Baseado no livro de Sara Gay Forden, o novo filme do diretor Ridley Scott conta a história de ascensão e queda da família Gucci. Dona de uma das mais tradicionais e valiosas marcas de roupas do mundo, a família tem uma história controversa, repleta de segredos, cobiça, traições e muito dinheiro.
Começando no início da década de 1980, em Milão, o roteiro de Becky Johnson e Roberto Bentivegna parte do encontro de Patrizia Regianni (Lady Gaga), moça de família mais humilde, e do herdeiro da família Gucci, Maurizio (Adam Driver), trabalhando desde o primeiro encontro características das personalidades dos dois.
Patrizia trabalha no negócio do pai. Sua primeira cena já demonstra o contraste: ela, bem arrumada, praticamente desfilando em meio a um local de trabalho cheio de poeira e exclusivamente masculino. Já Maurizio é o rapaz tímido, quase ingênuo, que transita pelas ruas de bicicleta, elemento que já explicita o seu desejo por liberdade e a pouca preocupação com o luxo.
Esse primeiro ato funciona como um filme tradicional de romance, em que o casal apaixonado enfrenta as dificuldades e principalmente o preconceito na figura de Rodolfo Gucci (Jeremy Irons). É um momento que também apresenta o quinteto principal e estabelece a natureza das relações entre eles.
Regina vê em Aldo (Al Pacino) o elo que pode aproximar seu marido da família, levando-a para um estilo de vida totalmente diferente do que ela sempre teve. Maurizio praticamente renega a família, querendo se distanciar de tudo o que a família representa.
Somos apresentados a esse universo junto com a personagem, toda a extravagância e os exageros que pouco a pouco começam a fazer parte também do figurino da protagonista e de todo o filme. Scott trabalha o universo da moda com todos os exageros e maneirismos. Os personagens são quase caricaturas, com sotaques carregados e estilos extravagantes, criando um ar novelesco, acentuado pela natureza da história.
Mesclando um tom sério com esses exageros, o filme carece de foco. Essa mistura de gêneros e estilos prejudica uma narrativa convencional (e até previsível), que tem graves problemas para desenvolver seus personagens e seus relacionamentos.
O casal protagonista sofre mudanças de personalidade bruscas, que não encontram respaldo no roteiro, tornando surpreendente e inverossímil algumas atitudes tomadas, contrariando tudo o que eles representaram até ali. A mudança de protagonista no terceiro ato desvirtua a história, mudando o foco em um momento importante, que acaba enfraquecendo o clímax.
Merece destaque o elenco, Al Pacino consegue divertir (mesmo que não fique claro se essa era a intenção dos realizadores), Jeremy Irons consegue criar uma persona detestável com bem pouco, e Jared Leto (irreconhecível, em um incrível trabalho de maquiagem) interpreta Aldo como se ele tivesse algum distúrbio psicológico, fazendo dele um completo idiota.
Mas, o longa é da dupla principal, Lady Gaga é uma atriz talentosa que, mais uma vez, demonstra uma entrega impressionante. Sua interpretação de Patrizia é um dos melhores elementos do longa. Uma pena que seu trabalho seja sabotado pelo roteiro. Já Adam Driver mantém sua segurança habitual, imprimindo carisma em um personagem problemático, que funciona muito pelo trabalho sempre de alto nível de um dos melhores e mais versáteis atores da sua geração.
“Casa Gucci” é um filme cansativo, que não justifica sua longa duração. Mesmo com alguns bons momentos, o filme nunca empolga em sua mistura de estilos e gêneros, num roteiro deficiente em seu desenvolvimento que torna o épico novelesco de Ridley Scott uma experiência frustrante.