Investigação aponta R$ 5 mil pagos para executar grávida
11/03/2023 10:31 - Atualizado em 11/03/2023 12:11
A vida de uma mulher e a do seu filho ainda no ventre por R$ 5 mil. Esse teria sido o valor pago pelo mandante do assassinato da engenheira de produção Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, a outros quatro homens, que executaram o crime, no dia 2 de março, no Parque Aurora, na frente da tia e da mãe da jovem, que também foi baleada. O suspeito de ter encomendado a morte de Letycia é seu companheiro e suposto pai do bebê, o professor e empresário Diogo Viola de Nadai, de 39 anos. Ele e os demais suspeitos de envolvimento estão presos temporariamente e responderão na Justiça pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e aborto. À família de Letycia e do bebê, que recebeu o nome de Hugo e foi registrado pelo avô materno, cabe chorar a perda e pedir por justiça.
— Eu quero que a justiça seja feita, que ele pague, sendo julgado e condenado na máxima instância. E ainda é pouco, pela crueldade, frieza, monstruosidade dele com a família dela, com ela e com o próprio filho — afirma a mãe de Letycia, Cintia Fonseca.
Ela descreve Diogo como uma pessoa fria, inteligente e manipuladora. “Ele é inteligente demais, tanto que conseguiu trabalhar a mente dela, mesmo minha filha também sendo inteligente e esperta. Após o crime, ele agiu normalmente, como se nada tivesse acontecido com a minha filha, ficou em casa dormindo, enquanto agíamos as documentações. Em nenhum momento perguntou sobre o ocorrido, até porque eu tinha essa resposta, eu estava presente. Quando eu recebi alta, ele estava na minha casa, onde dormiu, enquanto minha filha estava morta no hospital e o filho dele lutando pela vida. Parecia que era um dia qualquer”.
Em seu depoimento à Polícia Civil, divulgado pelo jornal O Globo, Cintia afirmou ter estranhado o fato de Diogo não visitar o filho e que, ao saber da morte do bebê, que nasceu de cesárea pouco antes da morte de Letycia no Hospital Ferreira Machado (HFM), ele reagiu de “forma exagerada”. “Quando soube do falecimento do filho, reagiu de forma exagerada, nitidamente como se fosse um teatro, gritando, berrando”, disse a mãe, afirmando que no enterro a cena se repetiu.
Cintia contou, ainda, que a filha confidenciou horas antes do crime que o companheiro pediu para ela fazer um empréstimo de R$ 16 mil para pagar dívidas de sua loja, mas que ela teria se negado a pegar o dinheiro.
O comportamento de Diogo após o crime foi levado em consideração pela polícia nas investigações. A decisão da prisão também foi baseada em depoimentos e no fato de ele ter, no dia do assassinato, consultado na internet como apagar o histórico do celular.
A polícia também encontrou uma ligação entre Diogo e Gabriel Machado Leite, suspeito de ter contratado Fabiano Conceição Silva (suspeito de ser o atirador) e Dayson dos Santos Nascimento (suspeito de ser o condutor da moto). À polícia, Gabriel diz ser inocente, mas admite ter conhecido Diogo há dois anos durante um torneio de pôquer. Diogo é jogador profissional e chegou a ficar entre os primeiros no ranking em competições pelo país.
O relacionamento
O relacionamento entre Letycia e Diogo era conturbado. Familiares da vítima, que já havia perdido um outro filho dele, contaram à polícia que ela falava pouco sobre o namoro, por se sentir envergonhada com a situação de estar vivendo com um homem que ainda era casado, embora ele garantisse que estava separado da mulher.
Os dois se conheceram há oito anos, quando Letycia estudava no Instituto Federal Fluminense (IFF), onde Diogo trabalhava. Em 2019, o professor disse que havia se separado, mas nunca teria permitido que a vítima conhecesse a sua família. Os dois passaram a morar juntos, mas Diogo tinha como hábito deixá-la sozinha a pretexto de viajar.
Tio de Letycia, Wilson Abreu contou que, após o crime, a Polícia Civil foi ao endereço do casal e conversou com os vizinhos, que disseram que havia muitas brigas entre eles. “Porém, ela não era de expor isso. Eu perguntei à minha irmã, que disse nunca ter visto marca de violência na Letycia, mas não falou sobre as brigas. E eu não sabia que a minha irmã não conhecia a família dele”, contou o tio da vítima.
Ainda segundo reportagem de O Globo, a esposa de Diogo, que também é professora do IFF e com quem ele é casado desde 2010, disse em depoimento que tem medo que algo possa acontecer com ela, quando contrariar os interesses dele na empresa em que são sócios. Apesar disso, ela disse acreditar que ele não tenha envolvimento com o crime. Em seu depoimento, ela afirmou, ainda, que estão separados há cerca de três anos e que os dois mantêm um relacionamento de amizade. Ela teria contado também que não conhecia Letycia, mas sabia que Diogo estava em outro relacionamento.
O crime
Letycia, grávida de sete meses, estava no carro da empresa em que trabalhava conversando com sua mãe, que estava do lado de fora do veículo, na rua Simeão Scheremeth, quando, por volta das 21h, as duas foram surpreendidas por dois homens em uma moto, que pararam ao lado do automóvel. O carona disparou diversos tiros na direção da gestante, que foi atingida na face, no ombro, na mão esquerda e no tórax. A mãe de Letycia, por instinto, correu em direção aos criminosos, momento em que foi atingida na perna esquerda.
Na hora do crime, Letycia deixava a tia-avó Simone Peixoto, de 50 anos, em casa, após um passeio de carro que fazia sempre com ela para acalmá-la. No banco do carona, Simone, que tem Síndrome de Down, ficou coberta de sangue, e agora está em estado de choque.
Mãe e filha foram socorridas pelo tio da gestante e levadas para o HFM, onde Letycia morreu logo após dar entrada. Uma cesariana de emergência foi realizada e o bebê transferido para a UTI neonatal da Beneficência Portuguesa, mas ele não resistiu e morreu horas depois. Os corpos de Letycia e do filho foram sepultados no dia 3, no Cemitério Campo da Paz, onde Diogo chegou a carregar o caixão do bebê. Nessa quinta-feira (9), foi realizada missa de 7º dia.

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