Em resumo, o roteiro de Louis Vittes para o filme “Casei-me com um monstro do espaço sideral”, de 1958, é o seguinte: num dos muitos planetas do Universo, a população de mulheres morre por alguma doença. Sem elas, a raça está condenada a desaparecer quando os homens morrerem de velhice. É preciso perpetuar a espécie desse planeta encontrando mulheres de outro. O escolhido é a Terra. Em 1954, algo parecido, mas oposto, aconteceu em “A garota diabólica de marte”. Depois de uma guerra entre os sexos, as mulheres venceram, e os homens sobreviventes não eram suficientes para fecundar as mulheres vencedoras. Então, uma mulher veio obter esperma na Terra, mas não apenas o líquido, senão também o fabricante.
No caso desse segundo filme, presume-se que os habitantes dominantes em Marte eram da mesma espécie que a dominante na Terra. Em “Casei-me com um monstro...” (“I Married a Monster from Outer Space”), dirigido por Gene Fowler Jr, os habitantes do planeta muito distante eram de outra espécie. Portanto, seu espermatozoide não fertilizava óvulos de terráqueas.
Primeiro, eles têm de dominar corpos masculinos para não levantar suspeita. Assim, na véspera de se casar, depois de uma despedida de solteiro, o bom Bill (Tom Tryon) cai numa armadilha. Pensando encontrar um homem ferido ou morto na estrada deserta em que trafegava com seu carro, ele para a fim de prestar socorro. Então, um ser envolto em fumaça domina seu corpo. Invasores de corpos representam um tema explorado em “Vampiros de almas” e que continuará a ser explorado posteriormente. Porém, enquanto o filme “Vampiros de almas” é uma metáfora ao macarthismo, “Casei-me” trabalha com o velho tema de ETs, um dos preferidos na década de 1950.
E a apaixonada Marge (Gloria Talbott) casa-se com um monstro sem desconfiar de nada no primeiro momento. Mas não demorou muito para perceber os primeiros sinais. Os seres extraterrestres são muito frios, e ela estava acostumada com um noivo muito carinhoso. Escreve para a mãe queixando-se. Vai ao médico saber por que não engravidava. Não era problema seu, disse-lhe o médico. Aos poucos, os corpos masculinos vão sendo invadidos. Os ETs esforçam-se para desenvolver espermatozoides e sentimentos humanos. Mas a lindinha Marge descobre tudo quando o marido escapa de casa para se encontrar com o chefe numa nave escondida no mato.
Ela procura ajuda, mas todo homem que encontra já está dominando. Finalmente, percebe que seu médico ainda é humano e que pode ajudá-la recrutando os poucos humanos ilesos. Os ETs têm um ponto fraco: são imediatamente reconhecidos por cães. Vencidos sem muita dificuldade pelos humanos, a operação Terra tem de ser abortada; e todos os humanos aprisionados, como se fossem sacos vazios pendurados em gancho de açougue, voltam ao normal. Final feliz na pequena cidade dos Estados Unidos. Monstros, como King-Kong, procuram as grandes cidades. Perigos que devem ser disfarçados começam nas pequenas.
A fotografia em preto-e-branco de Haskell B. Boggs revela-se ótima. Considerado filme B nos seus 80 minutos, “Casei-me com um monstro do espaço sidereal” tornou-se um cult que encanta.