Cinema - Encontro de gerações
- Atualizado em 25/01/2022 17:25
Personagens do filme 'Pânico'
Personagens do filme 'Pânico' / Divulgação
Criado por Kevin Williamson, “Pânico” chegou aos cinemas em 1996 e se tornou um dos grandes sucessos daquele ano. Comandado pelo grande Wes Craven, o longa trazia todos os elementos de um típico slasher, um gênero desgastado pelo excesso de obras de péssima qualidade, mas que ganhou em “Pânico” uma nova roupagem, na mistura de comédia ácida, repleta de metalinguagens, ao trazer um assassino mascarado (Ghostface) que fazia um jogo mortal com suas vítimas envolvendo detalhes de clássicos do slasher.
Com o sucesso, a franquia ganhou quatro continuações, que sempre trouxeram essa metalinguagem ao transformar os acontecimentos do primeiro filme em uma franquia cinematográfica dentro do próprio universo dos filmes, situação que permitiu ao longa dialogar com os diferentes tipos de relação do público com o cinema.
Com o quinto capítulo da franquia, essa relação não é diferente. A definição desse novo capítulo é debatida dentro do próprio filme, numa mistura de reboot com continuação, que é definida como um reboot legado, ao reverenciar o primeiro filme da franquia usando seus elementos como base, ao mesmo tempo em que atualiza diversas questões, construindo uma grande homenagem, que funciona como uma passagem de bastão.
A trama não é muito diferente de todos os filmes anteriores. Passados 25 anos dos assassinatos que marcaram a cidade de Woodsboro, um novo assassino, usando a icônica máscara do Ghostface, volta a matar pessoas, fazendo com que segredos do passado se tornem públicos, já que o novo assassino ataca pessoas que direta ou indiretamente estão ligadas a pessoas envolvidas nos crimes do primeiro longa.
Esse é o primeiro filme da franquia que não é dirigido por Wes Craven (falecido em 2015), e tem na dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (diretos do bom “Casamento sangrento”) os responsáveis por seguir o legado de Craven. O filme funciona como uma grande homenagem aos longas anteriores, principalmente o original. Repleto de fan service (não só ligado à obra, mas ao gênero e alguns de seus diretores), o filme atualiza os clichês do gênero de forma autoconsciente, característica presente em todo o longa.
Apesar de todo o material de divulgação ser focado no retorno do trio principal da franquia, o fato é que os protagonistas da nova história são novos personagens e, por mais que eles pareçam uma atualização mais jovem dos personagens do longa de 96, o roteiro da dupla James Vanderbilt e Guy Busick consegue torná-los interessantes, fazendo com que a pouca (e injustificada) participação do trio principal funcione apenas para atrair o público e para agradar o fãs mais presos ao passado, o que acaba funcionando como outra metalinguagem dentro das discussões da obra.
O roteiro padece de algumas conveniências (inevitáveis dentro do gênero) e tem um desfecho razoavelmente previsível, mas o grande diferencial são as questões que ele levanta na relação do público com o cinema, principalmente com o de terror. Desde a cena de abertura, o filme já traz o assassino e a vítima debatendo sobre a questão dos clássicos e da nova fase do terror (pós-terror), uma questão amplamente debatida pelos fãs do gênero nas redes sociais, prova de como os realizadores souberam trazer as características da franquia para o contexto atual sem perder a mão no humor e na autorreferência.
O novo capítulo da franquia “Pânico” não traz nada de verdadeiramente novo, mas consegue ser mais do que uma continuação desnecessária. Muito desse êxito vem do entendimento de seus realizadores do que é a franquia, da paixão pelo material e pela forma encontrada para atualizá-la, fazendo do quinto capítulo uma homenagem e um recomeço.

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