No hemisfério sul, o pico de calor foi alcançado em 5.100 anos antes do presente. O mar subiu e invadiu as terras costeiras baixas. Entre os rios Guaxindiba e Macaé, existia uma área baixa de tabuleiros banhada pelo rio Paraíba do Sul. O mar invadiu seu leito e submergiu essa área baixa de tabuleiros até Itereré e cercanias da lagoa de Cima. Essa antiga baixada se transformou numa área oceânica rasa. O mesmo aconteceu com a Região dos Lagos. Enquanto erguiam-se as primeiras civilizações na Ásia e no Egito, a planície dos Goytacazes não existia. Sua área estava submersa. Campos não poderia ser construída. Muito menos São João da Barra.
O pequeno período quente do hemisfério norte, entre 900 e 1.300 d.C. representou um estímulo à economia. Áreas úmidas secaram. O clima favoreceu a expansão da atividade agropastoril. Os excedentes da produção permitiram que um grupo os transformasse em mercadoria, criando assim o que conhecemos por capitalismo ou modo de produção capitalista. Os sistemas de produção anteriores produziam bens para o consumo, permitindo que o excedente alimentasse um pequeno grupo de comerciantes que ficavam na dependência de uma economia voltada para atender às necessidades básicas da população, mesmo havendo distribuição desigual de bens.
A novidade trazida pelo capitalismo foi transformar bem de uso em bem de troca. Em outras palavras, o que era necessário para a alimentação e para o uso passou a ser vendido para gerar lucro. Como a produção para uso se mostrou limitada, os comerciantes começaram a montar sistemas de produção e criaram a indústria moderna. Aos poucos, tanto a produção das terras quanto a das manufaturas foram subordinadas aos interesses do lucro.
A Europa ocidental dependia muito de produtos orientais que eram vendidos por comerciantes muçulmanos a venezianos, que, por sua vez, vendiam aos comerciantes europeus, que finalmente vendiam aos consumidores. O preço final só era acessível, praticamente, a pessoas ricas. Mas, se os europeus conseguissem dominar os centros fornecedores da Ásia diretamente, eliminando os intermediários, os produtos ficariam mais baratos para compra e para venda.
A busca de lucros e de acumulação de riquezas impulsionou Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra a buscarem outro caminho entre Europa ocidental e Ásia para apropriação das fontes asiáticas de produção. Foi o que ficou conhecido como expansão marítima da Europa ocidental, movimento que começou no início do século XV com a conquista progressiva das costas atlânticas da África e com a chegada à Índia. Esse processo levou os europeus a chegarem à América do Norte, com Cristóvão Colombo, em 1492, e à América do Sul, com Pedro Álvares Cabral, em 1500. Começava o processo de integração do mundo pelo que hoje se conhece por globalização.
Enquanto os europeus do ocidente se lançavam ao mar, os povos americanos se organizavam em grupos que viviam da coleta, pesca e caça, grupos que já praticavam a agricultura e produziam artefatos cerâmicos, e grupos que desenvolveram cidades, metalurgia e impérios, como os maias, os incas e os astecas. Mas a economia desses povos era de subsistência, para o uso, embora existisse um comércio que nunca dominou a economia agropastoril.
A economia capitalista foi construindo a globalização progressivamente, dominando outros continentes além do europeu, escravizando povos africanos para trabalharem na América do Norte e do Sul. Catequizaram os povos pioneiros da América, da África, da Ásia e da Oceania para transformá-los em europeus fora da Europa e para otimizar a economia capitalista em todo o planeta em prol do centro do mundo, considerado pelos europeus como sendo a Europa ocidental. Houve povos de outros continentes que já haviam desenvolvido culturas avançadas e estruturadas, como Japão, China, Índia, mundo islâmico, incas e astecas. A resistência desses povos a uma cultura estranha era maior, mas eles acabaram sucumbindo ao capitalismo. Não se pode afirmar que a Europa uniformizou o mundo, mas deu a ele uma unidade básica para que todas áreas se integrassem na globalização mantendo o mínimo de suas características originais.
O historiador britânico Arnold Toynbee escreveu na década de 1950: “O que será destacado como acontecimento eminente do nosso tempo por historiadores futuros, talvez daqui a séculos, olhando para a primeira metade do século XX e tentando ver suas atividades e experiências naquela proporção justa que por vezes a perspectiva no tempo revela? Não creio que seja qualquer desses acontecimentos sensacionais, trágicos ou catastróficos da economia ou política, que ocupam as manchetes dos jornais e o campo das nossas mentes; nem guerras, revoluções, massacres, deportações, fome, fartura ou inflação, mas algo de que temos apenas vaga consciência e que seria difícil transformarmos em manchetes. Historiadores futuros dirão, penso eu, que o grande acontecimento do século XX foi o impacto da civilização ocidental sobre todas as outras sociedades vivas no mundo daquela época.”
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