Cinema - Marte ou morte?
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 17/01/2022 22:25
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Banner do filme ENTITY_apos_ENTITYEle! O terror que vem do espaçoENTITY_apos_ENTITY / Divulgação
Marte faz jus à fama de perigoso, principalmente com os filmes da década de 1950. Lá só existe o lado sombrio da Terra: guerras que destruíram a civilização, habitantes vegetais hostis, monstros etc. De lá, também partem invasores que ameaçam nosso planeta. Na verdade, Marte é uma grande metáfora: tudo de ruim que pode acontecer à Terra é ambientado no planeta vermelho.
Em “Ele! O terror que vem do espaço” (“It! the terror from beyond space”), lançado em 1958 com roteiro de Jerome Bixby e direção de Edward L. Cahn, a primeira missão exploratória ao planeta perde toda a tripulação, exceto seu capitão. A operação seguinte, seis meses depois da primeira, não esperava encontrar ninguém, mas o comandante do primeiro voo sobreviveu. A suspeita é a de que ele tenha matado seus companheiros. Mas, por quê? Havia comida para todos por seis meses. Embora escasso, o ar era respirável. Ele é resgatado. O comandante da nova expedição adianta por rádio que havia um sobrevivente suspeito de assassinato múltiplo. Na Terra, um representante do governo dos Estados Unidos repassa a notícia para a imprensa. O sobrevivente, com toda a certeza, será condenado à morte.
Mas, na viagem de retorno, começam a acontecer coisas estranhas. A nave é bastante grande em relação às dos filmes anteriores. A tripulação é numerosa, incluindo duas mulheres que cuidam dos serviços domésticos e de saúde. A mulher está se emancipando, mas ainda com limitações. Mulher é mulher. A nave navega tranquila num espaço de estúdio. Então, ruídos são ouvidos pelo comandante resgatado.
Enquanto se discute se ele é culpado ou não, aparece um monstro com três dedos nas mãos e nos pés, na ponta dos quais existem compridas e afiadas garras. Como entrou na nave? Deve ter aproveitado algum compartimento aberto antes da partida. Quem é ele? Talvez o sobrevivente de uma civilização decadente. Recado para nós: este pode ser o nosso futuro. No meio das especulações, o mostro começa a fazer vítimas. Não é bom ser homem em filmes de ficção científica porque os primeiros a morrer são do gênero masculino. As mulheres e as crianças costumam ser poupadas.
Uma explosão dentro de um avião pode causar um rombo na fuselagem e descompressão mortal para os passageiros. Em filmes, não. Os tripulantes atiram com pistolas e fuzis no monstro, lançam granadas, bombas de gás, choques elétricos, fogo. Tudo inútil. O monstro resiste. Ele mataria toda a tripulação não fosse a inteligência humana, que sempre encontra uma solução para derrotar os inimigos. O monstro precisa de ar tanto quanto os humanos. Privar a nave dele significa a morte de todos. Mas, se todos se protegerem com trajes espaciais providos de cápsulas de oxigênio, o ataque é viável.
Enfim, o aparentemente invencível monstro de garras e dentes afiados morre. O comandante da nave anterior é absolvido antes mesmo do pouso na Terra. Pelo rádio, os astronautas relatam à base o drama vivido por todos. O representante do governo convoca a imprensa novamente para anunciar em poucas palavras o que aconteceu numa frase que não tem em inglês o mesmo efeito sonoro que em português: “MARTE É MORTE”.
Desde o início, a entrada do mostro na nave se assemelha a “Alien: o oitavo passageiro”, de Ridley Scott. A semelhança confirma que Scott se baseou nesse filme para criar um dos mais assustadores filmes de ficção científica. O mostro do segundo é muito mais mortal que o do primeiro. Comenta-se que ele parece uma fantasia de carnaval. Era o que se podia fazer. Melhor que ele só com um orçamento que permitisse contratar um Ray Harryhausen. Mas, contextualizemos: nos anos de 1950, aquele monstro canhestro assustava.

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