A terceira encarnação do Homem-Aranha nos cinemas surgiu com algumas diferenças, para o bem e para o mal. Sem recontar sua origem (desnecessário, pois todos já conhecem), sabíamos muito pouco sobre sua história pregressa.
Surgindo como um Vingador, o personagem funcionava melhor como alívio cômico do grupo do que em suas aventuras solo, uma característica que vai contra a natureza do personagem.
Introduzido em um filme do Capitão América, o Peter Parker mais jovem surgiu como um herói inexperiente, que teve Tony Stark como seu mentor e, por que não dizer, financiador. Após a morte do Vingador dourado, ficou essa lacuna na jornada do personagem. No pavoroso “Longe de casa”, Happy e o próprio Mistério flertaram com o posto, que seguiu vago até aqui.
Partindo do mesmo ponto onde terminou o longa anterior, é natural que o filme gire em função do conflito criado pela revelação da identidade do herói. Tal qual como nos quadrinhos, a solução foi resolver com magia, trazendo o Doutor Estranho (outro potencial mentor) como a solução dos problemas. Mas, a magia saiu pela culatra. (Nos quadrinhos, o pacto foi com Mefisto. Sim, Peter Parker tem um pacto com o demônio).
Foi a desculpa esfarrapada para misturar todo e qualquer personagem de todas as versões cinematográficas do amigão da vizinhança. O primeiro ato do filme remete muito aos longas anteriores, mesmo que o retorno do Dr. Octopus e a cena da ponte sejam interessantes.
*SPOILERS nos próximos parágrafos
O filme só engrena quando a Tia May apresenta a Peter as questões morais fundamentais do personagem e. Conforme as coisas saem do controle (Willem Defoe rouba a cena), a Tia May tragicamente se torna o Tio Ben desse universo, e Peter é apresentado ao seu lema.
O terceiro ato é repleto de conveniências, mas é inegável o poder da catarse do encontro dos três heróis do cinema. Todas as referências (até os recorrentes problemas na coluna de Maguire) foram introduzidas, as piadas e a interação entre eles foram construídas de forma muito interessante, tornando os Parkers mais experientes como os mentores finais da construção definitiva da nova versão do Homem-Aranha.
Além de permitir um “desfecho” para a versão de Andrew Garfield, “Homem-Aranha: Sem volta para casa” é a construção definitiva do Peter Parker do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) como herói. Abraçando a natureza trágica do personagem, o filme funciona como uma grande homenagem para o personagem e para todo o universo cinematográfico do herói.
É claro que, em mais uma decisão conveniente e preguiçosa, o filme encerra com um retcon que ao menos cria um novo status para o herói, trazendo os elementos que fizeram do amigão da vizinhança o personagem pé no chão, querido por todos nós.