicídio após sofrer violências ou devido à invisibilidade trans. Um outro dado alarmante mostra que 90% da população trans no Brasil tem a prostituição como fonte de renda e única possibilidade de subsistência.

“A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos. Nós, mulheres trans, não temos oportunidade de trabalho e somos jogadas a prostituição. Eu sou uma sobrevivente”, disse a assistente social.
O tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da pós-graduação de Renata foi “Mulheres trans no mercado de trabalho e a falta de oportunidade”. Ela conta que a ideia do tema surgiu do desejo de abrir portas para outras mulheres transexuais, que ainda encontram grandes barreiras para conseguir um emprego e entrar na universidade.

“Meu objetivo é quebrar as barreiras do preconceito, fazendo com que as pessoas entendam de uma vez que todo ser humano é capaz e que uma oportunidade muda a vida das pessoas, pois eu sou prova viva disso. Espero que a porta que eu abri seja exemplo para outras, porque todas somos capazes de sonhar. Como todo cidadão, nós pagamos nossos impostos, temos deveres e direitos constitucionais”, disse.

Contrariando a história de muitas pessoas transexuais que, além do preconceito que sofrem em diversas esferas da sociedade, ainda encontram a transfobia dentro da própria família, Renata teve o apoio dos familiares na sua transição. Com o incentivo, ela resolveu buscar o sonho por uma carteira assinada, que foi concretizada após conseguir um emprego na Irmãos da Solidariedade.
Renata posa para foto com os pais
Renata posa para foto com os pais / Foto: Arquivo pessoal


“Eu trabalhava com declaração de festa, mas tinha um sonho de carteira assinada. Eu sou do Jardim Carioca, praticamente vizinha da Associação. A Fátima Castro me deu uma oportunidade de emprego na limpeza, que mudou minha vida. E hoje sou assistente social da instituição com muito orgulho. Minha transição não foi fácil, por questões com escola, amigos, vizinhos e alguns parentes. Porém, encontrei no meu lar, no aconchego da minha família, um apoio de um pai maravilhoso e de uma mãe super amiga que sempre esteve ao meu lado. Sei que essa não é a realidade de muitas, pois tenho amigas que foram expulsas de casa por conta da sexualidade. Esse apoio fez toda diferença na minha vida”, conta.
Foto: Arquivo Pessoal
Hoje, com 16 anos de atuação na Casa Irmãos da Solidariedade, Renata foi idealizadora do projeto "Mães Solidárias", que acolhe e oferece orientação para gestantes do município, falando sobre todas as infecções sexualmente transmissíveis, reforçando a importância do pré-natal.

“Que outras mulheres e meninas trans lutem pelos seus sonhos, pois com força e determinação todas nós temos o direito de ser felizes. Sei que muitas coisas mudaram para melhor, mas ainda temos muito a evoluir. Nunca perca as esperanças, pois se eu consegui, todas podem também”, finalizou.

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