Documentário sobre tatuadoras de Campos será lançado nesta quinta
Matheus Berriel - Atualizado em 08/03/2022 18:15
Quatro tatuadoras foram entrevistadas no filme
Quatro tatuadoras foram entrevistadas no filme / Fotos: Reprodução
Dois dias após o Dia Internacional da Mulher (8), será lançado nesta quinta-feira (10) o documentário “Tatuadoras.ink”, às 19h, no Museu Histórico de Campos. Dirigido por Zé Renato Dias, o filme conta em 31 minutos a trajetória de quatro tatuadoras da planície goitacá, de diferentes idades e vivências, até se estabelecerem e reconhecerem como profissão o que era (e é) visto por muitos apenas como hobby.
— Antes de serem depoimentos de quatro tatuadoras, são depoimentos de quatro mulheres. Fiquei muito satisfeito com o que a gente conseguiu fazer. O principal fator é encorajar as mulheres que queiram enveredar pelo ramo da tatuagem, mas não só, como também pelo ramo da arte — afirma Zé Renato Dias.
A coordenadora do Museu Histórico, Graziela Escocard, e a atriz Laís Lino foram as responsáveis por entrevistar as tatuadoras Maressa Almeida, Laisa Mariano, Aryah Barbosa e Marry Alves. Todo o trabalho foi analisado pela consultora de gênero Marusa Bocafoli.
— Embora tenha sido dirigido e editado por homens, o documentário consegue passar a força do feminino. A gente tomou a cautela de colocar duas mulheres para entrevistá-las e de submeter o material a uma consultora de gênero. Foi um cuidado para fazer uma coisa sensível, respeitosa, e acho que o resultado final foi satisfatório por isso — enfatiza o diretor de “Tatuadoras.ink”, que viveu a sua primeira experiência no ramo audiovisual.
Editor e um dos roteiristas do documentário, junto a Zé Renato, João Vitor Pessanha foi o único homem presente no momento das entrevistas. A produção contou com equipamentos do próprio João e do diretor, bem como câmera e drone de uma agência de marketing parceira. Também houve apoio de uma cutelaria e autorização da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima para realizar as gravações no Museu Histórico, onde foram filmados todos os depoimentos.
— Estávamos ansiosos para ver o projeto tomando forma. Então, ainda em 2021, iniciamos o processo de importação e sincronia dos arquivos. Depois do ano novo, começamos a estruturar o projeto, o que levou alguns meses. Somando o tempo total de edição, foram cerca de quatro mese — detalha João Vitor Pessanha. A ficha técnica conta ainda com produção gráfica de Maycon Agostinho Lima.
Campista de 27 anos, oito deles no mercado da tatuagem, a entrevistada Marry Alves enxerga no documentário uma oportunidade de incentivar meninas que desejam ser tatuadoras a não desistirem do sonho, apesar dos julgamentos com que podem ter que lidar.
— Gostei bastante de fazer parte do documentário, ainda mais por ser voltado para mulheres desse ramo. Acho que vai influenciar muito para que outras mulheres se sintam estimuladas a trabalhar com a arte — comenta Marry.
Natural de Muriaé, em Minas Gerais, Ariane (Aryah) Barbosa é outra personagem do documentário. Ela chegou há Campos em 2011, tendo feito parte da primeira turma de engenharia ambiental do Instituto Federal Fluminense (IFF), e há cinco anos está inserida no mercado das tattoos.
— Foi muito importante e emocionante fazer parte deste documentário, pelo reconhecimento das mulheres e por todo o nosso enfrentamento diário para alcançarmos nosso espaço numa sociedade tão machista e patriarcal. Esse documentário representa que estou no caminho certo e que é possível realizar nossos sonhos, por mais difícil e tardio que seja — comenta Aryah, de 30 anos.
Mais nova das tatuadoras entrevistadas, Maressa Almeida tem 24 anos e é campista. Logo no primeiro dos seus atuais cinco anos de profissão, ela tornou-se a primeira tatuadora profissional de Campos a receber um prêmio, ficando com o segundo lugar da categoria iniciante num evento realizado em Vila Velha, no Espírito Santo. Depois, vieram dois títulos, nas categorias old school e neo tradicional, respectivamente, em convenções on-line sediadas em São Paulo/SP e Rio das Ostras/RJ. Algumas das suas experiências são relatadas no filme.
— Participar deste documentário foi um grande privilégio para mim, por poder eternizar a minha história não só na tattoo, mas também na história de Campos. E foi também de grande representatividade, pois não fazia ideia de que minhas amigas de trabalho também passaram pelas dificuldades que eu passei quando iniciei e passo até hoje. Foi muito legal me conectar e reconectar com essas meninas, pois, de certa forma, me senti acolhida e sei que não estou sozinha nessa grande estrada — afirma Maressa Almeida.
Assim como Maressa, a tatuadora Laisa Mariano, de 31 anos, também já recebeu um prêmio pelo exercício da profissão. Formada em design gráfico pelo IFF e natural de São João da Barra, mas residente em Campos há quatro anos, ela foi segunda colocada na categoria blackwork da 1ª National Tatoo League, evento on-line voltado a tatuadores de todo o Brasil.
— Começar a tatuar é acreditar em si mesma e apostar uma ficha que você nem tem. Muitas vezes, quem está começando acaba desanimando por não ter grana para comprar um material. Desanima também por falta de informação e principalmente por ter uma visão de que tatuadora não é uma profissão. Acho que esse documentário vai despertar e reforçar que é possível, sim. Mostra que todas nós tivemos e temos dificuldades, mas resistimos e estamos trilhando os nossos caminhos — ressalta Laisa, que começou a tatuar há 14 anos, atuando profissionalmente nos últimos quatro. — Estou imensamente grata por contar a minha história, registrar a minha luta e as dificuldades, para que eu nunca me esqueça de onde vim, de onde consegui sair. A sensação é de dever cumprido. Consegui registrar a minha história além da pele — finaliza ela.

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