Edmundo Siqueira
06/02/2022 21:19 - Atualizado em 06/02/2022 21:22
Eduardo Bolsonaro é um homem de geleia. A alcunha infantil foi proposital, caro leitor. É para mostrar a fragilidade — intelectual e masculina — do personagem — infelizmente real e com cargo público — que trago aqui. Explico.
Dizer sobre as condições psíquicas de alguém é algo que necessita de laudo médico prévio. Portanto, não tenho as condições para afirmar se a pessoa em referência tem masculinidade frágil causada por carência de afeto paterno. Mas, seria aconselhável um acompanhamento profissional para determinar a causa dessa raiva às mulheres.
Na última sexta-feira (4/2), Eduardo foi ao seu Twitter e fez uma relação estapafúrdia do acidente da obra da Linha 6 do Metrô de São Paulo com o trabalho de funcionárias da empresa responsável pelo empreendimento, a Acciona. “Procuro sempre contratar mulheres (se referindo a uma política da Acciona), mas por qual motivo? Homem é pior engenheiro? Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor”, disse o deputado.
O comentário de Eduardo gerou protestos entre feministas e movimentos progressistas. Mas é uma insinuação que causa revolta em qualquer pessoa que entende a insinuação inconsequente que o filho do presidente fez. Não precisa ser ligado a movimento algum para sentir repulsa. Em nota, a Acciona repudiou as declarações do deputado e classificou o ato como "desrespeitoso" e "misógino", e estuda medidas judiciais contra o parlamentar.
Comprovando a máxima que diz que tudo ainda pode piorar, Dudu (me reservo em citar a continuação do seu apelido mais famosos, mas basta ao leitor “dar um google”) resolveu dar explicações em vídeo. E é ali que ele deixa todo sua fragilidade ética, moral e masculina à mostra (se tiver estomago, basta clicar na palavra vídeo acima para assistir).
Em duas frases, ditas com entonação alterada, possivelmente para demonstrar virilidade, o filho do presidente exala preconceito e misoginia, e expõe seu humilhante despreparo para ocupar um cargo público relevante. Disse Eduardo:
“O feminismo só vai adiante quando homens de geleia não se posicionam” e “Se o feminismo cresce é por causa de homem frouxo”.
Ele, um homem de geleia, se posicionou. Para o feminismo não ir adiante. Claro que ele quis dizer o contrário, mas acertou em se chamar assim.
O que chamamos de “feminismo”, pode ser definido de várias maneiras, e como um movimento social complexo e necessário que é, possui várias vertentes. Mas pode ser resumido citando algumas de suas bandeiras principais: violência contra a mulher, a diferença salarial entre gêneros, pouca inserção feminina no meio político, casos de assédio e preconceito contra a mulher, necessidade de exames preventivos e acesso a métodos contraceptivos gratuitos. Como ser minimante responsável e ser contra essas pautas?
Sim, boa parte do movimento feminista luta também pela descriminalização do aborto. Tema usado constantemente para inflamar os radicais (e incautos) nas redes sociais. As feministas entendem que muitas mulheres perdem a vida quando são submetidas a procedimentos clandestinos. Portanto, discutir formas de amparo legal para situações em que o aborto é necessário tem o objetivo de preservar vidas. Além disso, por mais responsável e empático que sejamos, é um assunto que diz respeito ao corpo da mulher, aos seus direitos mais básicos. Portanto, feminista.
Quando Eduardo diz que “homem frouxo” faz o feminismo crescer, ele também está certo. As lutas feministas são fortalecidas quando homens covardes, que se escondem em cargos e em força física, são incapazes de entender o básico. O feminismo foi essencial, por exemplo, para garantir o direito de voto às mulheres, que no Brasil só foi possível a partir de 1932. Há apenas 90 anos. Homens frouxos temem o voto das mulheres? Parece que sim.
Eduardo Bolsonaro foi além. Disse que um dos absurdos da “esquerda” ou do “identitarismo” é dizer que “criminoso não é bandido, é suspeito”. Ora, o devido processo legal é de esquerda, congressista? Quem compra mansões de R$ 6 milhões, sem renda para tal, deve ser considerado bandido, de cara? Não deve ser julgado?
Para finalizar o festival de horrores, Dudu cita Edmund Burke. Com orgulho de citar Burke, autor realmente importante para o pensamento conservador (mas não ao retrógrado, lugar de fala de Eduardo), atribui a ele uma frase: “para que o mal prevaleça basta que os bons silenciem”. Embora esteja correta, em essência, o dizer não é burkiano. Ele não falaria algo tão simplório. Ele até disse algo próximo a isso, em um contexto específico, mas não é preciso trazer aqui.
O bolsonarismo tem profunda aversão a tudo que é democrático, moderno, cosmopolita, ou que produz evolução social. Tem ojeriza à cultura, ciência, educação e a qualquer traço de justiça social. Parace também ter raiva das mulheres. Como qualquer cabeça de geleia.