Câmara retorna com divisão maior
Rodrigo Silveira
A Câmara de Campos retorna do recesso parlamentar oficialmente na terça-feira (15), quando será realizada a primeira sessão ordinária de 2022. Mas quem anda quebrando a cabeça com o retorno dos trabalhos do Legislativo é o prefeito Wladimir Garotinho (PSD), que tenta assegurar a maioria na base aliada para garantir sua governabilidade. Com pouco mais de um ano à frente do Executivo, esse não tem sido um trabalho simples para o grupo governista, que chegou a contar com 23 dos 25 vereadores no início da legislatura e agora faz as contas para tentar garantir a maioria simples de 12 cadeiras.
Se esse jogo de xadrez já era delicado para o Executivo, ficou ainda mais preocupante depois do desembarque de Maicon Cruz (PSC) da base. Durante o período de recesso, o ex-vereador garotista Thiago Virgílio criticou Maicon por ter cargos no governo e se declarar independente para a população, e teve aval do vereador licenciado e atual secretário de Governo, Juninho Virgílio — primo do “pitbull rosa”. Thiago chegou a usar xingamentos para mandar o recado. “Independente de c* é r***! Que independente você é? Recebeu ‘apoio’ do nosso grupo na sua campanha. Agora cospe no prato que comeu. Seus ‘amiguinhos’ tudo (sic) empregados no governo municipal e você quer dizer que é independente? As ‘costas quentes’ que você tem dentro do grupo é o presidente da Câmara, Fábio Ribeiro. Então você entrega os cargos no Executivo e coloca aí no Legislativo”.
O vereador – ligado à Educação e crítico do secretário responsável pela pasta, Marcelo Feres – anunciou que as pessoas ligadas a ele pediriam exoneração dos cargos indicados no governo, o que selou sua saída da base governista. Com isso, oposição e o chamado grupo independente possuem juntos pelo menos 11 vereadores. Apenas um a menos do necessário para alcançar a maioria.
E do lado governista, alguns parlamentares ainda são incógnitas. Contando com o presidente Fábio Ribeiro (PSD), o grupo possui hoje 11 vereadores considerados mais fiéis. No entanto, Fábio só vota em caso de empate e para ter a maioria, Thiago Rangel (Pros) e Marcione da Farmácia (DEM) são considerados estratégicos nesta conta.
Rangel chegou a ensaiar um racha com Wladimir durante as polêmicas discussões sobre o projeto que previa reajustes no Código Tributário e que não acabou sequer votado. Mesmo assim, Thiago conseguiu emplacar a nomeação de pessoas ligadas a ele na Empresa Municipal de Habitação (Emahab) e voltou ao grupo, por ora.
Thiago Rangel é pré-candidato a deputado estadual e o ano eleitoral também pode mexer com as peças. O secretário estadual de Governo Rodrigo Bacellar (SD) tem se consolidado como principal articulador da oposição a Wladimir, mesmo que os dois andem debaixo do guarda-chuva do governador Cláudio Castro. E neste cenário, o nome do vereador Marcione da Farmácia (DEM) se tornou decisivo e ao mesmo tempo uma incógnita. Ele foi eleito pelo grupo de Bacellar, mas tem indicados no governo e no frigir dos ovos das votações mais importantes no último ano, esteve com Wladimir. Mas a influência de Rodrigo e do partido podem mudar o panorama e virar o jogo na Câmara? A resposta será dada a partir desta terça-feira.
De “ameaçados” a maior bancada em Campos
Os vereadores Bruno Vianna e Nildo Cardoso, eleitos pelo PSL, e Marcione da Farmácia e Rogério Matosos, que conquistaram os mandatos pelo DEM, tiveram na semana passada uma decisão favorável na Justiça Eleitoral, que negou o pedido de cassação deles por fraude à cota de gênero no pleito de 2020, popularmente conhecida como candidaturas “laranjas” ou “fantasmas”. Agora, com oficialização do União Brasil, a partir da fusão com o DEM e o PSL, eles passam a integrar a maior bancada da Câmara de Campos, com o mesmo número de parlamentares do PSD, partido do prefeito Wladimir Garotinho. Contudo, fatores ligados ao pleito deste ano podem acabar com a soberania, abrindo a possibilidade, inclusive, de reforço de alguma outra legenda de oposição no legislativo campista.
A tendência é que o União Brasil abrigue parte do clã Garotinho, incluindo o ex-governador Anthony Garotinho e a filha Clarissa Garotinho (Pros), deputada federal. Essa movimentação já seria suficiente para esvaziar o UB em Campos, já que os integrantes da nova legenda e os da família estão em lados opostos na política local. Em entrevistas recentes ao Folha no Ar, da Folha FM 98,3, Nildo e Matoso afirmaram que não ficam na mesma legenda do político da Lapa. “Ele entra por uma porta e eu saio pela outra”, resumiu Matoso.
E não é a única mudança relacionada ao pleito de 2022. Também ao Folha no Ar, o presidente da Câmara de Campos, Fábio Ribeiro (PSD), falou que Bruno Vianna pode ingressar no seu partido para disputar uma das 70 cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Fábio é o presidente municipal da sigla que tem o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, como líder estadual. Bruno admitiu a possibilidade de filiação ao PSD, mas sem refletir necessariamente no apoio à base do prefeito em Campos.
— Existe, sim, uma possibilidade de a gente ir para o PSD, até pela boa relação que tenho construído com o presidente estadual, que é o prefeito do Rio, Eduardo Paes. A gente vai estar entendendo a questão partidária, onde vai ser mais viável para nós. Mas, em relação a Campos, em relação ao nosso trabalho, no nosso mandado de vereador a gente vai estar buscando sempre o melhor, tendo a nossa independência — afirmou em entrevista na festa de Santa Amaro, no dia 15 de janeiro.
Marcione ainda não comentou sobre seu posicionamento partidária a partir da criação do UB.

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