Interessante como o filme “O último duelo” flerta com “Os duelistas”, o primeiro longa de Ridley Scott. Mesmo que aqui o filme aborde temas mais abrangentes e atuais.
Apesar de trazer pequenas batalhas, o filme é focado nas relações de poder dentro da realeza e na rixa crescente entre Carrouges (Matt Damon) e Le Gris (Adam Driver), que ganha seu ápice com a chegada de Marguerite (Jodie Comer). Esta, por sua vez, se torna um “elemento” dentro dessa disputa e tem no estupro o ato derradeiro de toda a questão.
Baseado no livro de Eric Jager e com roteiro de Matt Damon, Ben Affleck e Nicole Holofcener (os dois primeiros atuam no filme), o longa é dividido em três capítulos, cada um deles trazendo um diferente ponto de vista da mesma história. Uma costura narrativa interessante, que monta um pequeno quebra-cabeça, mas acaba se repetindo, um problema inevitável nesse tipo de proposta.
Abordando a sociedade machista e patriarcal, que via as mulheres como propriedade, o filme trata os protagonistas sem tentar humanizá-los, decisão acertada em um universo imoral, onde toda decisão é motivada por interesses e egos.
O foco central da história dialoga diretamente com temas muito atuais, e, mesmo que a situação venha melhorando (lentamente), a situação da mulher dentro da sociedade ainda tem elementos assustadoramente semelhantes, comprovando a relevância do longa.
Com boas atuações, o filme é o retorno de Ridley Scott à boa forma. Um grande diretor, mas que, principalmente na última década, vinha realizando trabalhos bem irregulares, tendo aqui um trabalho mais consistente.
Com um desfecho interessante, onde a honra e a religião se misturam e se confundem, o filme ainda se permite uma última e desnecessária cena, que traz resposta para uma questão desimportante, que não acrescenta nada, buscando validar o seu desfecho. Coisas de Hollywood.