Arthur Soffiati - Esquimós (I)
* Arthur Soffiati - Atualizado em 26/08/2023 10:58
A América foi o último continente a ser povoado pelo “Homo sapiens”. Por mais que os achados arqueológicos levantem dúvidas sobre a origem dos primeiros humanos no continente americano, a tese de que ele tenha alcançado o novo mundo pelo extremo norte, no fim do Pleistoceno, é ainda a mais consistente. Com o rebaixamento do nível do mar na última glaciação, formou-se uma ponte natural entre Ásia e América, pela qual passaram a pé os imigrantes asiáticos. Aventa-se que o deslocamento de um continente para o outro poderia ter sido feito também por navegação. As duas hipóteses podem ser combinadas: a migração se efetuou por terra e por mar.
A cultura dos primeiros grupos humanos a alcançarem a América caracteriza-se como paleolítica adaptada aos ambientes extremamente frios do círculo polar ártico. Assim, os primeiros habitantes da América não precisaram criar culturas apropriadas ao gelo e à neve. Eles já as haviam desenvolvido na Sibéria. A colonização da América começou, pois, com povos que seriam conhecidos no futuro com o nome genérico de esquimós. Entre eles, inuit.
A partir do círculo polar ártico americano, as áreas ao sul foram sendo colonizadas. Os grupos humanos foram desenvolvendo culturas adaptadas aos mais diversos ambientes. A origem dos povos americanos situa-se, portanto, nos esquimós. Há quem considere, atualmente, que os esquimós não se limitam ao círculo polar ártico americano, mas a todas às áreas polares da Ásia e da Europa.
A grande cultura esquimó apresenta variações no tempo e no espaço. No tempo, ela tem sua origem em culturas paleolíticas que avançaram para o neolítico e tangenciaram a civilização. Trata-se de uma história completa. No geral, a atividade econômica das culturas esquimós apoiava-se na coleta, na pesca e na caça. A ausência de agricultura se explica pela inexistência de terrenos apropriados para o seu desenvolvimento em grandes extensões geladas. Mas as culturas esquimós alcançaram alto nível tecnológico no desenvolvimento da economia coletora, pesqueira e caçadora. Essas atividades são típicas de uma economia paleolítica, mas, sobre elas, as culturas esquimós domesticam o cão, talvez o primeiro animal a ser domesticado pela humanidade, ainda antes das primeiras culturas neolíticas.
Para viver em temperaturas extremamente baixas, os esquimós desenvolveram embarcações fabricadas com madeira e couro animal. São os conhecidos caiaques, canoas para um a três remadores, e os umiaks, botes coletivos. Para circular em áreas geladas, essas culturas inventaram o trenó puxado por cães. Para pescar e caçar, foram desenvolvidas armas aprimoradas feitas com pedra, madeira, marfim e osso. Para proteção do corpo ao frio intenso, foram inventadas roupas de pele, conhecidas e adotadas no ocidente posteriormente. São as parcas e os anoraks. Os mocassins e botas feitos de pele animal eram apropriados para proteger os pés em ambiente gelado. Para a proteção dos olhos contra a forte irradiação luminosa, as culturas esquimós inventaram óculos especiais. As habitações provisórias nos deslocamentos em busca de pescados e caça eram feitas com blocos de gelo. Tratava-se dos iglus.
Mas as culturas esquimós não se limitam a esses equipamentos para viver no gelo. Elas também desenvolveram a cerâmica. Pode-se perguntar de onde provinha a argila em ambiente gelado. Deve-se considerar que, no círculo polar artigo, existem estações. O verão pode ser curto e brando, mas derrete grande parte do gelo e deixa expostos solos de onde se pode obter argila para a fabricação de objetos cerâmicos; pedra para a fabricação de utensílios e construção arquitetônica; e madeira obtida nos bosques frios.
A cultura Ipiutak (também esquimó ou inuit), por exemplo, construiu aldeias. Uma delas causaria inveja a qualquer cidade das primeiras civilizações euroasiáticas. Estima-se que ela contasse com 800 casas distribuídas em cinco largas avenidas. Nela, foram encontrados objetos que sugerem uma ligação direta com os citas das estepes da Ásia central e da Sibéria. Acredita-se que essa cultura, no mar de Bering, tenha mantido contatos comerciais íntimos com a civilização chinesa. Uma cidade com 800 casas é indício de uma grande população. Essa cidade situava-se na zona costeira e devia ser habitada no verão, quando se praticavam a pesca e a caça marinhas. No inverno, elas eram fechadas, com seus habitantes construindo acampamentos provisórios para a caça da foca, da morsa e do caribu.
O mais surpreendente foi o encontro de objetos de ferro nas culturas esquimós próximas à Ásia, sugerindo contatos com a China e com a Coreia. Havia a prática piedosa de eliminação dos idosos por um filho. Não se pode classificar essa eliminação como parricídio. Ela tinha caráter ritual. Há vários indícios de culto religioso elaborado, com centros cerimoniais e cemitérios. Certos achados sugerem estratificação social.

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