O miolo do filme mostra um casal feliz com um filho pequeno. Ele é um cientista empenhado numa experiência revolucionária: desintegrar corpos físicos e biológicos num lugar para reintegrá-los noutro. Se desse certo, a experiência representaria um fantástico avanço em termos de meio de transporte. Ela é uma típica esposa dos anos 1950: bela, fiel, dedicada ao lar, amorosa. Acompanha as pesquisas do marido de longe e cuida bem do filho. Alerta quanto aos perigos da pesquisa, embora não a compreenda bem.
Certo dia, o marido a leva ao laboratório para que ela assista a uma experiência. Ele vai teletransportar um objeto de uma cabine para outra. Foi um sucesso. Mas não tanto com um gato, que se desintegra e não se reintegra. Seus miados são ouvidos no espaço. Por fim, o marido se torna cobaia de si mesmo. Ao se teletransportar, uma mosca entra na cabine sem ser vista. Ao se reintegrar, ele sai com a cabeça e uma pata da mosca, e esta sai com sua cabeça. Ele revela o resultado à esposa e lhe pede que procure a mosca rapidamente para efetuar a troca a fim de ter sua humanidade recuperada. Os gritos da mulher ao ver o marido transformado são típicos da época. As artistas deveriam saber gritar.
Tanto ela quanto o filho passaram perto da mosca da cabeça branca, mas a perderam. Não resta à esposa senão atender à súplica do marido: matá-lo antes que ele se torne uma ameaça às pessoas. Nem seu cunhado (Vincent Price) nem o inspetor acreditam em história tão absurda. Ela será condenada à morte possivelmente. Mas a verdade aparece no momento final, com a localização da mosca pedindo socorro ao cair numa teia de aranha e ser morta pelo investigador. Se a esposa assassinou o marido-mosca, o delegado assassinou uma mosca-humana. Ambos são assassinos. O fim do filme é rápido, como acontecia nos filmes daquele tempo.
“A mosca da cabeça branca”tem direção de Kurt Neumann e é estrelado por Vincent Price (François Delambre), David Hedison (André Delambre) e Patricia Owens (Hélène Delambre). Na época, foi um filme de bastante sucesso. Hoje, exemplifica bem um filme B, embora não saibamos caracterizar esta classificação. O êxito de bilheteria foi estrondoso e motivou continuação típica de uma franquia atual. O segundo filme da trilogia — “O monstro de mil olhos” (Return of the fly) — foi lançado em 1959. Dirigido por Edward Bernds, o centro das atenções agora é o filho de André Delambre, Philippe Delambre (Brett Halsey). Vincent Price é o único do primeiro elenco A permanecer no segundo filme, que apelou bastante para os resultados das experiência de teletransporte, pois elas representaram o sucesso do primeiro filme. Se a primeira película foi filmada em cores, a segunda foi em preto-e-branco.
O terceiro filme da saga é “A maldição da mosca”, dirigido por Don Sharp e lançado em 1965. Agora, não apenas o filho de André Delambre, como também os dos netos, continuam tentando criar um meio de transporte rápido e seguro para a humanidade. O filme começa com uma cena antológica: uma vidraça se espatifa em mil pedaços, e os cacos se espalham em câmara lenta. Da janela sai uma mulher em trajes íntimos, que foge também em câmara lenta. Ela será encontrada seminua por um dos netos de Delambre e rapidamente se casará com ele.
Aos poucos, a mulher evadida de um clínica para tratamento de doentes mentais descobre as experiências de seu marido e sogro e seus resultados. Entre a Inglaterra e o Canadá, pessoas são transportadas e sofrem mutilações. Da trilogia, este é o filme mais pálido, destoando dos dois primeiros. Na década de 1980, David Cronenberg, com sua originalidade, refilmará o primeiro da trilogia, criando a mais asquerosa das criaturas do cinema. Ele terá continuação logo depois. Mas aí já é outra história.