O artigo é resultado de dois anos de pesquisa no rio Macaé, desde a nascente, na região de Macaé de Cima, até a foz, já na área urbana. O trabalho é assinado pelos pesquisadores Mauricio Mussi Molisani e Francisco de Assis Esteves e por alunos de graduação e pós-graduação do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPGCIAC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ- Macaé).
A ideia é que os dados publicados saiam dos muros acadêmicos em encontro à comunidade: eles servirão de base para uma nota técnica a ser publicada pelo Nupem sobre a questão da qualidade e da quantidade de água do rio Macaé, a fim de mostrar, por exemplo, o quanto de água existe no rio e se essa quantidade vai ser suficiente para atender a todas as demandas que existem hoje em dia no município.
Autor principal do artigo, o professor Mauricio Mussi Molisani explica que, para formular a nota, outros dados já existentes em pesquisas vão se juntar a essas informações, construindo uma revisão bibliográfica sobre o rio Macaé. Ele ressalta que, pela primeira vez, foi possível reunir dados de forma sistemática de toda a bacia hidrográfica, que conseguem mostrar como esse rio “funciona”, e como é esse transporte de água desde a serra até chegar à planície costeira, no nível do mar.
— Na prática, o que esse estudo traz é a ideia de uma adequada gestão do recurso hídrico, para a gente ter um equilíbrio entre os usos pela sociedade e atividades econômicas, e a manutenção da qualidade do rio, dos aspectos ecológicos. A gestão ecológica busca isso: um uso sustentável dos recursos. Então, para fazer essa gestão ambiental dos recursos hídricos em Macaé, a gente precisa conhecer como esse rio funciona, principalmente através da coleta contínua de informações — explica Molisani.
O trabalho ressalta que o rio Macaé é uma bacia hidrográfica pequena, mas que atende a um considerável número de atividades que utilizam essa água, como a Cedae, para abastecimento público, a Petrobras, além da produção de energia elétrica por gás e agricultura, entre outras. “Esses dados vão poder subsidiar essa questão da análise do balanço hídrico, de quanto de água o rio tem e quanto que é a demanda de água pelas atividades sociais e econômicas, para poder fazer uma gestão de melhor qualidade”, ressalta o professor.
Reconhecimento internacional — A publicação da pesquisa em uma revista internacional de relevância demonstra a qualidade do trabalho apresentado pela equipe do Nupem e de suas pesquisas. “Quando conseguimos publicar um artigo numa revista internacional, isso mostra que esse assunto tem importância para audiência internacional, para os cientistas, para os tomadores de decisão dentro de uma escala internacional”, acredita o professor.
Resultados acadêmicos — A pesquisa é o primeiro e único estudo que consegue entender o trajeto ao longo de toda a bacia hidrográfica, com o mérito de ter sido realizado por dois anos, com amostragem mensal. Os dados da pesquisa mostraram que, apesar de se tratar de uma bacia hidrográfica pequena, numa área declivosa, num primeiro momento, depois que entra na planície, a capacidade de transporte de água em direção ao mar não é muito grande.
— A gente vê que a planície costeira vai retendo esse transporte de água, gerando principalmente um acúmulo de substâncias químicas, como o nitrogênio e fósforo, que têm a capacidade de modificar a qualidade da água, através do processo de eutrofização. Principalmente no início da foz em Macaé, na região da Linha Azul, já começa a ter uma transformação do rio. Ele começa a ter uma turbidez menor, a água fica um pouco mais clara e tem uma concentração maior de nitrogênio e fósforo, o que faz com que tenha uma região extremamente suscetível a mudanças ambientais”, explica.
A revista River Research and Applications pode ser acessada pela internet (https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/rra.3747). O artigo também pode ser acessado no link do site da Prefeitura de Macaé: macae.rj.gov.br.