Soriano é demitido da Desportiva e afastado do futebol por 30 dias após agressão a bandeirinha mulher
12/04/2022 16:30 - Atualizado em 27/04/2022 17:37
Agressão aconteceu neste sábado
Agressão aconteceu neste sábado / Foto: Reprodução/TVE
Com passagens marcantes por Campos Atlético e Americano, além de trabalhos em outros clubes do Norte Fluminense, o técnico campista Rafael Soriano repercutiu nacionalmente no último domingo (10) devido a um fato negativo. Até então treinador da Desportiva Ferroviária, eliminada nas quartas de final do Campeonato Capixaba, Soriano deu uma cabeçada na bandeirinha Marcielly Netto ao final do primeiro tempo da partida de volta contra o Nova Venécia. Ele foi demitido horas depois pela Desportiva, que repudiou a atitude, e está suspenso do futebol por um mês, em punição preventiva aplicada pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Espírito Santo (TJD-ES), que ainda o julgará.
— A Desportiva Ferroviária vem a público informar que repudia toda e qualquer tipo de violência, seja física, verbal, moral ou emocional, principalmente contra mulheres, e nos solidarizamos com a assistente de arbitragem Marcielly Netto, nos colocando à disposição para aquilo que for necessário — diz a nota oficial publicada no próprio domingo.
Na segunda-feira (11), o ex-clube de Soriano informou ter tentado contato telefônico com Marcielly Netto para se desculpar, oferecer apoio e se colocar à disposição, mas que não foi atendido.
— Entendemos o momento, respeitamos o espaço da vítima e ficaremos no aguardo do retorno. Reiteramos nosso compromisso em auxiliar naquilo que for preciso. O clube oferecerá, também, assistência psicológica, profissional, e desenvolverá ações para o combate a qualquer tipo de violência contra a mulher dentro e fora dos estádios — diz o comunicado.
A cabeçada ocorreu após o árbitro Arthur Rabello encerrar o primeiro tempo, com o jogo de volta empatado em 1 a 1. Soriano reclamava com a arbitragem dentro do campo e foi expulso após agredir a auxiliar, que instantaneamente levou a mão ao rosto, enquanto o treinador foi retirado de perto da profissional pelo outro bandeirinha da partida. O Nova Venécia, que já tinha 3 a 1 no placar agregado, fez mais dois gols no segundo tempo e venceu também o segundo jogo, totalizando 5 a 1.
Em poucos minutos, a agressão foi noticiada em sites como “O Globo”, “GE”, “Placar”, “UOL”, “TNT Sports”, “Terra”, Forum e outros, além de ser criticada por personalidades de renome no meio esportivo, como o youtuber Bolívia Zika, a comentarista Ana Thaís Matos, do SporTV e da TV Globo; e o repórter Renan Moura, das rádios Globo e CBN. Clubes como Flamengo, Santos, CSA e o Nova Venécia emitiram posicionamentos de repúdio. A agressão foi exibida em programas nacionais como “Troca de Passes”, do SporTV, “Fantástico” e “Jornal Nacional”, da Globo.
A Folha tentou contato por telefone com Rafael Soriano, sem êxito.
 
Advogada enxerga provas suficientes para condenação
A advogada campista Kelly Vitter enfatiza que agressões e/ou intimidações a mulheres não podem mais ser aceitas, inclusive em ambientes esportivos, onde a presença masculina é consideravelmente superior.
— Esse tipo de comportamento não é e nem pode ser tolerado. É inaceitável que homens se utilizem da violência, seja ela física, verbal, moral ou outras mais, para para provar que são machos, viris e superiores às mulheres. Se o treinador foi capaz de agir dessa forma em um ambiente público e televisionado, o que será capaz de fazer em um ambiente privado e sozinho com uma mulher? — questiona Kelly.
Ela ressalta que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de casos de violência contra mulheres. No caso do ex-treinador da Ferroviária, a advogada acredita que existe conjunto probatório suficiente para uma eventual condenação, contendo a palavra da vítima, que registrou boletim de ocorrência; o vídeo e as testemunhas.
— Além do desligamento do clube e da suspensão pelo prazo de 30 dias, que pode ser prorrogado para 180 dias pelo TJD-ES, o técnico poderá ter algumas medidas protetivas aplicadas a ele, objetivando garantir a integridade física da vítima, como, por exemplo, não se aproximar da mesma e ficar proibido de frequentar alguns lugares; a obrigação de frequentar centro de recuperação e acompanhamento psicossocial, entre outras. Além disso, poderá ser aplicada a pena de detenção de três meses a quatro anos pela lesão corporal praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino — detalha Kelly Vitter, que considera o combate à violência contra mulheres um dever de toda a sociedade. — Não basta apenas punir. É preciso também educar e conscientizar os meninos, homens e agressores — pontua.
Atleta de futebol amador nas equipes femininas Panteras FC e Fla Campos, a meio-campista Karina Soares espera uma punição exemplar:
— É impossível ver o que aconteceu com a bandeirinha e não ficar indignada. Para mim, esse treinador deveria ser preso. Nós, mulheres, somos uma fortaleza diária para não sermos oprimidas ou até mesmo intimidadas, em qualquer área. No futebol, é descarado e sem comparação. Porém, continuamos e vamos lutar até que a igualdade seja reconhecida e respeitada. Um acontecimento desse não pode passar despercebido e tratado como somente uma atitude antidesportiva. Isso foi um crime.

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