Um dos mais ativos vulcões da Itália é o Stromboli. Ele se localiza no sul do país, perto de Messina. O vulcão fica no mar. Suas frequentes erupções formaram uma ilha que tem o seu nome. O lugar é árido, pedregoso, bastante desnudo. Mesmo assim, existem núcleos populacionais na ilha, como San Vincenzo , Scari, San Bartolo, Ficogrande, Piscità e Ginostra. A população de todos eles não chega a 100 habitantes no inverno, mas alcança até 4 mil no verão. Nas poucas terras agricultáveis, os habitantes plantam azeitona, figo e malvasia (uva odorífera e doce). Mas o sustentáculo da economia é a pesca marinha. O vulcão é o principal fator limitante do povoamento e da economia. Um fungo também atacou as plantações. Mas, como de longa data acredito, o mais árido ambiente é capaz de sustentar pessoas, se os seus limites forem respeitados. Vários moradores de ilha migraram para os Estados Unidos e Austrália. Vários voltaram.
Foi esse lugar ermo e pobre que Roberto Rossellini escolheu para ambientar, em 1949, o filme “Stromboli terra di Dio” (“Stromboli terra de Deus”), o primeiro protagonizado pela sua mulher Ingrid Bergman. O filme ilustra de maneira exemplar a estética neorrealista italiana. A pobreza da população, a escassez de alimentos e água doce. As mulheres castigadas pela vida, vestindo preto. Os homens rudes e machistas. O domínio da Igreja Católica, ainda bastante conservadora. No meio desse cenário, a bela sueca Ingrid Bergman, atriz já consagrada nos Estados Unidos que havia merecido seu primeiro Oscar em 1944.
Casou-se em 1937 e teve uma filha. Em 1944, divorciou-se num caso rumoroso para se casar com Rosselini, com quem teve três filhos. Ao mesmo tempo que fiel ao neorrealismo, “Stromboli” parece prenunciar a vida do novo casal. Terminada a Segunda Guerra, uma moça norte-europeia que se tornara órfã vive numa casa de moças na Itália. Ela deseja transferir-se para a Argentina. Não tendo documentação adequada, ela acaba aceitando se casar com um pescador de Stromboli que fora convocado para lutar na guerra. A moça logo estranha o ambiente da ilha e confessa ao marido que o lugar não estava à sua altura. Começam os dissabores. As mulheres a consideravam muito livre. Os homens achavam que ela era “fácil”. A pobreza, a brutalidade das pessoas em relação aos animais, o tradicionalismo católico, os perigos causados por uma erupção do vulcão, a falta de privacidade, levam-na a se decidir por deixar o marido. Já grávida, ela foge de casa em direção a Ginostra, onde poderá encontrar um barco a motor que a leve ao continente. Para tanto, ela tem de subir o morro do vulcão por uma trilha perigosíssima.
É a vida de Ingrid. Ela deixa Hollywood já reconhecida como grande atriz para viver num país empobrecido pela guerra e para se casar com um cineasta talentoso, mas que trabalhava com poucos recursos. De certa forma, ela é a jovem e bela mulher que deixa os seu país para se casar com um pescador. Aos poucos, percebendo que não tomara uma decisão acertada, ela foge da ilha. Ingrid e Rosselini separaram-se em 1957. O filme pressagia o futuro do cineasta e da atriz, que voltou a brilhar em Hollywood.